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Manifestantes usam máscaras com o rosto do presidente chinês Xi Jinping em Hong Kong
Manifestantes usam máscaras com o rosto do presidente chinês Xi Jinping em Hong Kong| Foto: Justin Chin / Bloomberg

Oficialmente conhecido como "Fundamentos para a implementação da construção moral dos cidadãos na nova era", o guia de leis de moralidade recentemente renovado e divulgado pela China poderia facilmente ser chamado de "O mundo de acordo com Xi".

No domingo, a China publicou novas diretrizes de moralidade que ensinam as pessoas a serem cidadãos-modelo em todos os aspectos da vida - de diretrizes para "defender a honra da China" até como comer "civilizadamente", separar o lixo e diminuir a pegada de carbono ao viajar.

A mensagem principal, no entanto, parece ser sobre o homem por trás de tudo: o presidente chinês Xi Jinping, que tem se ocupado de centralizar o poder e se consolidar como principal homem acima de tudo na China. As filosofias políticas de Xi - consagradas na constituição como "Pensamento Xi Jinping" em 2017 - são a força motriz por trás das diretrizes, que omitem referências a outros líderes comunistas importantes, incluindo os ícones Mao Tsé-Tung e Deng Xiaoping.

Com Pequim enfrentando grandes obstáculos - economia em desaceleração, guerra comercial com os Estados Unidos, protestos em Hong Kong -, as diretrizes são uma maneira de Xi consolidar sua visão de mundo e reforçar sua capacidade de ditar normas públicas e privadas.

Orientações abrangentes

As diretrizes oferecem uma ampla gama de instruções, desde a descrição do "cultivo de comportamentos online civilizados e autodisciplinados" até a "implementação de um modo de vida e de produção ecologicamente correto" e o "desenvolvimento completo de etiqueta e boas maneiras", entre outras orientações.

Outras cláusulas imploram que as pessoas tenham "fé" em Xi e no Partido Comunista, a antítese da religião, no momento em que o governo de Xi implementa campos repressivos de "reeducação" para os uigures muçulmanos e oprime outras religiões.

Esses códigos de conduta hipernacionalistas não são novidades para a China: o documento divulgado no domingo substitui uma versão anterior de 2001 e está repleto de retórica e propaganda comunistas típicas. Mas o que há de novo é a maneira como essa versão codifica os ensinamentos de Xi como o "núcleo" de sua visão da moralidade chinesa.

As novas diretrizes foram divulgadas antes de uma grande reunião da liderança do partido em Pequim e chegam em um momento em que Xi enfrenta desafios tanto em seu país quanto no exterior.

Em 2017, Xi se elevou ao mesmo nível de Mao e Deng no panteão comunista chinês. Xi quer se apresentar como herdeiro da 'luta' que Mao começou e ignorar os líderes que vieram entre eles, dizem analistas.

Os protestos em andamento em Hong Kong - onde os manifestantes têm usado máscaras do rosto de Xi para contornar as proibições ao uso de máscaras - somados ao crescimento econômico já em desaceleração agravado por uma guerra comercial com os Estados Unidos colocam desafios à visão política e à legitimidade de Xi.

Carl Minzner, estudioso da China e professor da Fordham Law School em Nova York, disse ao jornal Global and Mail do Canadá que os novos códigos são "totalmente consistentes com o movimento de Pequim em direção ao nativismo e ao endurecimento político na última década - um movimento que constantemente tem tragado um campo de empreendimento humano após o outro: direito, mídia, cultura e ensino superior. Tudo isso levanta questões profundas sobre o quanto essas tendências podem avançar. E isso pode ter sérias implicações para uma série de aspectos acadêmicos, econômicos e pessoais que vinculam a China ao resto do mundo".

Na China, o Partido Comunista e Xi são referidos como fonte de legitimidade para os códigos de moralidade da nação.

Em contraste, governos de outros países usam a religião para justificar leis de moralidade que, por sua vez, ajudam a preservar regras repressivas. No Irã e na Arábia Saudita, por exemplo, a chamada polícia da moralidade percorre as ruas à procura de pessoas que cometem infrações, como mulheres que não usam um acessório obrigatório para cobrir a cabeça ou pessoas de sexos diferentes que ficam muito perto em público. Em 2016, a Arábia Saudita alterou sua lei, retirando o direito dessas forças de prender pessoas, embora elas ainda transmitam as informações às autoridades oficiais.

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