Estágio do câncer
Médicos avaliam como grave o estado de saúde do presidente
Agência O Globo
A despeito do mistério em torno do câncer de Hugo Chávez, os médicos são unânimes em afirmar: o caso, ao que tudo indica, é grave. Isto porque tumores na área da pélvis, como o do presidente venezuelano, têm mais probabilidade de recorrência do que outros. E recidivas com intervalo de menos de um ano são um indício de sua agressividade.
Segundo Yihad Khalek, do Serviço Oncológico Hospitalar do Instituto Venezuelano de Seguros Sociais (IVSS), a recidiva de Chávez pode ter entre suas causas o tamanho do tumor retirado e a região em que o câncer estava.
"O objetivo da cirurgia é extrair o tumor com uma margem de tecido são. Mas há áreas onde isso não é possível, por causa de sua localização ou por haver elementos nobres (ao redor)", explica o médico.
Para Javier Soteldo Clavier, segundo vice-presidente da Sociedade Anticancerosa da Venezuela, o surgimento de outro tumor em menos de um ano significa uma recaída rápida para qualquer paciente.
Chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital do Câncer do Inca, no Rio, Daniel Herchenhorn concorda:
"Ter havido recorrência, e menos de seis meses após o término da quimioterapia, é sinal não só da agressividade da doença mas também de sua pouca sensibilidade à quimioterapia realizada", diz.
Presidente da Fundação do Câncer e da Academia Nacional de Medicina, Marcos Moraes desconfia de um tumor primário do intestino grosso: "É provável é que o quadro atual seja de uma metástase hepática. Uma outra hipótese é que a metástase já existisse quando foi feito o diagnóstico da doença e não tenha respondido ao tratamento quimioterápico".
A Assembleia Nacional da Venezuela aprovou ontem por unanimidade uma licença de mais de cinco dias para que o presidente Hugo Chávez inicie tratamento médico em Cuba sem desligar-se da Presidência.
Na última terça, Chávez anunciou que uma "lesão" havia surgido na mesma região onde um tumor cancerígeno foi retirado em junho do ano passado. Na quarta-feira, ele admitiu que a nova lesão possa ser um câncer.
"Não temos certeza, ninguém pode dizer que essa nova lesão seja maligna, no entanto, há probabilidades altas, porque está no mesmo lugar onde estava o outro. Por isso é preciso extraí-la", disse ele ao canal estatal VTV.
Chávez anunciou que viajará na tarde de hoje para Cuba para passar por uma cirurgia "necessária e impostergável". O procedimento deve ser realizado na próxima segunda ou terça.
"Amanhã (hoje) parto para outra batalha, na qual, guerrilheiros do tempo que somos, venceremos", afirmou. "Voltarei como sempre volto, com mais energia, com mais entusiasmo, com mais alegria e decisão de tomar meu posto na vanguarda."
A licença dada pela Assembleia é uma formalidade exigida pela Constituição. As regras estipulam que o vice tome o lugar do presidente por ausências de até 90 dias algo rejeitado pelo vice Elías Jaua, para quem Chávez "está com plenas faculdades para estar a cargo do governo".
Ao anunciar a viagem, Chávez disse que ficará em Cuba "durante vários dias", mas que estará "todos os dias em contato" com o gabinete e que viajará com um "grupo de comando" de aliados.
Embora os governistas contem com a maioria na Assembleia de 165 deputados, o bloco opositor também aprovou a viagem por motivos humanitários.
O porta-voz do bloco opositor, deputado Alfonso Marquina, disse que seus colegas aprovavam a viagem porque desejam a pronta recuperação do chefe de Estado.
Oncologistas dizem que a ausência de Chávez poderá ser de semanas se o mandatário tiver que ser submetido a um tratamento de radioterapia.
Chávez negou boatos de que o câncer se espalhou mais agressivamente, mas também afirmou que não sabe se a nova lesão encontrada pelos médicos é maligna.
Eleição
A viagem de Chávez ocorre em período de plena campanha eleitoral para as eleições presidenciais de outubro, quando o presidente tentará se reeleger para mais um mandato.
Recentemente, os partidos da oposição lançaram como candidato presidencial o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles.
O Conselho Nacional Eleitoral rejeitou um adiamento das eleições presidenciais de outubro, nas quais Chávez tenta a reeleição.