Ele é considerado o cérebro por trás da campanha de Mauricio Macri e hoje, depois do surpreendente resultado do primeiro turno realizado domingo (25), um dos principais artífices do maior revés eleitoral já sofrido pelo kirchnerismo.
Aos 38 anos, Marcos Peña comanda a campanha presidencial de Macri e o que gosta de chamar “uma nova forma de fazer política”.
Ninguém esperava este resultado...
Acho que é fruto, principalmente, de um voto de esperança. Talvez a surpresa pela diferença em relação ao que vinham dando as pesquisas tenha a ver com o medo de muitas pessoas de revelarem seu verdadeiro voto. Mas, sobretudo, acho que houve uma boa resposta à proposta de ter coragem de mudar. Nas últimas semanas, nossa campanha foi muito consistente, transmitimos uma mensagem positiva. A Frente para a Vitória foi ficando sem entusiasmo, isso era muito claro nas ruas.
Sem entusiasmo do próprio kirchnerismo?
Sim, porque Scioli não foi um construtor de nada. Nós tivemos mais de 800 mil voluntários em todo o país, foi a maior incorporação de setores sociais à política desde 1983. Em toda a Argentina, o nível de participação foi comovente.
Essa foi a aposta, estar cara a cara com os eleitores?
Acreditamos nas pessoas, e as pessoas acreditaram em nós. Sobretudo acreditaram que nosso compromisso era real e não uma estratégia de campanha. Mostramos uma nova forma de fazer política. Não copiamos nenhuma receita, percorremos um caminho novo, inclusive para a América Latina.
Quem são os eleitores de Macri?
Representamos principalmente as classes médias urbanas, que na Argentina é a grande maioria. Mas, ao mesmo tempo, foi uma combinação mista. Em todas as províncias, militam juntos em Mudemos radicais, peronistas e gente de outros partidos.
Peronistas?
Sim, muitos peronistas desencantados e com a sensação de que o kirchnerismo não os representa. Ganhamos a prefeitura de municípios (da Grande Buenos Aires) tradicionalmente peronistas, como Quilmes, Lanús e Tres de Febrero. Esse é um fenômeno novo, que nos permitirá construir novas maiorias. Hoje, Mudemos é uma força nacional consolidada.
Serão necessários votos de Sergio Massa para vencer...
Esta eleição foi sempre entre mudança e continuidade, e hoje 60% dos argentinos querem mudança. Nosso desafio será convocar todos os eleitores, mesmo os que votaram em Scioli sem estar convencidos.
Não estão negociando com Massa?
Conversas temos com todos, o tempo todo. Existem muitos canais de diálogo, e nós acreditamos no diálogo como cultura política.
Scioli foi prejudicado pelo kirchnerismo?
Sempre dissemos que Scioli escolheu como candidatos dirigentes que demonstravam que ele representava uma clara continuidade do kirchnerismo, como seu vice, Carlos Zannini (secretário legal e técnico do governo de Cristina). São decisões que ele tomou, e essas são as consequências.
Macri adotou um discurso “paz a amor”, bem diferente de Scioli...
O discurso de Scioli refletiu um kirchnerismo cada vez mais duro, nós o vimos zangado. Vamos continuar na mesma linha: quanto mais respaldo, mais humildade e grandeza.
Qual foi o segredo do sucesso?
A consistência de não vender algo que não somos e de confiar muito nas pessoas, mais do que nas estruturas de poder. Entender que o eleitor não tem intermediários, o eleitor quer um respeito maior e um vínculo mais direto.
Estamos vendo o fim do kirchnerismo?
Sinto que o kirchnerismo é um fenômeno de transição, pós-crise de 2001. Eles ocuparam essa primeira etapa, mas hoje estamos em condições de chegar ao poder. Somos o único partido que nasceu neste século e representamos algo novo na política. Cristina não é uma construtora, é uma líder forte, mas não constrói.
Este fenômeno poderia se expandir na região?
Não tenho dúvida que em todos os países existe a demanda de uma nova política. O desafio é gerar lideranças que sejam democráticas, republicanas e modernas, e não populismos mais fechados.
Qual é a essência da aliança Mudemos?
Nossa essência é a construção de algo contemporâneo, baseado em trabalhar para que as pessoas estejam melhor, mais do que ter um roteiro ideológico determinado e uma liderança messiânica. Estamos construindo um marco ideológico novo e não nos identificamos com pacotes ideológicos do passado.