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Sucessor

"Filho precisará de tempo para ter apoio do povo"

O espanhol Alejandro Cao de Benós, único funcionário estrangeiro da Coreia do Norte, acredita que após a morte do líder norte-coreano, Kim Jong-il, seu filho mais novo, Kim Jong-un, deverá percorrer um longo caminho até consolidar sua posição de sucessor.

"Só o tempo dirá se Kim Jong-un possui capacidade e apoio da população para se transformar no líder do país", afirma Cao de Benós, delegado especial do Comitê de Relações Culturais com o Estrangeiro da Coreia do Norte.

Fiel defensor do comunismo "juche" idealizado por Kim Il-sung, fundador da Coreia do Norte, este espanhol é um dos ocidentais que melhor conhece os segredos da maquinaria do regime.

Cao de Benós considera que a posse de Kim Jong-un é um "desejo da população". "É como na Espanha, onde o rei é uma figura que representa o Estado, mas a capacidade de decisão está nas mãos de outros órgãos, como a Assembleia Popular Suprema, no caso da Coreia do Norte", compara.

O espanhol classifica as definições de "ditadura" e "sistema totalitário", que frequentemente são atribuídas ao país, como uma "propaganda capitalista".

Cao de Benós descarta a possibilidade de que o país aproveite essa fase de transição para se afastar um só centímetro da ortodoxia comunista.

Especialistas em política internacional concordam que uma transição de poder previsível na Coreia do Norte, após a morte do excêntrico ditador Kim Jong-Il, dependerá das duas forças políticas que possuem poderes no hermético regime comunista e influência sobre Pyongyang: os militares e a China.

Os militares norte-coreanos formam uma casta fechada, que tende a se alinhar com a família Kim, que governa o que hoje é a Coreia do Norte desde 1948. Já o governo chinês é o único aliado externo da Coreia do Norte, interlocutor de Pyongyang com a comunidade internacional e compartilha, pelo menos na teoria, a mesma doutrina política que seus vizinhos.

Uma reaproximação com a Coreia do Sul, com vistas a uma futura reunificação, é vista como improvável. Pelo menos, a curto e médio prazos.

Mais incerto ainda é como será um governo de Kim Jong-un, filho mais novo de Kim Jong-il e sacramentado como seu sucessor no ano passado, após os dois filhos mais velhos do ditador terem sido preteridos pelo politburo de Pyong­­yang.

"O ponto principal na questão coreana é a transição de poderes. Se a família Kim se mantiver no comando, haverá estabilidade interna, embora a política externa continue errática. Se a família perder o poder, ocorrerão lutas políticas internas, talvez violentas", afirma o professor de relações internacionais Heni Ozi Cukier, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo.

Para Ozi Cukier, os militares dão a entender que "estão com a família Kim. Por isso, não deve haver uma ruptura". Como Kim Jong-un é bastante jovem e inexperiente, seu tio, Chang Sung-Taek, poderá atuar como regente. Pouco se sabe sobre Kim Jong-un. Filho do falecido Kim com sua última esposa, a dançarina japonesa Ko, até o ano de nascimento do futuro governante norte-coreano é colocado em disputa: 8 de janeiro de 1983 ou de 1984. Estudou na Suíça e é general de quatro estrelas do Exército Popular da Coreia, que tem armas atômicas.

Chang Sung-Taek, casado com a irmã mais nova de Kim Jong-il, Kim Kyong-hui, é indicado por alguns especialistas como o governante de facto da Coreia do Norte nos últimos dois anos, após o falecido Kim ter sofrido um derrame cerebral em 2008. "É possível que Chang seja o regente", diz Ozi Cukier.

Para o professor Gilberto Rodri­­gues, especialista em relações internacionais na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, a China também terá influência crescente no governo do jovem Kim Jong-un. "A China atua como uma mediadora entre o hermético regime norte-coreano e a comunidade internacional. A China poderá se beneficiar nesta troca de comando e aumentar seu poder de barganha com o Oci­­dente", diz o professor.

Rodrigues acredita que o jovem Kim Jong-un buscará apoio entre os militares e a China, em um primeiro momento, para se firmar no poder. "Ele não deverá sinalizar uma possível retomada das negociações com Seul para reunificar no futuro a Coreia", disse. "A China poderá tutelar a transição do comando, de pai para filho."

Preocupações

O programa nuclear norte-coreano permanece como uma dor de cabeça para todos os vizinhos do regime de Pyongy­­ang. A Coreia do Norte explodiu com sucesso duas bombas atômicas – testes nucleares feitos em 2003 e 2009, e além disso desenvolve um ambicioso programa de mísseis balísticos. Seus mísseis de médio alcance colocam no alvo o território inteiro do Japão – aliado dos Estados Unidos, onde Washington possui bases militares e milhares de soldados. Também podem atingir qualquer ponto da Coreia do Sul, igualmente aliada do governo norte-americano.

"O problema é que a Coreia do Norte, país paupérrimo, tem como vender a tecnologia nuclear que domina. Isso é preocupante", diz Rodrigues.

Até o final da década de 1980, a Coreia do Norte, país de 24 milhões de habitantes, recebia auxílio financeiro da União Soviética. Com a desintegração soviética em 1991, o dinheiro foi cortado. O país começou a se aproximar mais da China. Mas isso não evitou que um pla­­nejamento desastroso na agricultura, somado a enchentes e problemas climáticos, devastasse as lavouras e a pecuária, provocando uma fome que, entre 1995 e 1997, matou entre 900 mil e 3 milhões de pessoas, segundo estimativas de um comitê de congressistas dos Estados Unidos, que visitaram o país comunista em 1997.

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