Trabalhadores limpam escombros após terremoto que atingiu região central do Chile| Foto: RODRIGO GARRIDO/REUTERS

O paulista Luciano Bonini jantava em um restaurante quando sentiu o primeiro chacoalho, ainda leve, do terremoto que atingiu o Chile na noite desta quarta-feira (16). Clientes e garçons trocaram olhares, como quem diz “vamos correr? Não vamos correr?”. Quem vive no país andino está sempre entre a rotina de tremores de terra e o nunca se acostumar à sensação de pânico.

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O tremor desta quarta foi um o mais forte do ano no país -- e o sexto da história. Atingiu a magnitude de 8,3 e teve como epicentro uma faixa marítima próxima à região central do Chile, onde fica a capital Santiago. Um alerta de tsunami chegou a ser emitido, mas foi suspenso na manhã de quinta-feira.

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O Ministério do Interior elevou para 11 o número de mortos. Cerca de um milhão de pessoas tiveram que deixar suas casas.

“Você nunca está acostumado. É aquela sensação muito grande de importância, porque você não pode fazer nada”, resume Bonini, que há nove anos vive em Santiago, capital chilena. Quem mora por lá aprende a ler alguns sinais, como reparar no tempo de duração e intervalo entre um tremor e outro. Se dura até dez segundos e para, por exemplo, há chance grande de não ser nada. Caso contrário, é bom se proteger.

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No tremor recente, Bonini e os demais clientes só evacuaram o restaurante por orientação dos funcionários, “que conhecem melhor o edifício”, depois do segundo estremecimento, que durou cerca de três minutos. Todos já estavam de volta às suas mesas quando vieram as terceira e quarta réplicas. “Aí as pessoas já estavam em pânico, as crianças assustadas” e todo mundo correu por conta própria para o meio da rua, onde era mais seguro.

A musicista chilena Manuela Correia, que já morou em Curitiba, estava sozinha em sua casa, em Santiago, e conta que ficou com medo, sem saber quando o tremor ia parar. “Algumas pessoas do meu prédio (são três apartamentos com escada, não tem elevador) saíam para a rua, mas eu fiquei em casa, é mais seguro, perto de uma porta, como meus pais me ensinaram”.

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Ao longo da noite, novos tremores. Para quem mora em apartamento, o medo é maior. “O edifício chacoalha, faz barulho. Aqui eu jamais moraria em um apartamento. Em casa é só você acordar, abrir a porta e já está no seu jardim, pode correr para o meio da rua”, conta o brasileiro Luciano Bonini.

Solidariedade

A escritora chilena Isabel Allende defende que os desastres e a solidariedade são os dois aspectos que traduzem a cultura de seu país. “É um clima que toma o país inteiro”, conta Bonini. E todos tentam ajudar.

O Escritório Oficial de Emergência (Onemi) não têm um papel tão protagonista quanto o da Defesa Civil brasileira, por exemplo. Organizações da sociedade civil e a iniciativa privada tomam boa parte da iniciativa, na hora de organizar doações.

Em parte, isto deve-se a traumas de atitudes do governo, no passado. No terremoto de 2010, mais catastrófico do que o desta semana, não houve notificação de risco de tsunami, o que levou à morte de muitas pessoas, na costa do Pacífico. Nesta quarta, o tremor ocorreu às 20h e até 22h os órgãos oficiais não haviam se pronunciado a respeito.

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Morando no Brasil desde os cinco anos de idade, Carlos Felipe Urquizar Rojas diz lembrar “do pai carregando o carro do tio, quando era pequeno”. Seus pais, Daisy e Carlos, moram atualmente no Chile e tiveram como primeira medida ir a um lugar seguro. A segunda foi colocarem-se à disposição para ajudar os que precisam.

“Ontem só conversei o justo e necessário com meus pais, porque eles vão atrás de ver outros familiares, ver quem foi afetado, se tem algum trabalho comunitário. O pessoal se mobiliza bastante, até porque são várias catástrofes”, conta Carlos Felipe, que mora em Curitiba.

Tsunami

O casal chileno Daisy e Carlos Marcos tomou medidas de emergência assim que sentiu o primeiro tremor. Bajo Huasco, onde moram, fica a cerca de 500 km do epicentro. Mas por estarem a cinco metros acima do nível do mar e a cinco quilômetros de distância da costa, o medo de tsunami é grande.

O protocolo foi montado depois do terremoto de 2010, quando tsunamis atingiram a costa chilena. A mochila “kit de sobrevivência” já fica pronta, em casa. A primeira medida é jogá-la no carro e partir para as regiões mais altas da cidade. As estradas já contam com placas indicativas para casos de tsunami.

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O primeiro alerta vem por celular. Desde 2010, todas as operadoras de telefonia instalaram um sistema de alerta. Se há indícios de que o terremoto pode atingir o mar, um aviso é automaticamente acionado para todos os moradores da região.

Os celulares ajudam, mas nem sempre funcionam. Como ocorreu há cinco anos, quando boa parte do país ficou sem comunicação devido ao corte das linhas. Por isso, o governo indica que os kits de sobrevivência tenham rádio à pilha, que é por onde as informações vão circular, caso todos fiquem sem telefone ou internet.

Estragos causados pelo terremoto na região central do Chile
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Imagens da destruição causada pelos abalos
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