O presidente da China, Xi Jinping.| Foto: Reprodução/Governo Chinês/Fotos Públicas
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A China parece eufórica com o fim da presidência Trump. Antes da Covid-19, o país estava preso em uma guerra comercial com os EUA em que provavelmente só tinha a perder. O mundo corporativo americano estava finalmente começando a reclamar que seus lucros, outrora fáceis em joint-ventures, estão sendo engolidos por uma China cada vez mais voraz.

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A esquerda, mesmo com todo o seu ódio a Trump, depois de 2017 tornou-se mais vocal sobre os gulags chineses, a Tibetização de Hong Kong e o estado interno orwelliano de Pequim. Muitos espiões chineses apareceram entre o pináculo do poder americano, seja o chofer da ex-presidente do Comitê de Inteligência do Senado Dianne Feinstein; ou, como soubemos recentemente, uma mulher associada ao deputado Eric Swalwell, membro do Comitê de Inteligência da Câmara; ou entre o grupo Biden.

Com o disruptivo Trump aparentemente fora de cena agora, a China está ansiosa para voltar ao status quo global  — que fecha os olhos para seu roubo sistemático de patentes e direitos autorais, dumping, manipulação de moeda, enormes excedentes comerciais e apropriação coercitiva de tecnologia.

Ou como um proeminente acadêmico chinês, Di Dongsheng, recentemente revelou sua confiança pós-eleitoral na “primeira família” Biden e o retorno do establishment americano ao poder: “Vou falar algo talvez um pouco explosivo aqui. É só porque temos pessoas no topo. Temos nossos velhos amigos que estão no topo do círculo interno de poder e influência da América”.

Dongsheng continuou: "Durante a guerra comercial EUA-China, [Wall Street] tentou ajudar, e eu sei que meus amigos, do lado dos EUA, me disseram que eles tentaram ajudar, mas eles não podiam fazer muito. Mas agora estamos vendo que Biden foi eleito, a elite tradicional, a elite política, o establishment, eles estão muito perto de Wall Street, então você vê isso, certo?"

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Dongsheng resumiu "certo" com: "Trump tem dito que o filho de Biden tem algum tipo de fundação global. Você notou isso? Quem ajudou [Hunter] a construir as fundações? Entendeu? Há um monte de negócios dentro de tudo isso”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Substitua "China" por "Rússia", "Biden" por "Trump", Dongsheng por algum acadêmico russo, e “novembro de 2020” por “novembro de 2016” e um presidente eleito Trump provavelmente teria sido indiciado por tais admissões.

Atualmente, a China está sofrendo seus piores índices de popularidade no mundo em sua história moderna. A maioria dos países da Europa, dos EUA e seus vizinhos asiáticos imediatos apontam para uma desaprovação da China entre 70% e 90% das populações, segundo pesquisas de opinião. Tal negatividade não é surpreendente, quando mais de 75 milhões em todo o mundo ficaram doentes com a Covid-19 que veio de Wuhan — e talvez outros 500 milhões não testados tenham tido sintomas ou pelo menos desenvolvidos anticorpos para o vírus – e 1,6 milhão de pessoas morreram por causa da doença.

Muitos países ocidentais prometeram nunca mais terceirizar seus equipamentos médicos e indústrias farmacêuticas para a China, dada a dependência a que ficaram expostos em tempos de uma pandemia global viral gerada pelo país. O principal problema para um despertar de sonolentos EUA e Europa não é decidir se “reinicia o sistema” com a China, mas como fará isso – dado que por décadas a América desviou sua tecnologia de ponta, ao treinar dezenas de milhares de engenheiros e cientistas chineses, enquanto deu luz verde a seus próprios estudantes para acumular dívidas de US$ 1,6 trilhão em empréstimos estudantis para dominar as artes do verde, da vitimização racial, de classe e de gênero.

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Engenheiros americanos brilhantes projetam carros movidos a bateria e painéis solares sofisticados; Estudantes ambientais da elite brigam sobre a melhor forma de falir o consumidor americano e aumentar os custos de energia para as empresas. A China prefere imitar o primeiro, não o segundo.

A China taticamente trava uma guerra contra os EUA o tempo todo, usando desde espionagem nos campi até ataques cibernéticos e roubo de tecnologia e plantas de instituições que pode replicar. Mas, mais importante, conta com uma estratégia sofisticada para subordinar os Estados Unidos, e assim refazer toda a ordem internacional para melhorar suas próprias agendas.

Caminho parasita

A China envia mais de trezentos mil estudantes a cada ano para se matricular em universidades dos EUA. Repito: eles não estão aqui, em sua maioria, para se concentrar em estudos de gênero, buscar estudos de paz ou para se tornar estudantes de psicologia e sociologia.

Talvez 1% deles (por exemplo, cerca de 3.000) sejam agentes de espionagem. Muitos mais são filhos das elites do Partido Comunista. Todos sabem que seus estudos são pagos na expectativa de que possam fornecer informações em algum momento de suas carreiras americanas.

Nas últimas duas décadas, através de estudantes, intercâmbios de professores visitantes, turismo, crescentes ingressos diplomáticos e agentes formais de espionagem, a China tem sistematicamente replicado grandes instituições americanas. Ele copia programas de pós-graduação americanos, laboratórios médicos e científicos, fundações e entidades governamentais formais, do Pentágono às academias militares.

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A China é parasita em instituições ocidentais da maneira que o Japão imperial era nos séculos XIX e início do século XX, quando enviou dezenas de milhares de engenheiros, cientistas, industriais e adidos militares ao Reino Unido para aprender sobre a construção e organização naval militar, e para a Alemanha, para copiar forças e táticas terrestres imperiais alemãs.

Nada encanta mais a China do que a mudança climática, na esperança de que os EUA emulem a Europa em geral e, em particular, a Alemanha. Ou seja, a América deve destruir suas usinas nucleares, parar a construção hidrelétrica, fechar usinas de carvão, eliminar gradualmente o gás natural e focar em tecnologias "eólicas e solares" e outras tecnologias "verdes".

No sentido estratégico, a China continuará a usar os combustíveis tradicionais de carbono e nuclear, mais baratos. Enfatizará que o Ocidente não deve fazer o mesmo e, em vez disso, deve focar-se na "mudança climática". A China então buscará vantagem com maior confiabilidade energética e custos mais baratos — enquanto espera para ver quando ou se os investimentos ocidentais e as pesquisas em energia alternativa serão baratos para serem explorados.

Dividir e conquistar

A Europa vem se desculpando por seu imperialismo e neocolonialismo do século XIX e início do século XX há 75 anos. No entanto, a China orgulha-se de sua nova marca de exploração, a Iniciativa Belt and Road, para desenvolver infraestrutura no exterior, portos, ferrovias, indústria, redes de energia e rodovias.

Os objetivos de um projeto tão vasto de US$ 8 trilhões são múltiplos. Pequim busca estabelecer o controle sobre os pontos de estrangulamento comercial do mundo (de Suez ao Canal do Panamá) que oferecerão vantagem em tempos de tensões e guerras.

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A “Belt and Road” quer interconectar um vasto sistema mercante predatório dominado pela China, em ambição evidente e imperialismo racialista, talvez análogo à antiga "Esfera de Coprosperidade da Ásia Oriental".

A China empresta promiscuamente a países sem dinheiro e nações desenvolvidas engessadas, com o objetivo de os levar a "armadilhas de dívidas", uma vez que empréstimos não recolhidos podem ser pagos por meio de contratos que dêem aos chineses mais controle, e por mais tempo, sobre a infraestrutura do país devedor.

Dividir e conquistar é o subtexto da Nova Rota da Seda. Israel ou Grécia discutirão com seu aliado americano sobre o grau em que bilhões de dólares em investimento chinês em seus portos distorcem sua autonomia estratégica. A Rússia, como outro beneficiário da Belt and Road, não é mais um agente triangular para controlar o poder chinês. E é difícil para a União Europeia lidar coesamente com o comércio assimétrico chinês, quando Pequim está controlando cada vez mais o tráfego portuário de Antuérpia, Gênova, Marselha e Pireu.

A conversa outrora grandiosa da China sobre uma "Rota da Seda Polar" para se conectar com o Canadá pode ajudar a explicar por que Justin Trudeau convidou os militares chineses para conduzir o treinamento de inverno em Ontário – aparentemente contra a vontade de seu vizinho e aliado da OTAN. Os EUA também incluem o Canadá, sem poder nuclear e desarmado, sob seu guarda-chuva nuclear, que em cenários de pesadelo de dissuasão nuclear, assume que Portland ou San Diego sejam expostos para proteger Montreal ou Toronto.

A lógica da Nova Rota da Seda é a do traficante: ela acomoda seu usuário ingênuo, que busca cada vez mais produto, entra profundamente em dívidas e dependências de seu fornecedor sorridente, e só é trocado — ou pior – por novos viciados quando as dívidas atingem proporções impagáveis.

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Identidade e raça

A China é essencialmente uma nação monoracial, com um registro terrível de exploração daqueles que considera inferiores raciais, sejam tibetanos ou uigures muçulmanos. Os chineses na África fazem com que os velhos russos brutos estereotipados pela Guerra Fria no exterior pareçam santos em comparação.

No entanto, os chineses, estrategicamente, pegaram carona na indústria racial americana. E o resultado é que a crítica ocidental ao racismo e à exploração por parte de Pequim é considerada "racismo". A China pode recitar críticas esquerdistas sobre a América da mesma forma que Osama Bin Laden e Mohammed Zawahiri escreveram uma vez que foram radicalizados, em parte pelo fracasso de seus inimigos americanos em aceitar a reforma do financiamento de campanhas dos EUA e os remédios para as mudanças climáticas.

A China encoraja as Nações Unidas, e organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde, a virar seus megafones para os EUA — e indiciar a América por suas tensões raciais, como se a China, inveteradamente racista, também fosse vítima de uma histórica opressão branca.

Não há nada que a China goste mais do que ver nossas cidades fechadas em meio a tumultos, incêndios criminosos e saques, e nosso país condenado em fóruns internacionais. Isso leva a nações autenticamente não liberais a considerar os Estados Unidos como não liberais.

Os ingênuos

Quando as corporações americanas e os capitalistas veem um crescimento plano e temem lucros futuros inertes, eles procuram esperança na China comunista. As esperanças de recuperação pós-Covid da Disney aparentemente repousam na China. O público interno da NBA está diminuindo — à medida que seu lucrativo franchising na China aumenta. Michael Bloomberg levantou bilhões em capital ocidental para startups chinesas. A Microsoft de Bill Gates tem um relacionamento de 20 anos com as empresas subsidiárias do governo chinês.

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Nesse contexto, é surpresa que os filmes da Disney agora "agradeçam" seus funcionários comunistas chineses cooperativos quando realizam filmes no quintal dos campos de reeducação muçulmanos? É um choque que a Bloomberg nos assegure que a China não é um país autoritário? Steve Kerr, da NBA, detona a sociedade americana e oferece desculpas sobre a autocracia chinesa. Bill Gates, sem surpresa, nos adverte para não subestimar o valioso papel que a China desempenhou ao lidar de forma transparente com o vírus e sua disseminação.

A China acredita que a atual elite dos EUA é diferente daqueles que venceram a Segunda Guerra Mundial ou enviaram o homem para o espaço. Em seu desprezo, eles acreditam, em vez disso, que nossos melhores e mais brilhantes se tornaram ingênuos, flácidos, relativistas, globalistas, que facilmente se sentem culpados, ansiosos pelo arrependimento, decadentes e gananciosos – e podem continuar a ser, e fazer, tudo isso, enquanto se tornam ainda mais ricos com a China.

*Victor Davis Hanson é um classicista e historiador da Hoover Institution, da Universidade de Stanford, e autor de As segundas guerras mundiais: como o primeiro conflito global foi travado e vencido.

© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.