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América do Sul

Chile realiza eleição presidencial decisiva com declínio de partidos tradicionais

Os candidatos à presidência do Chile, da esq. para a dir.: Gabriel Boric, José Antonio Kast, Yasna Provoste, Sebastián Sichel, Eduardo Artés e Marco Enríquez-Ominami, durante o último debate televisivo em Santiago, 15 de novembro (Foto: EFE/ Esteban Felix POOL)

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Dois anos após passar por sua mais grave crise social e política nas últimas três décadas, o Chile encara suas eleições mais importantes do século 21 no próximo domingo (21), em meio à elaboração de uma nova constituição, e com direito a um novo ingrediente acrescentado nas últimas semanas: os Pandora Papers e o cerco ao presidente Sebastián Piñera.

Piñera foi citado em uma investigação jornalística internacional por supostas irregularidades e conflitos de interesse na venda de um megaprojeto de mineração nas Ilhas Virgens Britânicas durante o seu primeiro mandato (2010-2014). Uma investigação sobre supostos crimes fiscais e suborno - que ainda está em andamento - foi aberta por procuradores, e a oposição de esquerda e centro-esquerda pressionou por um impeachment, o que foi rejeitado no Senado na noite de terça-feira.

Declínio de partidos tradicionais

Pela primeira vez na história da democracia no Chile, nenhum dos favoritos nas eleições presidenciais é das duas tradicionais coalizões de centro-esquerda e centro-direita que estiveram no poder em mais de 30 anos, desde a saída do ditador Augusto Pinochet (1990).

Embora haja desconfiança popular em relação às pesquisas de intenção de voto por causa de seus erros nas últimas eleições, quase todos concordam que o substituto do presidente Sebastián Piñera será de um partido com menos de cinco anos de experiência: Gabriel Boric, da esquerdista Frente Ampla, ou José Antonio Kast, do Partido Republicano, de direita.

Porém, não se pode considerar impossível que Yasna Provoste, do bloco Novo Pacto Social, ou Sebastián Sichel, do Chile Podemos Mais - as duas grandes coalizões que governaram o país após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e respectivamente conhecidas no início da transição democrática como Concertação e Aliança - consigam chegar ao segundo turno, em 19 de dezembro.

De qualquer forma, para Claudia Heiss, chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade do Chile, as coalizões tradicionais vivem um enfraquecimento há anos.

"O declínio delas é a crônica de uma morte anunciada", disse a professora e pesquisadora à Agência Efe.

"Abalos políticos"

A ascensão de Boric e Kast nestas eleições, as mais cruciais e de rumo mais incerto das últimas décadas, é um sinal do "colapso da política tradicional", disse Kenneth Bunker, diretor da empresa de pesquisas Tresquintos, à Efe.

"Não estar ligado a partidos tradicionais deu asas a esses candidatos", opinou.

Para ele, o "abalo político" começou com o novo sistema eleitoral, que passou a valer nas eleições de 2017 e mudou a lógica de binominal para proporcional.

Isso levou ao surgimento de novos partidos no Parlamento: naquele ano, a Frente Ampla conquistou 15 cadeiras, e sua candidata presidencial, Beatriz Sánchez, ficou em terceiro na disputa, com 20% dos votos.

Nas mesmas eleições, Kast, muitas vezes comparado ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro, ficou em quarto lugar, concorrendo como independente, com quase 8% dos votos.

Efeito da crise social

O declínio dos partidos tradicionais "foi consolidado com a chamada explosão social de 2019", um movimento pela igualdade que durou mais de um ano com grandes manifestações, disse Javier Sajuria, da universidade Queen Mary, de Londres.

"Esse foi o fim de qualquer remanescente de legitimidade que os partidos tinham, e muitos eleitores ficaram órfãos", afirmou ele à Efe.

Nas eleições constituintes de maio deste ano, a principal eleição após os protestos, essa tendência foi evidente: os pesos-pesados políticos independentes foram os mais votados, conseguindo 48 dos 155 assentos para redigir a nova Constituição.

Em direção a um modelo mais europeu

Para María Cristina Escudero, da Universidade do Chile, é "improvável que se trate de um colapso dos partidos tradicionais", mas sim uma reconfiguração do mapa político "em direção a um modelo mais europeu, onde coexistem antigas e novas formações".

Uma delas seria o Partido Republicano, de Kast. Fundado em 2019 como uma cisão radical da ala mais direitista da coligação de governo, a União Democrática Independente (UDI), ele surfou a onda da crescente crise migratória e violência no sul do país para conseguir apoios.

Do outro lado está a Frente Ampla, que surgiu em 2017 de forma semelhante ao partido espanhol Podemos e que governaria em coalizão com o Partido Comunista e outros grupos progressistas.

O chefe da Escola de Governo da Universidade de San Sebastián, Jaime Abedrapo, disse à Efe que nada está claro, porque essas são "as eleições mais incertas da democracia".

As pesquisas sugerem que existe um grande grupo de eleitores indecisos apesar da importância das eleições, nas quais será escolhido um presidente que terá que implementar as regras da nova Constituição e liderar um país imerso em uma grave crise social e alta inflação após a pandemia.

É provável que nenhum dos candidatos liquide a fatura no primeiro turno, tendo que disputar o segundo em 19 de dezembro, de acordo com a maioria das pesquisas.

Os favoritos terão que, além de convencer a grande massa de eleitores indecisos, se mostrar capazes de reverter a alta taxa de abstenção que é comum no país. Desde que a votação se tornou voluntária, nenhuma eleição presidencial jamais ultrapassou 50% de comparecimento, um limite que só foi alcançado no plebiscito para uma nova constituição, em 2018.

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