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Ásia

China reconhece necessidade de mudar o modelo de crescimento

Sting: sem dom para as rimas | Arquivo Gazeta do Povo
Sting: sem dom para as rimas (Foto: Arquivo Gazeta do Povo)

Pequim – Num discurso de 2h25min transmitido ao vivo pela tevê, o presidente da China, Hu Jintao, abriu ontem o 17.º Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCC) reafirmando a necessidade de o partido continuar no comando das reformas que vêm modernizando o país, mas anunciando uma mudança no padrão de crescimento para os próximos anos capaz de tirar da China a pecha de país poluidor, paraíso da pirataria e gerador de desníveis cada vez maiores entre ricos e pobres.

Segundo Hu, que prevê o fim do processo de industrialização da China em 2020, quando os chineses terão sua renda per capita quadruplicada (hoje é US$ 2.042), o atual modelo de crescimento chinês — fortemente dependente de investimentos e exportações, focado na indústria, poluidor, baseado em larga e desqualificada mão-de-obra e no consumo descontrolado de matérias-primas — será substituído por um modelo mais racional. "Faremos a transição de uma economia dependente de investimentos e exportações para uma combinação onde o consumo doméstico será igualmente importante. O perfil da economia, hoje em processo de industrialização, vai incluir também o desenvolvimento do setor de serviços. E em vez da ênfase no uso intensivo de recursos naturais e mão-de-obra, vamos priorizar o desenvolvimento tecnológico e científico, a qualificação do trabalho e a gerência focada na inovação", afirmou.

Hu Jintao colocou no centro de seu mais importante pronunciamento desde que passou a ocupar o posto de secretário-geral do PCC, em 2002, temas novos considerados secundários por muitos dentro do partido, como o estímulo à inovação, à conservação ambiental, ao consumo racional de energia e à redução nos desníveis entre campo e cidade, ricos e pobres. Ou seja, a China entra num novo ciclo de reformas com o objetivo de alcançar o crescimento sustentável.

Para isso, Hu não se furtou em citar várias vezes teses do reformador Deng Xiaoping, o líder que abriu o país às idéias capitalistas, como a "emancipação da mente" (abrir-se às mudanças) ou a "prosperidade para todos". Mao Tsé-tung foi citado poucas vezes e, ainda assim, sua acirrada defesa da tese de luta de classes como motor revolucionário foi duramente criticada. "Parar ou mudar o curso das reformas só vai nos levar a um beco sem saída", disse Hu.

Análise

Não se deve esperar mudanças radicais após o Congresso. A maior parte das decisões estão sendo apenas anunciadas – elas foram decididas há algum tempo, exclusivamente entre os altos funcionários. De qualquer forma, o Congresso serve para mostrar quais as diretrizes que o Estado chinês pretende seguir no curto prazo. Outra boa indicação que deve surgir até o fim do evento é sobre a sucessão de Hu. O atual presidente deve ficar no poder apenas até 2012, até o próximo Congresso, e os candidatos a sucedê-lo ganharão poder no Congresso atual.

Para Leonardo Arquimimo de Carvalho, pesquisador da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, a China possui hoje quatro grandes desafios: a corrupção, o desenvolvimento sustentável, a política externa e os destinos da revolução (a revisão ou não dos princípios da revolução).

"Os grandes espinhos da China estão na política externa: Tibet, Taiwan, a capacidade da China de inteferir nas políticas de alguns Estados associados a ela, o controle sobre os países da Indochina, a questão fronteiriça do Afeganistão e Paquistão, tudo isso é um conjunto de dificuldades que o país terá de enfrentar. Esse congresso vai mostrar as linhas mestras que serão adotadas e efetivamente vai mostrar quais os limites da política externa da China nos próximos anos", diz Arquimimo.

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