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O ditador da China, Xi Jinping, designou no fim de semana o general Peng Jingtang para comandar o Exército de Libertação do Povo (ELP) em Hong Kong. Peng foi chefe da força policial em Xinjiang, região autônoma onde Pequim desencadeou na década passada uma campanha de repressão sob pretexto de combate ao terrorismo.
Em dezembro, o Tribunal Uigur, um tribunal popular criado em Londres pelo advogado inglês Geoffrey Nice, concluiu que a China cometeu torturas, crimes contra a humanidade e genocídio contra os uigures e outras minorias étnicas na região de Xinjiang.
A corte apontou que centenas de milhares de uigures (com algumas estimativas apontando números superiores a 1 milhão) foram detidos pelas autoridades chinesas nos últimos anos e relatou situações como deportação ou transferência forçada, tortura, estupro, violência sexual, esterilização forçada, perseguição e desaparecimento forçado, entre outras.
O tribunal também concluiu que ocorreu genocídio em Xinjiang, com políticas como impor condições para reduzir o número de nascimentos de uigures (que consistiram na orquestração de imigração de pessoas da etnia han, majoritária na China, e emigração de uigures por meio de encarceramento, dessa forma dificultando a perpetuação desta etnia, além de esterilizações e abortos forçados) e transferência forçada de crianças.
A miniconstituição de Hong Kong estipula que a Lei Básica, defesa e relações exteriores são administradas por Pequim, mas a devolução do território à China, em 1997, previa autonomia e liberdades que outras regiões chinesas não possuem. Entretanto, protestos pró-democracia entre 2019 e 2020 foram fortemente reprimidos, e uma severa lei de segurança nacional foi imposta.
O grupo Democracia Sem Fronteiras, movimento que luta pela democracia em países autoritários, divulgou nota nesta segunda-feira (10) em que alertou que a designação para Hong Kong de “um general responsável por um genocídio” é “uma mensagem muito perigosa, pois (Pequim) está promovendo alguém que deveria estar sendo julgado por esses crimes”.
“Mais uma vez o governo chinês demonstra que não está disposto a respeitar os direitos humanos e liberdades, pois ‘promover’ para Hong Kong uma pessoa com um histórico desses, e diante de todas as manifestações que estão acontecendo no mundo sobre os Jogos Olímpicos de Inverno, é uma total demonstração de que o governo de Xi Jinping não irá promover qualquer gesto democrático no país”, apontou o grupo.