A China relatou, na quarta-feira (13), a primeira morte por Covid-19 desde maio de 2020. Com o novo caso, o total de óbitos causados pelo novo coronavírus no país asiático chegou a 4.797, entre 97.867 infecções confirmadas oficialmente. Mas, se de acordo com as autoridades chinesas, a batalha contra o vírus já está ganha em seu território, as alegações ficam à sombra das acusações de censura e tentativa de acobertamento da pandemia por parte de Pequim.
O anúncio foi feito na semana em que as mortes causadas pelo Sars-CoV-2 no mundo ultrapassaram a marca de 2 milhões, pouco mais de um ano após a primeira detecção do vírus, na cidade chinesa de Wuhan. Também nesta semana, uma equipe de pesquisadores que investigará as origens do coronavírus começou a chegar na China. A permissão para a entrada dos pesquisadores foi dada depois de quase um ano de negociações diplomáticas entre a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Pequim, que tem tentado mudar a narrativa sobre o surgimento do novo coronavírus.
A mídia estatal chinesa promoveu intensivamente, no segundo semestre do ano passado, relatos de possíveis casos de Covid-19 descobertos fora da China antes de dezembro de 2019. O objetivo da campanha era sugerir que a pandemia de coronavírus não surgiu no seu território.
Os números oficiais de casos da infecção na China surpreendem, no momento em que vários países pelo globo enfrentam novas ondas de contágios e têm dificuldades de controlar a pandemia. Recordes de transmissões e mortes têm sido vistos nas últimas semanas em países como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, que correm para vacinar sua população em meio a um rápido aumento dos contágios, em parte provocados por novas variantes mais transmissíveis do vírus.
A origem do coronavírus na China continua envolta em mistério. Ainda não se sabe como o vírus surgiu e passou a infectar humanos. Mas a tentativa da China de esconder os primeiros casos da doença e a falha em alertar o resto do mundo sobre o perigo do surto são conhecidas.
Uma reportagem da CNN revelou, no início de dezembro, evidências da tentativa de acobertamento do surto inicial pelo regime autoritário chinês. Um relatório de 117 páginas de registros internos das autoridades de saúde da província de Hubei, onde está situada Wuhan, obtido pela rede de notícias, mostra uma contagem de casos da então desconhecida infecção respiratória muito mais alta do que a soma que foi divulgada à população chinesa e ao mundo.
Em janeiro de 2020, quando informações sobre a nova doença respiratória seriam críticas para que o mundo pudesse se preparar, o governo chinês omitiu o que conhecia. Autoridades da China já sabiam que o novo vírus podia ser transmitido de pessoa para pessoa no começo de janeiro, mas não falou sobre isso publicamente até 20 de janeiro.
A subnotificação dos casos de Covid-19 pela China no início da pandemia prejudicou a capacidade global de entender a severidade do surto em Wuhan, disse à Time o pesquisador de epidemiologia de doenças infecciosas Ben Cowling, da Universidade de Hong Kong, em entrevista no ano passado.
A preocupação de que a China continue tentando esconder alguma coisa surgiu novamente no fim do ano passado, quando Pequim decidiu processar a jornalista cidadã Zhang Zhan, que foi para Wuhan no início da pandemia e publicou vídeos sobre a propagação da doença nas fases iniciais da pandemia. Ela foi detida em Shanghai e condenada, em 28 de dezembro, a quatro anos de prisão por "causar problemas", uma acusação frequentemente usada para silenciar dissidentes na China.
No domingo, a China relatou 109 novos casos confirmados de Covid-19, a maioria deles na província de Hebei, onde está localizada Pequim, e nenhuma morte.
O governo chinês está construindo hospitais com 9.500 quartos na província de Hebei para combater o aumento dos casos, segundo a Comissão Nacional de Saúde, que colocou a culpa pelo aumento de casos em bens importados e viajantes que trouxeram o vírus do exterior.
EUA pressionam por investigação
Em uma sequência de tuítes em que denuncia a má conduta de Pequim em diversas áreas, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, acusou o governo chinês de "lançar um vírus ao mundo" e defendeu uma investigação completa e transparente sobre as origens da Covid-19.
"Vírus de Wuhan: O PCC [Partido Comunista da China] o encobriu. O PCC desapareceu com os médicos que sabiam. O PCC ainda se recusa a deixar o mundo entrar para ver o que forjou. O PCC mentiu sobre a origem do vírus", acusou Pompeo em seu perfil do Twitter no sábado (16).
Missão investigará origem da pandemia
A equipe da OMS inclui membros dos Estados Unidos, Austrália, Alemanha, Japão, Reino Unido, Rússia, Países Baixos, Qatar e Vietnã. Na semana passada, dois pesquisadores que já haviam iniciado a viagem souberam que seus vistos haviam sido negados por Pequim. Após críticas da OMS, a China afirmou que o caso não passou de um "mal entendido". Os pesquisadores esclareceram que o objetivo da missão não é encontrar culpados, mas sim descobrir como o novo coronavírus passou a infectar humanos, um informação essencial para evitar novas pandemias.
Dois membros da missão tiveram que interromper a viagem em Singapura, depois que seus testes detectaram anticorpos contra o coronavírus. O restante da equipe chegou a Wuhan e começou a quarentena obrigatória de 14 dias antes de começar a trabalhar na investigação.
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