Que o Partido Comunista da China (PCCh) se intromete na vida íntima da população do país, é sabido desde pelo menos o final da década de 1970, quando foi lançada a política do filho único.
Diante da queda no número de nascimentos, do envelhecimento da população e da consequente redução da produtividade chinesa, o governo aboliu essa política em 2015, quando se passou a permitir que casais tivessem duas crianças.
Em 2021, até três filhos passaram a ser admitidos e pouco depois o governo retirou as punições para quem desrespeitasse esse limite.
Entretanto, essa reversão não foi suficiente para resolver o problema, e uma medida digna de livros de ficção científica distópica acaba de ser anunciada: um app de encontros estatal. A prefeitura de Guixi, cidade de cerca de 640 mil habitantes localizada na província de Jiangxi, lançou esse aplicativo com o objetivo de aumentar o número local de casamentos.
O app, chamado de Palm Guixi, utiliza dados de moradores solteiros da cidade para estimular que se conheçam, de acordo com o jornal estatal China Youth Daily. Se um “match” é aprovado, a plataforma marca um encontro.
Especula-se que a ferramenta pode ser adotada em outras cidades chinesas, e a escolha de Jiangxi parece não ter sido aleatória: também com o objetivo de facilitar a realização de casamentos, a província é foco de uma campanha para acabar com a tradicional prática de um candidato a noivo oferecer dinheiro à família da pretendente.
Apesar de proibida pelo Código Civil chinês, essa prática segue comum, e no ano passado Jiangxi teve o maior valor médio de pagamentos feitos a familiares de noivas, cerca de 380 mil yuans (aproximadamente R$ 290 mil).
Em 2021, para evitar que casais se separem, a ditadura chinesa também implantou uma mudança para diminuir o número de divórcios.
Agora, exige-se que os casais que tenham a intenção de se divorciar esperem 30 dias antes de formalizar a separação. Caso não compareçam a duas reuniões num período entre 30 e 60 dias após a inscrição, esta é automaticamente cancelada.
Nas redes sociais, muitos casais relatam dificuldades para marcar essas reuniões dentro dos prazos exigidos, o que acaba levando ao cancelamento do processo. Dessa forma, muitos chineses, também preocupados com o alto custo de vida, estão simplesmente preferindo não se casar.
Segundo reportagem da revista Fortune, a China, que havia registrado em 2011 cerca de 9,7 milhões de casamentos, computou em 2021 aproximadamente 7,6 milhões de casamentos.
No ano passado, a taxa de natalidade nacional teve um recorde negativo, de 6,77 nascimentos por mil habitantes (em 2021, o índice dos Estados Unidos foi 11,06 nascimentos), e pela primeira vez desde 1961 houve queda no número de habitantes na China (cerca de 850 mil pessoas a menos em relação a 2021).
“Essa tendência vai continuar e talvez até piorar depois da Covid-19”, disse à BBC a economista Yue Su. “A alta taxa de desemprego entre os jovens e as expectativas ruins de renda podem atrasar ainda mais os planos de casamento e de ter filhos, diminuindo o número de nascimentos.”
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