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Mulheres com bebês em Pequim: segundo país mais populoso do mundo vive crise demográfica
Mulheres com bebês em Pequim: segundo país mais populoso do mundo vive crise demográfica| Foto: EFE/EPA/WU HONG

Na primeira semana de setembro, a China anunciou a nova ação de um conjunto de medidas para tentar frear a queda de população: não permitirá mais a adoção de crianças chinesas por cidadãos de outros países.

O programa, criado em 1992, permitiu que famílias estrangeiras adotassem mais de 160 mil crianças chinesas, das quais pouco mais da metade foram acolhidas por cidadãos dos Estados Unidos, segundo reportagem da agência Reuters, citando dados da China’s Children International (CCI), organização internacional voltada a adotados chineses.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse que o objetivo da ditadura de Pequim é estar “alinhada” às tendências internacionais. As únicas exceções serão casos de adoção por parentes de sangue estrangeiros dentro de três gerações.

“Expressamos nossa gratidão aos governos e famílias estrangeiros que desejam adotar crianças chinesas, por suas boas intenções e pelo amor e gentileza que demonstraram”, disse Mao no anúncio da mudança, que ocorre num momento de grave crise demográfica no (agora) segundo país mais populoso do mundo.

Em 2022, a China perdeu população pela primeira vez desde 1961, quando houve queda no número de habitantes devido à Grande Fome durante a ditadura de Mao Tsé-Tung. No ano passado, houve nova queda, de 2,75 milhões de habitantes, mais que o dobro do ano anterior, quando o saldo negativo havia sido de 850 mil.

Com as taxas de natalidade já em baixa, em 2015 a ditadura comunista mudou a política do filho único – que desde 1979 estipulava esterilizações e abortos forçados e multas e outras punições aos casais que tivessem mais de uma criança – e passou a permitir dois filhos por casal.

Em maio de 2021, autorizou três filhos por casal, e dois meses depois retirou as punições para quem não respeitar a regra, na prática, liberando as famílias para que tenham quantas crianças quiserem.

Ainda assim, as taxas de natalidade seguiram em queda, o que levou, antes da proibição da adoção por estrangeiros, o governo da China a adotar várias medidas, como apps estatais de namoro e subsídios para que casais tenham mais filhos. Por ora, essas medidas não têm surtido o efeito desejado pelo regime chinês.

O alto custo de vida e a preocupação com as carreiras profissionais estão entre os motivos para que jovens casais adiem o momento ou até desistam de ter filhos.

“Meu marido e eu queremos ter um filho, mas não podemos custear isso agora”, disse Wang Chengyi, uma mulher de 31 anos de Pequim, em entrevista à BBC News.

“Eu quero engravidar enquanto sou jovem, pois é melhor para a minha saúde. No entanto, eu simplesmente não tenho dinheiro suficiente agora, então tenho que adiar. É uma pena e às vezes isso me dá pânico”, relatou.

Política do filho único, mesmo extinta, influencia taxas de natalidade na China

Quedas das taxas de natalidade geram preocupação, porque a redução da porcentagem da população jovem gera incerteza sobre reposição de mão de obra e custos para manter os idosos (tanto previdenciários quanto de sistemas de saúde).

A China não está sozinha nesse desafio, porque vizinhos como Japão e Coreia do Sul também enfrentam quedas agudas nesse indicador.

Porém, décadas de filho único parecem gerar um peso adicional à realidade chinesa. Em um artigo publicado no final de 2021, a chinesa Helen Gao, analista da revista americana Foreign Policy, disse que a política “deixou uma impressão permanente na vida familiar” do país e segue influenciando as taxas de natalidade.

Ela destacou que a China tem milhões de adultos que cresceram como filhos únicos e “não conseguem encontrar nenhum outro modelo que possa servir de guia”: criados como “pequenos imperadores”, com atenção plena e sem precisar dividir nada com ninguém, buscam ter no máximo um filho para que ele tenha “o que os pais tiveram”, o que se torna mais difícil se há mais de uma criança na família – ainda mais com o crescimento do custo de vida. Em muitos casos, a opção é sequer ter filho algum.

Gao também destacou o desequilíbrio causado pela preferência por filhos homens enquanto a política vigorou – o que levou a um número muito maior de abortos de meninas. Como resultado, a China tem hoje 30 milhões de homens em “idade de casar” a mais do que mulheres, segundo estimativas do governo, ressaltou a analista.

“O Partido Comunista Chinês já saudou a política do filho único como um grande acerto de planejamento político que ajudou a aliviar a superpopulação global. Agora, está sofrendo com suas consequências internas”, escreveu Gao.

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