Atendendo a uma ordem do presidente Hugo Chávez, a autoridade venezuelana de regulação de tevês a cabo e por satélite suspendeu ontem a transmissão da emissora Radio Caracas Televisión Internacional (RCTV), abertamente antigoverno. A decisão, condenada pelos Estados Unidos e pela oposição, soma-se a uma longa lista de ataques à imprensa por parte de Chávez e acirra tensões políticas no país, que está envolto numa crise energética e econômica.
A Comissão Nacional de Telecomunicações da Venezuela (Conatel) cortou à meia noite de domingo o sinal da RCTV, alvo principal de uma medida que atingiu outras três emissoras privadas. O governo alega que a emissora descumpriu a nova legislação do setor que entrou em vigor na semana passada, obrigando todos os canais com ao menos 70% do conteúdo produzido na Venezuela a transmitirem programas oficiais sempre que as autoridades pedirem. No sábado, a emissora oposicionista se recusou a transmitir um discurso dirigido por Chávez a simpatizantes.
A imprensa oficial afirma que as quatro emissoras visadas pelo corte poderão retomar as transmissões desde que se comprometam a respeitar os termos da legislação em vigor.
Um dos canais mais populares na Venezuela, a RCTV havia migrado para a tevê a cabo em 2007, quando o governo decidiu não renovar a licença do canal para transmitir na tevê aberta. A razão alegada por Chávez foi o suposto apoio da RCTV ao golpe de Estado que tentou, em vão, derrubá-lo em 2002.
Crise
A Venezuela registrou em 2009 uma queda de 2,9% do PIB, na primeira recessão em cinco anos. O país sofre também com um racionamento de energia, que obrigou o governo a reduzir o horário das repartições públicas e do funcionamento de shopping centers. Chávez pediu que os venezuelanos tomassem banho de três minutos e usassem lanternas para ir ao banho à noite como formas de diminuir o consumo. Para os críticos, a culpa é dos atrasos nos investimentos.
No sábado, dezenas de milhares de venezuelanos foram para as ruas de Caracas culpando Chávez pelos crescentes blecautes, racionamento de água, aumento da criminalidade e outros problemas que estão dificultando de forma expressiva a rotina diária dos cidadãos.
Acenando bandeiras da Venezuela, os manifestantes acusaram Chávez de levar o já politicamente dividido país da América do Sul para dentro de uma grave crise à medida que ele está acelerando seu plano em transformar o país em um estado socialista.Os simpatizantes de Chávez também foram para as ruas defender o líder socialista, que enfrenta muitas críticas e uma crescente oposição antes da próxima eleição do Congresso. Cerca de 5 mil policiais e tropas da Guarda Nacional foram colocados na rota dos protestantes para evitar que os rivais se enfrentassem durante o dia. Não houve registros de prisões ou violência.