China e Irã anunciaram um acordo bilateral de cooperação mútua de longo prazo. O acordo terá duração de 25 anos e envolve questões como petróleo e infraestrutura. Os valores do acordo não foram divulgados, mas a imprensa norte-americana estima que serão cerca de US$ 400 bilhões de investimentos no Irã durante o período.
O acordo pode aumentar a influência da China no Oriente Médio e minar os esforços dos Estados Unidos de isolar o Irã.
O Global Times, jornal controlado pelo governo Chinês, anunciou com grande entusiamo o acordo, que considera como um “aprofundamento normal da cooperação bilateral entre China e Irã”.
O acordo foi assinado no último sábado (27) entre Wang Yi, Ministro das Relações Exteriores da China, e seu homólogo iraniano Mohammad Javad Zarif na capital do Irã, Teerã, durante a visita de Wang ao país.
Para Ding Long, professor do Instituto de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, “o Irã precisa de cooperação com a China para romper as sanções do Ocidente e melhorar a construção de infraestrutura doméstica, e a China precisa importar petróleo do Irã para garantir sua segurança energética”, disse ele ao Global Times. Para os chineses, o acordo seria, portanto, uma parceria de benefícios mútuos.
Detalhes
Os detalhes do acordo não foram revelados oficialmente, porém o New York Times teve acesso ao que seria um esboço do documento.
O texto descreve US$ 400 bilhões de investimentos chineses a serem feitos em dezenas de campos, incluindo bancos, telecomunicações, portos, ferrovias, saúde e tecnologia da informação.
Em contrapartida, a China receberia um fornecimento regular – e com grandes descontos, de acordo com uma fonte iraniana consultada pelo jornal norte-americano, – de petróleo iraniano.
Ainda de acordo com o esboço, haveria um pedido para maior cooperação militar, incluindo treinamento e exercícios conjuntos, bem como cooperação em inteligência e em pesquisa e desenvolvimento de armas.
O jornal chinês não menciona questões militares e nega que o rascunho obtido pelo New York Times seja verdadeiro, contudo enfatiza as cooperações econômicas, sem mencionar orçamento, na mesma linha do jornal norte-americano.
Crescimento da China na região
Os Estados Unidos e o Irã estão em um impasse desde 2020. Sob a administração Trump, os Estados Unidos retiraram-se do acordo nuclear com o Irã e impuseram duras sanções econômicas ao país. Além disso, em 2020, a morte do general iraniano Qasem Soleimani pelos Estados Unidos, que era considerado por este como um “líder terrorista”, praticamente interrompeu a conversa entre os países.
Depois de assumir o cargo, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse repetidamente que buscaria reiniciar as negociações do acordo nuclear com o Irã. No entanto, a retomada das negociações até agora vacilou. A China aproveitou o momento para fazer crescer a sua influência na região, já que espera que o sucesso desse acordo sirva, no médio prazo, para trazer mais países da região para o seu lado, dentro da estratégia Belt and Road Initiative.
A notícia do acordo foi anunciada no Irã com entusiasmo, mas sem muitos detalhes. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif agradeceu a amizade da China nesses “tempos difíceis” afirmando que seu país “louva as posições e medidas da China nessa época das sanções cruéis contra o Irã”.
Constantemente em conflito diplomático com os países da região, Israel recebeu com preocupação a notícia do acordo entre China e Irã.
Amos Yadlin, ex-chefe do Diretório de Inteligência Militar das Forças Armadas Israelenses afirmou ao The Times of Israel que “a China está se colocando em um lugar que até hoje não havia estado antes”.
“Em um nível fundamental, a China se opõe a uma bomba nuclear iraniana, mas, por outro lado, ela não está ajudando a deter o Irã. O Irã precisa do apoio político da China para impedir os Estados Unidos de pressioná-lo”, complementou Yadlin.
A aliança entre Pequim e Teerã será mais um desafio para o governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que tenta reunir aliados para fazer frente a expansão geopolítica chinesa.
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