O Brasil esteve em evidência na imprensa alemã nas últimas semanas, após a suspensão de repasses da Alemanha para projetos de proteção ambiental no Brasil. Publicações alemãs falam sobre meios de pressionar o governo brasileiro a conservar as florestas, incluindo por meio de sanções.
Na revista Der Spiegel, um artigo de opinião com o título "É hora de sanções contra o Brasil", publicado na sexta-feira (16), diz que a Amazônia "diz respeito a toda a humanidade" e defende sanções diplomáticas e econômicas contra o Brasil.
"O desenvolvimento do clima do mundo depende da preservação da floresta tropical. Portanto, não devemos deixar a decisão sobre o futuro desse ecossistema apenas para o presidente extremista de direita do Brasil, Jair Bolsonaro. A Europa não deve ficar de braços cruzados enquanto um cético da ciência, movido por preconceitos e pelo ódio, sacrifica vastas áreas de floresta em favor de pecuaristas e plantações de soja.
Chegou a hora de se pensar em sanções diplomáticas e econômicas contra o Brasil. Os produtos agrícolas brasileiros devem desaparecer dos supermercados da União Europeia se não for possível comprovar que foram produzidos em condições ambientalmente justas. Os poderosos grandes fazendeiros, que apoiam decisivamente Bolsonaro, devem sentir que sua atitude tem um preço."
"Como salvar a Amazônia"
Uma matéria do Frankfurter Allgemeine Zeitung publicada na terça-feira (20) diz que o presidente Bolsonaro "recusa conselhos e avisos" sobre como deve lidar com os cerca de 5,5 milhões de quilômetros quadrados de área florestal no Brasil.
"Ele quer promover o desenvolvimento econômico da Amazônia sem ser perturbado. Suas palavras caem em terreno fértil no país, revivendo um velho medo dos brasileiros de que a floresta tropical possa cair em mãos de uma potência estrangeira ou ser colocada sob administração internacional."
"Em Berlim, impera um sentimento de insegurança. É difícil saber com quais meios Bolsonaro pode ser convencido a mudar de atitude em relação ao tema Amazônia – se é que isso é possível. A mesma questão surge com relação ao acordo de livre comércio entre a UE e a cooperação sul-americana Mercosul. [...] Os europeus podem tornar a conservação da floresta tropical uma condição para diminuir tarifas? Ou será que isso teria o efeito exatamente oposto sobre Bolsonaro?"
"Atingir onde dói mais"
Na quarta-feira, 14, um artigo da colunista Alexandra Endres no jornal semanal Die Zeit fala sobre a suspensão pela Alemanha do repasse de verbas para a preservação da Amazônia e questiona: "Que diferença faz cortar o dinheiro para a conservação da floresta de um parceiro que não tem qualquer interesse em conservar florestas - e ainda responde à pressão pública com ostensiva teimosia, em vez de mostrar disposição em conversar?"
A autora diz ainda que talvez seja mais produtivo "atingir o Brasil num ponto que fere mais: os interesses econômicos de seus exportadores, como, por exemplo, fazendeiros, que vendem soja e carne bovina em larga escala para metade do mundo".
O artigo defende ainda que o acordo entre Mercosul e União Europeia tenha cláusulas mais rígidas sobre proteção climática e florestal.
"Se a UE deixar claro que importa apenas produtos de soja e carne bovina que comprovadamente foram produzidos sem prejudicar as florestas tropicais e que, de outra forma, impedirá as importações: esse seria um poderoso meio de pressão. Os agricultores brasileiros são - juntamente com os evangélicos e militares - importantes apoiadores de seu presidente. Jair Bolsonaro dificilmente pode se dar ao luxo de irritá-los."
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