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Entrevista

“Chávez não faz revolução, mas uma destruição”

 | Eitan Abramovich/AFP
(Foto: Eitan Abramovich/AFP)

Uma das opositoras mais ferrenhas de Hugo Chávez, a deputada Maria Corina Machado faz planos para enfrentá-lo diretamente nas urnas no dia 7 de outubro de 2012 e se tornar a primeira mulher presidente da Venezuela. Ela foi a deputada mais votada nas eleições legislativas de 2010. Seu próximo desafio será as eleições primárias, que devem se realizar em fevereiro do ano que vem, organizadas pelos opositores do presidente pa­­ra escolher um candidato único. Maria Corina não é a favorita, mas tem crescido nas pesquisas e atingiu 12%, de acordo com o levantamento do instituto Hinterlaces, divulgado em agosto.

A pré-candidata conversou por telefone com a reportagem da Ga­­zeta do Povo.

A senhora vai mesmo ser candidata nas eleições primárias em 2012?

Sim, sou candidata para as primárias. Sou a única candidata independente e a única mulher.

O presidente Chávez tem condições de prosseguir na Presidência do país?

Chávez teve 13 anos, mais de US$ 1 bilhão, teve o respaldo dos venezuelanos e o controle dos poderes públicos. E nesse período há uma crise total nos serviços pú­­blicos de luz e de água, sem falar do desemprego e da situação precária dos nossos trabalhadores.

E mesmo com toda essa situação que a senhora está descrevendo, Chávez segue com 50% de aprovação em pesquisas. Como se ex­­plica essa popularidade?

Essas são as mesmas pesquisas que no ano passado diziam que era im­­possível que a Unidad [oposição] derrotasse o chavismo nas eleições parlamentares. As mesmas pesquisas, sondagens que não somente escondem interesses que eu não quero qualificar, mas que desconhecem a realidade de um povo aterrorizado, pesquisas que o go­­verno manipula.

O presidente chama de revolução as mudanças que ele está fa­­zendo no país. Como a senhora classifica essas mudanças?

É uma destruição. O objetivo é permanecer indefinidamente no po­­der. E a forma como ele faz é submetendo, colocando de joelhos os poderes públicos, primeiro o sistema judiciário, depois as forças ar­­madas, os meios de comunicação, o parlamento, destruindo os sindicatos.

Na sua opinião, qual o pior problema da Venezuela hoje?

Foram 150 mil homicídios em 12 anos. E uma impunidade que chega ao ponto de que para nove em cada dez homicídios não há punição alguma. Portanto, na Vene­­zue­­la o maior negócio, o mais lu­­crativo, é o delito. Este governo não terá vontade de enfrentar a violência, para erradicá-la porque, além de tudo, tem um discurso de ódio. Minha missão, minha prioridade para o meu país, da qual eu vou me encarregar desde o primeiro dia, do primeiro minuto, será dar proteção à família venezuelana e segurança a cada cidadão. Se pode fazer se houver vontade política. Se pode fazer porque há re­­cursos. O que ocorre é que há um governo que tem utilizado os re­­cursos dos venezuelanos para a compra de armas de guerra. São US$ 100 bilhões em compra de tanques, submarinos, aviões e fu­­zis. Eu quero saber onde está o inimigo?

E se a senhora chegar à Presi­­dên­­cia, quais seriam as mudanças pa­­ra aumentar a segurança no país?

Um policial ganha 1,5 mil bolívares, que é equivalente a US$ 300. E há policiais que têm de comprar do seu próprio salário suas botas, seus uniformes e se a motocicleta que ele usa para o trabalho falhar, ele tem de pagar do seu próprio dinheiro. As polícias na Venezuela estão destruídas. Então é preciso duplicar os salários, duplicar!

Além da violência, quais os outros problemas graves na Venezuela?

Evidentemente, a crise econômica e o custo de vida. A política desse governo tem sido destruir a propriedade privada, arrebatar, ex­­propriar empresas. É um governo que tem se dedicado a destruir a capacidade dos grandes, médios e pequenos. Porque tem tirado propriedade de pequenos hotéis, postos de gasolina, estacionamentos.

E o que poderia ser feito para re­­verter essa situação?

Deve haver incentivo para empresários, pequenos e microempresário nacionais e estrangeiros para que haja prosperidade e autonomia. Isso não exclui e temos de re­­conhecer que há 4,5 milhões de venezuelanos que vivem na po­­breza, 3 milhões deles passam fo­­me. Portanto, queremos cortar o ciclo de pais pobres que têm filhos pobres e netos pobres.

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