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Veja quem são os mineiros (parte 1) |
Veja quem são os mineiros (parte 1)| Foto:

"A gente só podia esperar"

Foz de Iguaçu - O drama dos mineiros chilenos faz o barrageiro, agora aposentado, Aníbal Barros lembrar dos tempos em que corria risco de soterramento na construção de usinas hidrelétricas. A segurança, recorda, com o tempo foi sendo aprimorada. "Quando comecei nessa profissão, não era como é hoje. Se acontecesse alguma coisa séria, um soterramento ou algo assim, a gente só podia esperar. Tinha os cuidados para prevenir e evitar algum problema. Mas, depois, sobreviver lá embaixo até um resgate era questão de sorte."

Na usina de Itaipu, Barros trabalhou por mais de três anos como operador de máquinas e encarregado de uma equipe de 127 homens. Aos operários cabia a tarefa de implodir e retirar lama e rocha de poços de seis metros de diâmetro que chegavam a 40 metros de profundidade sob o leito do Rio Paraná, onde se ergueu a barragem. "De segunda a sexta-feira, os turnos diários eram de 12 horas. E, em dois domingos do mês, eram de 24 horas. Até as refeições eram feitas ao lado das máquinas. No começo o medo é grande, mas depois a gente se acostuma", conta.

Durante o tempo que comandou os trabalhos, disse não ter levado muitos sustos. "Os operários que vi morrer ou que se machucaram não seguiram as orientações que a gente recebia." Ele conta em detalhes o susto que levou. "Estava no poço com uns técnicos. Um fiscal não sabia e autorizou a detonação. A roupa chegou a ficar chamuscada, mas foi só isso", relembra. Com o fim da obra, não há trabalho em profundidade na Itaipu similar ao que havia à época da construção. Esporadicamente, funcionários fazem apenas o trabalho de manutenção na barragem.

Fabiula Wurmeister e Denise Paro, da sucursal

  • Veja quem são os mineiros (parte 2)

A madrugada de ontem foi uma noitada para os chilenos no Brasil. É difícil achar quem não tenha ficado acordado pelo menos até a saída do primeiro mineiro, que ocorreu pouco após a meia-noite. Logo cedo, televisões ligadas para voltar a seguir o resgate.

"Um bom chileno precisa acompanhar", diz Eduardo Vila, chileno casado com uma curitibana e que trabalha como comerciá­­rio em Pomerode (SC). Ele ficou acordado até as 2h e religou a tevê às 6h30, para saber quantos ha­­viam saído.

"Estou informado minuto a minuto", confessa também o es­­tudante chileno Cristian Vigo­­re­­na, que mora em Curitiba.

Ele se envolveu ainda durante os preparativos para o resgate. Por estudar engenharia civil, pesquisou o tipo de solo da mina e se informou sobre a operação, que considera de ponta. "O Chile é um pais minerador, portanto está certo que tenha tecnologia avançada", diz.

Em São Paulo, a comunidade de quase 20 mil chilenos parou para assistir ao resgate, segundo o cônsul Aldo Famolaro. "Como todo mundo, estamos contentíssimos de ver o que está ocorrendo desde ontem, mas para nós, chilenos vivendo fora do Chile, foi uma emoção particular", disse o cônsul, que afirmou não ter dormido até ver o primeiro mineiro sendo retirado do túnel.

"Foi uma emoção particular ver a união de tantos chilenos e tantos amigos do Chile, sejam instituições, pessoas ou governos, que ajudaram a tornar possível esse pequeno grande milagre", afirmou.

Segundo ele, apesar de não haver um recenseamento recente, o governo chileno estima que até 30 mil chilenos vivam hoje no Brasil. A maioria chegou em meados da década de 70, quando o Chile vivia sob um governo autoritário.

Rua deserta

A mãe de Eduardo Vila, Isabel Ili­­garai, que voltou a morar em San­­tiago após escala de quase 20 anos em Curitiba, conta que fi­­cou acor­­dada até às 1h30, acordou por volta das 4h para checar quantos homens já ha­­viam sido resgatados (eram se­­te), e às 7h30 vol­­tou ao acompanhamento. Quan­­do a reportagem ligou, por volta das 16h (San­­tiago e Brasília têm atualmente o mesmo horário), lá estava ela, em frente à tevê.

"Estamos todos emocionados", contou. "Para se ter uma ideia, lá pelas 22h30 eu e meu marido tiramos o som da tevê por um mo­­mento e, apesar de morarmos muito perto de uma avenida movimentada, não se escutava nada. Não tinha ninguém na rua", conta.

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