A famosa cena do Evangelho em que Jesus perdoa a mulher adúltera foi alterada em um texto escolar na China.| Foto: stempow/Pixabay
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A famosa cena do Evangelho, encontrada em João, 8:2-11, em que Jesus perdoa a mulher adúltera que estava para ser condenada à morte por apedrejamento pelos escribas e fariseus foi alterada em um texto escolar na China.

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No texto original, após a mulher ser levada até Jesus, este responde aos fariseus e escribas: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”. E, após todos os acusadores irem embora envergonhados, segue-se este diálogo:

“Então, ele se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: ‘Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?’ Res­pondeu ela: ‘Ninguém, Senhor’. Disse-lhe então Jesus: ‘Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar’.”

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Já o texto do livro escolar chinês apresenta a seguinte versão “Quando a multidão desapareceu, Jesus apedrejou a pecadora até a morte, dizendo: ‘Eu também sou um pecador. Mas se a lei só pudesse ser executada por homens sem mancha, a lei estaria morta.’”

De acordo com a Union of Catholic Asian News, o livro escolar, que foi publicado pela Universidade de Ciência Eletrônica e Imprensa Tecnológica, uma instituição controlada pelo governo, visa ensinar “ética profissional e lei” aos estudantes das escolas secundárias vocacionais.

Um paroquiano da China continental que publicou o livro didático nas redes sociais, afirmou que essa falsificação é um insulto para a Igreja Católica:

“Eu quero que todo mundo saiba que o Partido Comunista Chinês está sempre tentando distorcer a história da Igreja, caluniar nossa Igreja e fazer as pessoas odiarem nossa Igreja”.

O número de católicos na China está estimado em mais de 10 milhões de fiéis, de acordo com relatório do governo americano do começo desse ano. O mesmo relatório apontou que o governo chinês tem intensificado a perseguição a minorias religiosas, nessa seara entram não apenas católicos mas muçulmanos uigures.

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Em artigo para a revista Bitter Winter, Massimo Introvigne, sociólogo de religiões italiano e fundador do Centro para Estudos sobre Novas Religiões, afirma que o Partido Comunista Chinês, mais do que querer pintar uma imagem negativa de Jesus, quer usá-lo para encobrir sua própria corrupção:

“Muitos burocratas, juízes e policiais do PCC são notoriamente corruptos. Mas a história [do livro didático] ensina que eles devem ser obedecidos. (...) Tal como foi contado aos estudantes chineses, o texto ensina que a lei e o Partido são bons e puros, e transcendem os seres humanos impuros que os representam momentaneamente.”

As distorções da Bíblia no livro didático chinês apareceram no momento em que China e Vaticano estão perto de negociar uma prorrogação do acordo provisório sobre a nominação de bispos, que foi selado pela primeira vez em 22 de setembro de 2018 e teria validade de dois anos.

Uma delegação do Vaticano se prepara para dar seguimento ao diálogo e realizar uma viagem a Pequim, que será possível logo que as restrições de viagem decorrentes da pandemia de coronavírus sejam aliviadas.

Não se sabe ainda se esse episódio do livro didático pode interferir na renovação do acordo.

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