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China e Estados Unidos estão intensificando as atividades militares no Mar da China Meridional, enquanto acusam um ao outro de tentar minar a estabilidade da região.
Neste fim de semana, os dois países conduziram grandes exercícios militares perto de territórios disputados, o que é raro de acontecer. Os EUA enviaram dois porta-aviões, o USS Ronald Reagan e o USS Nimitz, para exercícios militares no sábado (4), enquanto a China conduzia manobras de treinamento perto das Ilhas Parcel, território que é disputado também pelo Vietnã.
O contra-almirante do Nimitz, James Kirk, disse a jornalistas no fim de semana que as Marinhas de ambos os países tinham conhecimento sobre a proximidade dos exercícios e que não houve incidente durante os contatos. "Temos a expectativa de que sempre teremos interações profissionais e seguras", disse ele. "Estamos operando em algumas águas bastante congestionadas, com muito tráfego marítimo de todos os tipos".
De acordo com a Marinha dos EUA, foram conduzidos "vários exercícios táticos projetados para maximizar as capacidades de defesa aérea e estender o alcance de ataques marítimos de precisão de longo alcance das aeronaves baseadas em porta-aviões em uma área de operações em rápida evolução". Aeronaves também simularam ataques inimigos para testar a capacidade das equipes de detectar, interceptar e enfrentar ameaças.
A localização exata onde o treinamento aconteceu não foi revelada, mas a organização SCS Probing Initiative, que monitora movimentos na região, informou que as embarcações americanas entraram no Mar da China Meridional pelo Canal Bashi, que fica perto de Taiwan.
Em entrevista, o contra-almirante George Wikoff, comandante do grupo de ataque liderado pelo USS Ronald Reagan, disse que o objetivo das manobras era "mostrar um sinal inequívoco aos nossos parceiros e aliados de que estamos comprometidos com a segurança e estabilidade regionais". Afirmou também que os últimos exercícios militares conduzidos pelos EUA na região são uma resposta à crescente presença militar da China na região.
Os exercícios militares da China começaram na quarta-feira passada (1º) e terminaram no domingo (5). Eles ocorreram perto das Ilhas Parcel, ou Ilhas Xisha, como são conhecidas pelos chineses, e envolveram navios de guerra avançados, incluindo destruidores e fragatas de mísseis guiados, informou o jornal chinês pró-Pequim Global Times.
Militarização e instabilidade
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, defendeu a realização do treinamento em águas disputadas ao afirmar que as “Ilhas Xisha são indiscutivelmente território da China”, desconsiderando as reivindicações do Vietnã. “O treinamento militar da China nas águas que cercam as Ilhas Xisha está dentro da soberania da China e além de qualquer crítica”, afirmou em coletiva de imprensa nesta segunda-feira.
Sobre os exercícios militares dos EUA, Zhao disse que os americanos estão “flexionando seus músculos” ao enviar “propositalmente uma poderosa força militar” para o Mar da China Meridional.
“Os EUA pretendem criar uma barreira entre os países da região, promover a militarização do Mar da China Meridional e minar a paz e a estabilidade na região. A comunidade internacional, especialmente os países da região, viram isso muito claramente”, afirmou Zhao.
O Pentágono faz a mesma acusação contra a China. Na semana passada, comentando os jogos de guerra da China perto das Ilhas Parcel, o Departamento de Defesa americano disse que a “realização de exercícios militares em território disputado no mar da China Meridional é contraproducente aos esforços para diminuir as tensões e manter a estabilidade”.
“As ações da China desestabilizarão ainda mais a situação no Mar da China Meridional. Tais exercícios também violam os compromissos da China, de acordo com a Declaração de 2002 sobre a Conduta das Partes no Mar da China Meridional, para evitar atividades que complicariam ou escalariam disputas e afetariam a paz e a estabilidade”, afirmou o Pentágono em comunicado, acusando a China de prejudicar os vizinhos do sudeste asiático.
“As ações da China contrastam com a promessa de não militarizar o Mar da China Meridional e a visão dos Estados Unidos de uma região Indo-Pacífico livre e aberta, na qual todas as nações, grandes e pequenas, estão seguras em sua soberania, livres de coerção e capaz de buscar crescimento econômico consistente com as regras e normas internacionais aceitas”, continua o comunicado.
Os governos do Vietnã e das Filipinas criticaram os exercícios militares da China nas Ilhas Parcel, classificando-os como “extremamente provocativos”.
China e EUA já tinham realizado manobras no Mar da China Meridional em vários momentos neste ano, mas não simultaneamente e na escala observada neste fim de semana.
Analistas acreditam que não há um risco de conflito entre as duas forças na região neste momento, sobretudo por causa da pandemia de Covid-19, mas não descartam que um incidente entre os operativos possa vir a inflamar as tensões nesta que é uma das principais rotas navais do mundo.