Pequim (AFP) – Ainda sob o efeito do escândalo da venda de sangue, que infectou milhares de camponeses com o vírus da aids, a China enfrenta atualmente um número crescente de contaminações por transfusões de sangue que o governo tenta ocultar. As principais vítimas destes contágios por transfusão de sangue contaminado são mulheres que deram à luz por cesárea ou que abortaram.

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Sem saber que eram portadoras do HIV, transmitiram o vírus a seus filhos e maridos. Estes dramas não aconteceram apenas em regiões rurais isoladas, mas em hospitais públicos das principais cidades chinesas, pelo menos até 1998.

"O que quero é que as autoridades investiguem para que as pessoas infectadas saibam que estão doentes e não transmitam o vírus aos demais", disse Shen Jieyong, um cabeleireiro de 34 anos, diretamente afetado pelo problema. A esposa de Jienyong contraiu o vírus da aids depois de uma transfusão de sangue a que foi submetida durante o nascimento de sua filha, em 1998. A mulher morreu no ano 2000 e a menina, de 8 anos, é soropositiva.

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As autoridades chinesas admitiram tardiamente o escândalo causado nos anos 90 com a venda de sangue contaminado por camponeses pobres de algumas províncias do país, principalmente de Henan. No entanto, Pequim prefere calar sobre aqueles que contraíram aids pela existência no país de sangue contaminado. As autoridades chinesas só proibiram a venda de sangue em 1995, enquanto há poucos anos ainda não havia regulamentado o controle nos bancos nacionais de sangue.

O drama chinês é um tema relativamente novo na guerra ao vírus HIV. Mas na véspera do dia mundial de combate à aids, há outros números alarmantes sobre a doença. Segundo dados recentes divulgados pelo órgão da ONU para o assunto, foram registrados ao longo do últimos 12 meses quase 5 milhões de novos casos. No mundo todo há nada menos que 40 milhões de pessoas infectadas pelo HIV (veja quadro).

Faltando apenas um mês para a expiração do prazo, a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de fornecer medicamentos antivirais a 3 milhões de portadores do HIV pobres até o fim de 2005 fracassou. Enquanto isso, o financiamento da guerra contra a aids torna-se uma dor de cabeça. Recursos que seriam destinados à luta contra a doença são enviados para sobreviventes de catástrofes naturais, como a tsunami na Ásia, o furacão Katrina nos EUA e o terremoto na Caxemira paquistanesa. Assim, não surpreende que o dia mundial de combate à aids tenha adotado para este ano um slogan sombrio: "Stop Aids. Keep the Promise" (Detenha a aids, mantenha a promessa), voltado para governos que prometeram doações para a causa.