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A China, sob o regime comunista de Xi Jinping, tem intensificado a repressão contra cidadãos norte-coreanos que utilizam seu território para tentar escapar da brutal ditadura de Kim Jong-un.
Uma reportagem da agência Reuters mostrou que a ditadura chinesa tem utilizado uma série de medidas avançadas de vigilância para identificar e deportar os norte-coreanos que estão tentando fugir do regime opressor de Pyongyang.
Segundo as informações, a China implementou novas medidas de vigilância e deportações em massa ao longo de sua fronteira com a Coreia do Norte. Desde a pandemia de Covid-19, Pequim vem criando mais centros de deportação, investindo na instalação de centenas de câmeras inteligentes de reconhecimento facial e no aumento de patrulhas marítimas. Esses esforços, amplamente documentados em relatórios e registros governamentais, citados pela Reuters, transformou a fuga de norte-coreanos pela China uma tarefa praticamente impossível, já que agora eles estão sendo facilmente capturados pelas autoridades comunistas e posteriormente enviados de volta ao regime autoritário de Kim Jong-un.
De acordo com norte-coreanos que conseguiram deixar a ditadura de Kim através da China, e ativistas de direitos humanos ouvidos pela Reuters, as autoridades chinesas agora também monitoram de perto as redes sociais daqueles que deixam a Coreia do Norte para ir ao país, e coletam informações como impressões digitais e voz, tudo para impedir que os mesmos usem o território chinês como “ponte” para escapar definitivamente do regime de Pyongyang.
Stephen Kim, descrito pela Reuters como um missionário que auxilia muitos norte-coreanos a fugirem de seu país natal, disse que “mais de 90% dos norte-coreanos atualmente na China já registraram seus dados pessoais e biométricos com a polícia”. As medidas facilitam a detecção de norte-coreanos que se deslocam pelo território chinês.
A crescente repressão chinesa criou um ambiente de medo para aqueles que tentam escapar de Pyongyang pelo país. Norte-coreanos que tentam deixar o regime de Kim pela China relatam que o uso de transporte público se tornou arriscado, dado o monitoramento extensivo por câmeras de vigilância.
Embora os documentos oficiais do regime chinês não mencionem explicitamente os norte-coreanos como alvo principal da repressão, a vigilância reforçada da China se concentra em áreas próximas à Coreia do Norte. Pequim nega a existência de norte-coreanos que tentam escapar de Pyongyang por seu território. Os que entram de forma desesperada no país são tratados como imigrantes ilegais e deportados imediatamente, logo, não há uma estatística exata sobre quantos são.
O aumento da repressão do regime chinês contra os norte-coreanos está diretamente ligado aos seus interesses geopolíticos. Grupos de direitos humanos apontam que a China quer controlar o fluxo migratório na fronteira para evitar a desestabilização da Coreia do Norte, que pode acontecer caso os norte-coreanos percebem que há uma via mais “fácil” de ir embora do país e, assim, impedir que o regime de Pyongyang entre em colapso, o que poderia resultar na reunificação da península sob a liderança da Coreia do Sul, uma forte aliada dos Estados Unidos.
À Reuters, Roberta Cohen, especialista em direitos humanos, observa: “A China teme que, se muitos norte-coreanos encontrarem refúgio em seu território, outros seguirão o exemplo, desestabilizando a Coreia do Norte e fortalecendo a influência americana na região”.
Nos últimos anos, o número de imigrantes norte-coreanos que chegam à Coreia do Sul diminuiu significativamente, resultado direto da repressão na fronteira sino-norte-coreana. De acordo com o Grupo de Trabalho de Justiça Transicional (TJWG, na sigla em inglês), uma organização de direitos humanos com sede em Seul, o risco de captura por autoridades da fronteira entre Pequim e Pyongyang aumentou consideravelmente nos últimos anos. Nos últimos dois anos, 70% dos norte-coreanos que tentaram escapar pela China para chegar à Coreia do Sul foram presos pela polícia, em comparação com 20% antes das medidas reforçadas de vigilância. Segundo a Reuters, a China teria deportado milhares de norte-coreanos entre agosto de 2023 e julho de 2024.
A deportação dos norte-coreanos que tentam escapar é vista como um retorno certo à prisão, tortura ou até morte, uma vez que a ditadura de Kim Jong-un classifica a fuga do país como um “ato de traição”. De acordo com o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, aqueles que são repatriados enfrentam graves abusos de direitos, sendo enviados para campos de trabalho forçado e prisões.
“Ninguém deve ser devolvido a um país onde enfrentaria o risco de tortura, tratamento ou punição cruel, desumano ou degradante e outros danos irreparáveis, incluindo o uso da pena de morte e desaparecimento forçado”, disseram especialistas da ONU.
“Os indivíduos [que fogem] são rotulados como ‘criminosos’ pelas autoridades [da Coreia do Norte] se cometerem ‘travessia ilegal da fronteira’ e como ‘traidores’ se as autoridades encontrarem qualquer ligação que sugira uma ‘intenção de escapar para a República da Coreia [do Sul]’. Se forem rotulados como ‘traidores’, recebem punições severas, incluindo prisão sem o devido processo, podendo ser submetidos a desaparecimento forçado e até mesmo execução”, acrescentaram os especialistas.