A TV pública chinesa CCTV retirou de sua programação a partida deste domingo (15) entre Arsenal e Manchester City, pelo Campeonato Inglês. A decisão foi tomada após o jogador Mesut Özil manifestar publicamente apoio aos uigures que vivem em campos de detenção de Xinjiang.
Özil, alemão de origem turca, havia condenado na sexta-feira (13), em suas redes sociais, a repressão da China contra a minoria muçulmana. Ele também criticou os países islâmicos por não denunciarem os abusos cometidos.
"Alcorões estão sendo queimados, há mesquitas destruídas, escolas islâmicas proibidas, intelectuais religiosos assassinados, um após o outro, irmãos enviados à força para campos", escreveu o jogador no Twitter e no Instagram. "Os muçulmanos continuam calados. A voz deles não é ouvida", acrescentou Özil, que postou no texto a bandeira do que os separatistas uigures chamam de Turquestão Oriental.
No sábado, o Arsenal preferiu manter uma distância segura das declarações de Özil, afirmando que o clube "sempre aderiu ao princípio de não se envolver em política". A Associação Chinesa de Futebol expressou "indignação e decepção" com os comentários de Özil, de acordo com o diário oficial Global Times, publicado pelo Partido Comunista.
Özil, camisa 10 do Arsenal, de 31 anos, se aproximou nos últimos anos do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, líder de um dos poucos países de maioria muçulmana que é crítico ao tratamento dado aos uigures na China. Algumas fotos de Özil ao lado de Erdogan desencadearam uma grande discussão na Alemanha às vésperas da Copa do Mundo de 2018.
Organizações de defesa dos direitos humanos e especialistas acusam Pequim de ter internado em campos de reeducação política cerca de 1 milhão de muçulmanos, principalmente uigures, na região de Xinjiang.
Pequim nega que o número seja tão alto e fala apenas em "centros de formação profissional", destinados a ajudar a população a encontrar um emprego e a deixar de lado a tentação de seguir o caminho do islamismo e do terrorismo. Nos EUA, a Câmara dos Deputados adotou no começo de dezembro um projeto de lei que pedia sanções contra Pequim em resposta à detenção de muçulmanos uigures.
Caso NBA
Recentemente, a NBA, a liga de basquete dos EUA, também sofreu represálias da TV chinesa, após um tuíte do gerente-geral do Houston Rockets, Daryl Morey, em apoio aos manifestantes pró-democracia de Hong Kong. Morey pediu desculpas pelo tuíte, que foi apagado, mas seu apoio aos protestos revoltou Pequim, torcedores chineses e parceiros do time em um mercado crucial para a NBA.
"Não era minha intenção que meu tuíte causasse qualquer ofensa aos torcedores do Rockets e aos meus amigos na China", tuitou Morey. "Estava apenas expressando um pensamento, com base na interpretação de um evento complicado".
O tuíte incluía uma imagem com a legenda "Lute Pela Liberdade. Fique ao Lado de Hong Kong". A mensagem levou uma marca de roupas esportivas e um patrocinador a suspenderem a parceria com os Rockets, e os jogos do time foram retirados da grade da emissora estatal chinesa.
Os Rockets são muito populares na China, especialmente porque contrataram, em 2002, o jogador chinês Yao Ming, que se tornou um astro e ajudou a reunir seguidores da NBA no país. Em comunicado, a NBA admitiu que as opiniões expressadas por Morey "ofenderam" os chineses. Já a versão em chinês emitida pela NBA foi além: "Estamos extremamente decepcionados com os comentários inadequados feitos pelo gerente-geral do Rockets".
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