Há exatos dois anos, em maio de 2021, a população chilena elegeu uma assembleia constituinte para elaborar uma proposta de nova Carga Magna, numa eleição convocada após os chilenos, na esteira dos protestos de 2019 e 2020, manifestarem em plebiscito que queriam uma nova Constituição.
O grupo elaborou um texto considerado “excessivamente progressista”, que acabou rejeitado em referendo no ano passado.
Um novo processo constituinte teve início e no domingo (7), a esquerda, vitoriosa há dois anos, foi a grande derrotada na eleição para uma nova assembleia.
O Partido Republicano, legenda de direita de José Antonio Kast, derrotado pelo esquerdista Gabriel Boric na eleição presidencial de 2021, obteve 23 assentos na assembleia constituinte. A coalizão Chile Seguro, que reúne partidos de centro-direita e direita, obteve 11 cadeiras.
Logo, os conservadores terão maioria no colegiado. A coalizão governista Unidade para o Chile obteve apenas 16 assentos.
Os 50 constituintes tomarão posse em 7 de junho e vão elaborar uma proposta de nova Constituição, que será submetida a referendo em 17 de dezembro.
Um grupo de 24 especialistas nomeados pelo Parlamento chileno está elaborando um pré-texto que será apresentado no dia da posse para os constituintes, que a partir de então vão redigir a versão final a ser votada pela população chilena.
Assim como no referendo sobre a proposta anterior de nova Constituição, a eleição da nova assembleia foi considerada um plebiscito sobre o governo Boric, desgastado pela inflação, pela estagnação econômica e pela crise de segurança.
“O Chile derrotou um governo fracassado, que foi incapaz de enfrentar a crise de segurança, econômica e social”, disse Kast. “Os chilenos venceram a inércia, a apatia e a indiferença. Os chilenos foram às urnas para dar um sinal forte e claro do rumo que desejam para o nosso país.”
A secretária-geral do Partido Republicano, Ruth Hurtado, disse nesta segunda-feira (8) que a legenda pretende “impedir que a esquerda radical continue avançando na instalação de ideologias que só prejudicam nosso país”.
Ela destacou que o objetivo é manter a base da Constituição atual, promulgada durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), mas que sofreu mudanças depois da volta da democracia.
“Foi o que fez o nosso país crescer, que conseguiu reduzir a pobreza de 50% para 8%, que nos fez passar por esse progresso crescente que foi corroído pelo surto criminoso de 18 de outubro”, afirmou, numa referência ao dia de 2019 em que os grandes protestos começaram no Chile.
Em discurso, Boric admitiu que o processo constituinte anterior fracassou porque a esquerda não soube ouvir outros setores da sociedade chilena, e recomendou ao vitorioso de domingo que não siga o mesmo caminho.
“O processo anterior, devemos dizer, fracassou porque não soubemos ouvir uns aos outros entre aqueles que pensavam diferente. Quero convidar desde já o Partido Republicano a não cometer o mesmo erro que cometemos”, disse o presidente.
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