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O Chile se prepara para o plebiscito deste domingo (4) sobre a proposta de uma nova Constituição para o país.
Os mais de 3 mil pontos de votação começaram a receber as urnas na sexta-feira (2) à noite, assim como as cédulas em que os 15,1 milhões de eleitores chilenos terão que marcar na opção "Apruebo" (Aprovo) ou "Rechazo" (Rejeito), com relação ao novo texto.
Os centros eleitorais, que receberão a segurança de mais de 26 mil militares, funcionarão de 8h às 18h (horário de Brasília). No entanto, todos que estiverem na fila no momento do fechamento receberão autorização para votar após o horário.
"Está tudo em ordem e as Forças Armadas estão se mobilizando para assumir o controle dos locais de votação nas próximas horas, para que todas e todos tenhamos um bom processo", garantiu neste sábado (3) a ministra da Defesa, Maya Fernández, que é neta do ex-presidente chileno Salvador Allende, deposto pelo golpe militar que levou o ditador Augusto Pinochet ao poder, em 1973.
A integrante do governo percorreu, junto com outras autoridades, o Estádio Nacional, em Santiago, um dos maiores centros de votação do país, que poderá receber até 13 mil eleitores.
Boric deve fazer pronunciamento após divulgação do resultado
O resultado da votação será conhecido poucas horas após o fechamento das urnas. Há previsão de que o presidente do Chile, Gabriel Boric, faça um pronunciamento em rede nacional, independentemente da opção vencedora.
O chefe de governo, que é favorável à aprovação de uma nova Constituição, viajou ontem para a cidade natal dele, Punta Arenas, três mil quilômetros ao sul de Santiago, para poder votar logo no início da manhã e voltar em seguida ao Palácio La Moneda.
"Confio na sabedoria do povo do Chile", declarou o presidente.
A eventual rejeição do texto proposto fará com que seja mantida a atual Constituição, que é herdada do período Pinochet, embora tenha sido reformada parcialmente após a reabertura democrática.
Em caso de vitória do "Rechazo", o presidente chileno já anunciou que convocará um novo processo constituinte, que será cumprido com o mandato do plebiscito de outubro de 2020, em que quase 80% dos chilenos foram a favor de mudanças na Carta Magna.
Novo texto tem o dobro de artigos da atual Constituição do Chile
A atual Constituição é vista por parte da sociedade como a origem das desigualdades do país.
No entanto, reportagem publicada pela Gazeta do Povo apontou que o novo texto proposto, tipicamente latino-americano, pode trazer pobreza e corrupção.
Para acomodar dezenas de ideias à esquerda do espectro político, os constituintes chilenos escreveram um texto extenso, com 388 artigos. Isso é mais que o dobro do número de artigos da atual Constituição do país.
Em estudo publicado em 2014, dois especialistas em ciência política da Universidade de Michigan, George Tsebelis e Dominic J. Nardi Jr., alertaram que, ao contrário do defendido pelos constituintes chilenos, constituições mais extensas não representam necessariamente mais desenvolvimento e prosperidade.
Ao analisar as constituições de 32 nações integrantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e suas situações econômica e política, os pesquisadores concluíram que aquelas com cartas magnas mais longas eram mais pobres e mais corruptas.
O novo texto, redigido durante um ano por uma assembleia de tendência progressista e com paridade entre homens e mulheres, declara o Chile um "Estado social de direito".
Seus defensores, que se concentram na esquerda e parte do centro, afirmam que ajudará a tornar o país "mais justo", porque consagra um grupo de novos direitos sociais, a principal reivindicação apresentada na onda de protestos de 2019 no país.
Os opositores, por sua vez, estão na direita e em outra parte do centro e argumentam que se trata de um texto radical e que não une o país.
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