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dois anos depois

Chile lembra terremoto de 2010 enquanto políticos debatem futuro do país

Igreja em Santiago, no Chile, destruída pelo terremoto de 2010 (à esquerda) e a mesma construção dois anos depois | Martin Bernetti/Hector Retamal/AFP
Igreja em Santiago, no Chile, destruída pelo terremoto de 2010 (à esquerda) e a mesma construção dois anos depois (Foto: Martin Bernetti/Hector Retamal/AFP)

Os chilenos lembraram nesta segunda-feira (27) moção o terremoto de 8,8 graus que há dois anos devastou a zona centro-sul do país, enquanto o gverno e a oposição continuam presos em um debate sobre o avanço da reconstrução e as responsabilidades políticas.

Às 3h34 no horário local, moradores de diversas localidades do Maule e Biobío, as regiões mais devastadas pelo terremoto e posterior tsunami que arrasou o litoral, se reuniram para lembrar as vítimas e expressar seu mal-estar pela lenta reconstrução das casas.

A catástrofe de 27 de fevereiro de 2010 deixou 525 mortos e 25 desaparecidos, 800 mil desabrigados e danos materiais quantificados em US$ 30 bilhões.

Em Constitución, a 370 quilômetros ao sudoeste de Santiago, na região do Maule, vários habitantes se reuniram para lembrar as 102 pessoas que morreram e as 10 que continuam desaparecidas.

Ali foi instalado um caminho de velas e foram nomeadas uma a uma as vítimas daquela fatídica madrugada.

O prefeito de Constitución, Hugo Tillería, criticou a lenta reconstrução de imóveis e disse que "as pessoas já estão absolutamente cansadas".

"A princípio se disse com clareza que teriam direito a subsídio os donos de imóveis, os inquilinos e os familiares", disse o prefeito à "Rádio Cooperativa", quando lamentou que essas ajudas quase não chegaram à população.

Em Dichato, na região de Biobío, que foi arrasada pelo tsunami, a tragédia foi lembrada com tristeza pela grande quantidade de pessoas que permanecem ainda em imóveis de emergência, disseram à Efe dirigentes do acampamento El Molino, a maior aldeia de desabrigados do país com mais de 2 mil pessoas.

Baralho

Em Concepción, a 515 quilômetros ao sul de Santiago, os moradores do edifício Alto Río, que desabou como um castelo de cartas de baralho e cuja imagem foi transformada em símbolo da catástrofe, escutaram a narração de diversos testemunhos e lançaram balões brancos em lembrança dos mortos.

Na capital, o presidente Sebastián Piñera lembrou as vítimas durante a entrega de um colégio que foi reconstruído após o terremoto.

Em seu discurso, Piñera afirmou que os mortos dessa madrugada são "a perda mais dolorosa" que o terremoto deixou e a grande motivação do Governo para "reconstruir o país".

Piñera disse que países "muitíssimo mais ricos" como os Estados Unidos e o Japão também foram atingidos por catástrofes naturais e fixaram prazos de dez anos para a reconstrução.

"No Chile nos fixamos o prazo de quatro anos para reconstruir 100% do que foi destruído (...) É uma missão muito exigente e ambiciosa", manifestou.

Ele afirmou que o Governo conseguiu reconstruir e reparar dois terços dos edifícios e infraestruturas danificados pelo terremoto. "É algo objetivo, que pode ser demonstrado com números", disse.

O debate em torno do avanço destes trabalhos tornou o ambiente político tenso durante os últimos dias.

Em um relatório publicado recentemente, o Governo sustentou que os trabalhos mostram um progresso de 68% em nível global, embora em matéria de habitação o nível de cumprimento seja de 47%.

Estes dados foram refutados pela oposição, prefeitos e habitantes das regiões afetadas.

A Concertación, a coalizão opositora de centro-esquerda, entregou nesta segunda-feira seu próprio relatório, no qual sustenta que o avanço da reconstrução é de 29%, com apenas 11% de progresso no caso dos imóveis.

Segundo o documento, o Governo inflou seus números misturando obras terminadas com outras que ainda estão em execução e ao contabilizar como definitivas algumas casas entregues com caráter temporário.

"Houve falta de transparência de parte do Governo nos dados entregues", disse aos jornalistas o presidente do Partido Socialista, Osvaldo Andrade.

"Isto não é um assunto de números, mas de pessoas que vivem as consequências da catástrofe e não têm solução", acrescentou.

O caso teve novidades há algumas semanas no plano judicial, com a investigação sobre o fracassado alerta de tsunami após o terremoto, que coincidiu com os últimos dias do mandato da presidente Michelle Bachelet.

Por esse fracassado alerta, que foi emitido e retirado antes de ser comunicado à população, a Promotoria pediu um processo por suposta negligência a oito civis e militares, entre eles o então subsecretário chileno do Interior, Patrício Rosende.

Responsabilidade

Alguns ministros do atual governo conservador e dirigentes dos partidos parceiros pedem a Bachelet que assuma sua responsabilidade política no assunto.

A oposição, no entanto, criticou o que vê como uma tentativa de desprestigiar a ex-presidente, a principal carta eleitoral da Concertación para as eleições presidenciais do final de 2013.

O porta-voz do Governo, Andrés Chadwick, disse nesta segunda-feira que não é possível determinar a responsabilidade política direta de um presidente em uma catástrofe como a de 2010, mas considerou que "um Governo tem que assumir" que o Escritório Nacional de Emergência (Onemi) estava com "limitações muito sérias" para enfrentar uma tragédia.

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