Em um novo plano militar apresentado nesta quarta-feira (24), a China afirma que não vai renunciar ao uso da força em seu esforço para reunificar Taiwan ao continente e promete tomar todas as medidas militares necessárias para derrotar "separatistas".
Ao publicar o Livro Branco do Ministério da Defesa pela primeira vez em quatro anos, autoridades do Exército Popular de Libertação advertiram que a China está disposta a mobilizar forças militares para "conter a independência de Taiwan" e combater o que considera forças separatistas no Tibete e na região de Xinjiang, no extremo oeste de seu território.
De acordo com o porta-voz do Ministério de Defesa da China, Wu Qian, a ameaça do separatismo de Taiwan está crescendo. Ele alertou, ainda, que os que buscam a independência da região vão enfrentar um "beco sem saída". "Se alguém ousa separar Taiwan da China, o Exército chinês certamente lutará, defendendo resolutamente a unidade soberana e a integridade territorial do país."
Ilha governada democraticamente, Taiwan se separou da China em meio à guerra civil de 1949. A China afirma que Taiwan faz parte de seu território e busca uma "completa reunificação". Os Estados Unidos repetidamente levantaram a ira de Pequim ao venderem armas para Taiwan - no mês passado, por exemplo, os EUA aprovaram uma venda de US$ 2,2 bilhões em armas à Taiwan, incluindo tanques M1A2T Abrams e mísseis Stinger. Embora os americanos não tenham laços diplomáticos formais com os taiwaneses, a lei dos EUA exige o fornecimento de equipamentos e serviços de defesa suficientes para autodefesa de Taiwan.
Neste mês, a marinha chinesa enviou seu único porta-aviões para o estreito, em uma demonstração de força similar a operações dos EUA de duas décadas atrás, que mostravam o domínio militar americano na Ásia.
O documento militar surge em um momento de tensão no Pacífico Ocidental, onde a China se mobiliza para reforçar seus objetivos estratégicos em toda a região, inclusive no disputado Mar da China Meridional.
Ameaça americana
Segundo o novo plano militar chinês, a competição militar global está aumentando e a culpa é dos Estados Unidos, que está "fortalecendo suas alianças militares na Ásia-Pacífico" e se engajando em "inovação tecnológica e institucional em busca da superioridade militar absoluta". Para os chineses, o governo Trump "ajustou" a postura de segurança nacional dos EUA ao considerar a China uma rival.
Washington "provocou e intensificou a competição entre os principais países, aumentou significativamente seus gastos com defesa, pressionou por capacidade adicional em defesa nuclear, espacial, cibernética e de mísseis e minou a estabilidade estratégica global", afirma o Livro Branco do Ministério da Defesa.
Apesar disso, a China diz que não faz parte de sua estratégia buscar uma esfera de influência ou hegemonia regional porque "desde o começo dos tempos modernos, o povo chinês sofreu com agressões e guerras".
A partir de 2017, os gastos de defesa da República Popular da China estavam perto do menor patamar histórico em relação aos gastos do governo, em torno de 5,14%, o que mostra, segundo os chineses, uma "clara tendência descendente", apesar da ambiciosa modernização militar da China sob a presidência de Xi Jinping.
Os gastos em defesa dos EUA, em comparação, respondem por aproximadamente 15% dos gastos federais.
Relação sino-russa
A Defesa da China considera que a situação no Pacífico é "geralmente estável", mas as tensões aumentaram esta semana, quando aviões militares de China e Rússia invadiram o espaço aéreo reivindicado pelo Japão e pela Coreia do Sul durante uma patrulha conjunta, levando Seul a disparar tiros de alerta contra uma aeronave russa.
A atividade foi amplamente vista como uma demonstração de crescente cooperação entre Pequim e Moscou, especialmente por Seul e Tóquio serem dois importantes aliados dos EUA na Ásia.
"À medida que as relações sino-russas entram em uma nova era, os militares chineses e russos continuarão a empurrar as relações militares para novos patamares históricos", disse Wu quando questionado sobre a patrulha.
Mensagem política
Falando a repórteres na quarta-feira, oficiais militares saudaram Xi como "comandante em chefe", um título que não foi concedido a nenhum outro líder chinês comunista. Após anos de expurgos militares para estabelecer sua fidelidade, Xi começou a assumir o título em 2016 como um símbolo de seu controle político.
Andrew Erickson, especialista militar chinês na Escola de Guerra Naval dos EUA, disse que o novo plano militar não delineou estratégias qualitativamente diferentes, mas enviou uma mensagem política.
"Isso reflete a era, a estratégia, os objetivos, as reformas e a retórica de Xi", disse ele.
Ameaça aos manifestantes de Hong Kong
O tom do governo chinês em relação aos protestos em Hong Kong endureceu drasticamente nesta quarta-feira, quando Qian disse que a China não descarta o uso de tropas para reprimir os manifestantes. Ele disse que é "intolerável" que os manifestantes aparentemente desafiem a soberania da China sobre Hong Kong e observou que a guarnição do Exército Popular de Libertação opera sob uma lei que mobilizaria tropas para restaurar a ordem pública se solicitada pelo governo de Hong Kong.
O comentário veio dias depois que manifestantes vandalizaram o escritório da China na cidade semi-autônoma, provocando uma resposta furiosa de Pequim e uma torrente de propaganda condenando o que alegava, sem provas, ser uma iniciativa dos EUA por trás da agitação.