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A China está construindo mais de 100 novos silos de mísseis balísticos intercontinentais em um deserto perto da cidade de Yumen, no noroeste do país, indicam imagens de satélites analisadas por especialistas independentes em uma reportagem publicada pelo jornal Washington Post nesta semana. Os Estados Unidos disseram que a revelação sugere um crescimento mais rápido do arsenal nuclear da China, o que preocupa o país.
Imagens de satélite registradas pela Planet foram analisadas por pesquisadores do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação (CNS, na sigla em inglês) e mostram 119 construções em andamento, quase todas idênticas e com características semelhantes às existentes nas instalações de lançamento para o arsenal de mísseis balísticos nucleares da China, como o telhado em formato de domo, arredondado, e o tamanho do prédio, segundo informou o Post. Essas construções estão em uma área de três mil quilômetros quadrados, de acordo com a Planet, e são interligadas por estradas. Cada instalação tem um telhado em forma de cúpula
"Acreditamos que a China está expandindo suas forças nucleares em parte para manter um meio de dissuasão que pode sobreviver a um primeiro ataque dos EUA em número suficiente para derrotar as defesas antimísseis americanas", disse ao Post o analista do CSN Jeffrey Lewis, acrescentando que o total de silos de mísseis em construção na China chega a 145.
Ele também informou que os silos podem receber os mísseis intercontinentais balísticos chineses DF-41, batizado também de "Vento do Leste". O modelo, lançado em 2019, é o mais avançado do exército chinês (PLA) e, segundo especialistas, poderia alcançar os Estados Unidos em um voo de 30 minutos, carregando até 10 ogivas nucleares.
O Sipri (Stockholm International Peace Research Institute) estima que a China tenha 350 ogivas nucleares, 15 vezes menos que o arsenal dos Estados Unidos. Porém, "a China está passando por uma significativa modernização e expansão de seu estoque de armas nucleares", informou o instituto de pesquisa em seu levantamento mais recente sobre armas nucleares no mundo.
Não há indicações, no entanto, que os silos descobertos pela análise de imagens de satélite já estejam em uso ou que serão usados no futuro.
EUA preocupados
Ao comentar a reportagem do Washington Post, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse nesta quinta-feira (1º) que as informações "sugerem que o arsenal nuclear da República Popular da China crescerá mais rapidamente, e a um nível mais alto, do que talvez tenha se antecipado anteriormente".
"Este acúmulo é preocupante... Isso levanta questões sobre a intenção da República Popular da China", acrescentou Price.
As armas nucleares da China foram assunto de um recente encontro da Otan, em Bruxelas. A aliança militar alertou para a rápida expansão do arsenal nuclear de Pequim "com mais ogivas e um maior número de sistemas sofisticados para estabelecer uma tríade nuclear", ou seja, a divisão do arsenal atômico de um país em mísseis terrestres, projéteis carregados por bombardeiros estratégicos e os transportados por submarinos nucleares.
Em abril, o oficial encarregado pelo arsenal nuclear dos EUA, almirante Charles Richard, disse ao Congresso americano que as capacidades nucleares da China estão crescendo rapidamente e que, pela primeira vez, podem ser preparadas para uso.