Setembro é um mês histórico para os chilenos. Foi em 11 de setembro de 1973 que Salvador Allende faleceu, em pleno curso do golpe de Estado dado por Augusto Pinochet. Foi também em setembro que o mesmo Allende venceu o primeiro turno das eleições que o levariam ao poder em 1970. E este ano, no próximo dia 18, o país celebrará o bicentenário da sua independência. Mas o que teria a comemorar uma nação que ainda se recupera de um forte terremoto e que acompanha atônita pela tevê as tristes notícias relacionadas aos 33 mineradores presos em uma jazida e que só devem ser libertados daqui a quatro meses? Muito. Essa é a resposta dada pelos próprios chilenos ouvidos durante a apuração desta reportagem.
Terremotos de grandes proporções na escala Richter não são necessariamente uma novidade no Chile. O país convive com o fenômeno há muito tempo e este não foi o maior desastre da história chilena. O maior terremoto a atingir o país no século 20, por exemplo, foi um tremor de magnitude 9.5 que praticamente dizimou a cidade de Valdívia em 1960, deixando 1.655 mortos. Sendo assim, a tragédia ocorrida em fevereiro apesar de toda a destruição não chegou a abalar os brios do povo chileno. Renascido dos escombros deixados pelo tremor, o país mostra ao mundo que está vivo ao registrar um crescimento de 6,5% do PIB no segundo trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2009. O melhor resultado para a série histórica em cinco anos.
E os números comprovam que o Chile conseguiu superar a primeira recessão enfrentada pelo país em mais de uma década. Para se ter ideia do significado desse resultado, no segundo trimestre de 2009, com base na mesma comparação feita agora em 2010, o PIB chileno havia sofrido retração de 1,5%. Na década de 1990, o crescimento médio anual do PIB chileno chegava a 8% e o país era considerado um exemplo econômico, político e social para toda a América Latina. Mas em 1999 o Chile teve o primeiro decrescimento do seu PIB em 15 anos. O país recuperou-se um pouco em 2000, mas continuou a apresentar resultados nada animadores durante os anos subsequentes.
Porém, uma outra tragédia que nada tem a ver com o momento político do Chile ou mesmo com os danos causados pelo terremoto acabou por se transformar em mais um motivo de preocupação para o presidente Sebastián Piñera. O desabamento de uma jazida de cobre e ouro no início do mês em San José, causou o confinamento, a 700 metros abaixo do solo, de 33 trabalhadores chilenos e um boliviano.
A informação de que os mineradores estão todos vivos divulgada no início da semana pela imprensa do país foi recebida com festa, tanto pela população quanto pelo presidente, que tem acompanhado de perto o trabalho das equipes de resgate.
"A notícia nos enche de alegria e de força. Sinto-me mais orgulhoso que nunca de ser chileno e de ser o presidente do Chile. Mais orgulhoso que nunca de nossa gente. Acho que não podíamos começar melhor nosso mês da pátria (setembro) e a celebração do Bicentenário", disse Piñera.