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Xinjiang

China quer transformar inferno dos uigures em paraíso dos turistas

O Grande Bazar Internacional de Xinjiang, em Urumqi: departamento de turismo local tem este ano o dobro do orçamento do pré-pandemia e grandes redes hoteleiras planejam investimentos bilionários (Foto: Wikimedia Commons)

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Após anos de gravíssimas violações de direitos humanos, que geraram acusações de genocídio, a China quer transformar um local de vergonha para a ditadura comunista numa fonte de bilhões de yuans – e também tentar limpar sua imagem a respeito dessa agressão.

Uma reportagem publicada este mês pela agência France-Presse informou que o território autônomo de Xinjiang, no noroeste da China, é o foco de uma nova política de turismo do Estado. O departamento de turismo da região deve gastar este ano mais de 700 milhões de yuans (cerca de R$ 483 milhões), mais do que o dobro do orçamento de 2019, antes da pandemia de Covid-19.

Entre os novos projetos anunciados para Xinjiang, estão parques para campistas, rotas ferroviárias turísticas, parques temáticos e hotéis de luxo: segundo o jornal estatal Diário do Povo, grandes marcas hoteleiras, como Hilton, Sheraton e InterContinental, devem investir 12,6 bilhões de yuans (R$ 8,7 bilhões) na região.

O possível novo paraíso dos turistas é palco do inferno dos uigures, uma etnia majoritariamente muçulmana que habita principalmente Xinjiang.

Nos últimos anos, a ONU, grupos de direitos humanos e inúmeros relatos denunciaram encarceramento em massa de integrantes desta etnia na região (sob pretexto de combate ao extremismo), tortura, violência sexual, execuções, perseguição religiosa e limpeza étnica – que consistiu na orquestração da imigração de pessoas da etnia han, majoritária na China, e emigração de uigures por meio de encarceramento, dessa forma dificultando a perpetuação desta etnia, além de esterilizações e abortos forçados e transferência forçada de crianças.

Esse processo, no qual mais de 1 milhão de uigures foram presos, foi classificado pelos Estados Unidos como genocídio. No final de 2021, o Congresso americano aprovou uma lei que proíbe as importações de Xinjiang, devido a uma “presunção refutável” de que todos os produtos da região são fabricados por meio de trabalhos forçados. São abertas exceções apenas nos casos em que for comprovado que esse tipo de mão de obra não foi utilizado.

A China nega as acusações, mas nas entrelinhas admite a repressão aos uigures. Em agosto, o ditador Xi Jinping esteve em Xinjiang e exortou as autoridades locais a “aprofundar ainda mais a sinização do Islã e efetivamente controlar as atividades religiosas consideradas ilegais”.

ONG pede que agências de viagens não vendam pacotes para Xinjiang

Enquanto a perseguição continua – na semana passada, foi revelado que uma professora universitária uigur foi condenada à prisão perpétua pelo crime de “separatismo” –, organizações de representação dos uigures manifestam revolta com a intenção de transformar Xinjiang num local turístico.

No final de agosto, a ONG Projeto de Direitos Humanos dos Uigures (UHRP, na sigla em inglês), sediada nos Estados Unidos, criticou agências de viagens internacionais que oferecem passeios em Xinjiang.

“Locais em Kashgar, Turpan, Urumqi [cidades da região] e outros destinos nos itinerários turísticos estão ligados ao genocídio e crimes contra a humanidade por meio da repressão da crença e expressão religiosa, da destruição do patrimônio cultural tangível e imaterial, bem como da discriminação racial em grande escala, da vigilância e do internamento e prisão de uigures e outros povos túrquicos”, afirmou a UHRP em comunicado.

A ONG destacou que tais agências de viagens reforçam narrativas da ditadura chinesa que apresentam os uigures como um povo “exótico” para fins de consumo turístico e que muitos destes passeios proporcionam “experiências” questionáveis, “como visitas a casas de uigures, que as famílias não estão em posição de recusar, devido ao ambiente de securitização e controle estatal”.

“Ao trazer turistas para o Turquestão Oriental [como a UHRP chama Xinjiang], estas agências de viagens estão implicitamente apoiando a normalização das políticas genocidas do governo chinês destinadas a destruir a identidade uigur”, argumentou a UHRP, que pediu que esses pacotes deixem de ser vendidos por agências de viagens.

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