Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Primeiro dia

País propõe acordo de paz com Taiwan

Pequim – Em meio a tensões crescentes entre os líderes de China e Taiwan, o presidente chinês, Hu Jintao, fez ontem um surpreendente convite ao diálogo com os líderes da ilha em busca da assinatura de um acordo de paz capaz de pôr fim ao "estado de hostilidade" que vigora entre os dois lados do estreito de Taiwan desde 1949 — quando os nacionalistas chineses fugiram após a guerra civil.

Em seu discurso de abertura do Congresso do PCC, Hu alertou Taiwan sobre suas intenções de declarar-se formalmente independente da China. Mas, ao contrário do discurso de líderes anteriores — mais repleto de ameaças que de gestos de conciliação — Hu não fez ameaças declaradas à ilha.

O porta-voz do governo de Taiwan, Hsieh Jyh-wey, rechaçou a oferta de Hu, que, em seu discurso, acusou "forças independentistas" da ilha de erguerem "sérios obstáculos às relações entre China e Taiwan".

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Pequim – Num discurso de 2h25min transmitido ao vivo pela tevê, o presidente da China, Hu Jintao, abriu ontem o 17.º Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCC) reafirmando a necessidade de o partido continuar no comando das reformas que vêm modernizando o país, mas anunciando uma mudança no padrão de crescimento para os próximos anos capaz de tirar da China a pecha de país poluidor, paraíso da pirataria e gerador de desníveis cada vez maiores entre ricos e pobres.

Segundo Hu, que prevê o fim do processo de industrialização da China em 2020, quando os chineses terão sua renda per capita quadruplicada (hoje é US$ 2.042), o atual modelo de crescimento chinês — fortemente dependente de investimentos e exportações, focado na indústria, poluidor, baseado em larga e desqualificada mão-de-obra e no consumo descontrolado de matérias-primas — será substituído por um modelo mais racional. "Faremos a transição de uma economia dependente de investimentos e exportações para uma combinação onde o consumo doméstico será igualmente importante. O perfil da economia, hoje em processo de industrialização, vai incluir também o desenvolvimento do setor de serviços. E em vez da ênfase no uso intensivo de recursos naturais e mão-de-obra, vamos priorizar o desenvolvimento tecnológico e científico, a qualificação do trabalho e a gerência focada na inovação", afirmou.

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Hu Jintao colocou no centro de seu mais importante pronunciamento desde que passou a ocupar o posto de secretário-geral do PCC, em 2002, temas novos considerados secundários por muitos dentro do partido, como o estímulo à inovação, à conservação ambiental, ao consumo racional de energia e à redução nos desníveis entre campo e cidade, ricos e pobres. Ou seja, a China entra num novo ciclo de reformas com o objetivo de alcançar o crescimento sustentável.

Para isso, Hu não se furtou em citar várias vezes teses do reformador Deng Xiaoping, o líder que abriu o país às idéias capitalistas, como a "emancipação da mente" (abrir-se às mudanças) ou a "prosperidade para todos". Mao Tsé-tung foi citado poucas vezes e, ainda assim, sua acirrada defesa da tese de luta de classes como motor revolucionário foi duramente criticada. "Parar ou mudar o curso das reformas só vai nos levar a um beco sem saída", disse Hu.

Análise

Não se deve esperar mudanças radicais após o Congresso. A maior parte das decisões estão sendo apenas anunciadas – elas foram decididas há algum tempo, exclusivamente entre os altos funcionários. De qualquer forma, o Congresso serve para mostrar quais as diretrizes que o Estado chinês pretende seguir no curto prazo. Outra boa indicação que deve surgir até o fim do evento é sobre a sucessão de Hu. O atual presidente deve ficar no poder apenas até 2012, até o próximo Congresso, e os candidatos a sucedê-lo ganharão poder no Congresso atual.

Para Leonardo Arquimimo de Carvalho, pesquisador da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, a China possui hoje quatro grandes desafios: a corrupção, o desenvolvimento sustentável, a política externa e os destinos da revolução (a revisão ou não dos princípios da revolução).

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"Os grandes espinhos da China estão na política externa: Tibet, Taiwan, a capacidade da China de inteferir nas políticas de alguns Estados associados a ela, o controle sobre os países da Indochina, a questão fronteiriça do Afeganistão e Paquistão, tudo isso é um conjunto de dificuldades que o país terá de enfrentar. Esse congresso vai mostrar as linhas mestras que serão adotadas e efetivamente vai mostrar quais os limites da política externa da China nos próximos anos", diz Arquimimo.