Nos créditos do seu novo filme "Mulan", a Disney oferece um agradecimento especial a quatro departamentos de propaganda do Partido Comunista Chinês (PCC) e a um escritório de segurança pública na região de Xinjiang, onde mais de um milhão de muçulmanos, a maioria da minoria uigur, foram presos em campos de concentração.
A Disney revelou recentemente que algumas cenas do remake de live action do seu filme de animação de 1998, lançado na plataforma de streaming Disney + no fim de semana, foram filmadas na região.
O agradecimento da empresa é feito a entidades que estiveram diretamente envolvidas na operação ou promoção de campos de "reeducação" em massa, inclusive a comissão de propaganda do PCC em Xinjiang, que vendeu desinformação para justificar os campos de detenção, e uma filial local do escritório regional de segurança pública da província, que está sujeita às sanções do governo dos EUA por seu papel na operação dos campos.
Embora o Partido Comunista tenha proibido jornalistas estrangeiros, organizações de direitos humanos e funcionários de governos estrangeiros de entrar na região, os funcionários da Disney tiveram acesso especial. Além das filmagens na região, a equipe de produção passou meses na área “para fazer pesquisas braçais antes de as câmeras rodarem”, de acordo com uma entrevista à Architectural Digest.
O filme se refere a Xinjiang nas legendas como "noroeste da China", em um reflexo da propaganda do governo chinês de que Xinjiang "pertence à China desde os tempos antigos". Os habitantes da região têm laços culturais com os povos das estepes da Mongólia e há muito reivindicam a independência da China. O filme não tem personagens uigur.
Uigures morreram nos campos de concentração enquanto as campanhas de esterilização forçada fizeram com que a taxa de natalidade na região caísse cerca de 24% no ano passado, o que se encaixa na definição legalmente reconhecida de genocídio.
A Disney há muito tenta apaziguar o Partido Comunista Chinês para obter acesso ao mercado de lá, como evidenciado pela inauguração bem-sucedida da Disneylândia de Xangai em junho de 2016, a qual o presidente executivo da Disney, Bob Iger, disse ser a “maior oportunidade que a empresa teve desde que o próprio Walt Disney comprou um terreno na Flórida Central”.
No Twitter, os usuários usaram a hashtag #boycottMulan (boicote Mulan) para pedir aos espectadores que evitem assistir ao filme, tanto pelo longa ter sido gravado na região de Xinjiang quanto pelo apoio que a estrela Liu Yifei prestou à polícia de Hong Kong no ano passado, quando manifestantes da cidade chinesa protestavam contra um projeto de lei que permitiria que os cidadãos de lá fossem extraditados para a China continental.
Nos Estados Unidos, no ano passado, a Disney usou seu poder econômico para protestar contra leis que seus executivos consideram injustas, como quando Iger ameaçou interromper toda a produção do estúdio no estado da Geórgia se uma lei restritiva sobre o aborto, recentemente assinada pelo governador Brian Kemp, entrasse em vigor .
“Eu duvido”, disse Iger quando questionado se a Disney continuaria a filmar na Geórgia se a lei, que proíbe o aborto após a detecção de batimentos cardíacos fetais, entrasse em vigor. “Acho que muitas pessoas que trabalham para nós não vão querer trabalhar lá e teremos que atender a seus desejos a esse respeito. No momento, estamos observando com muito cuidado”. A chamada "Lei do Coraçãozinho" foi derrubada por um juiz de um tribunal federal em julho.
© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.