A China, que tem poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, rejeitou nesta terça-feira uma proposta americana para ordenar que o Irã suspenda o enriquecimento de urânio, sob pena de enfrentar sanções e até ações militares.
Uma vez que China e Rússia se opõem às sanções contra o Irã, o Ocidente pretende ampliar gradualmente a pressão para convencer Teerã a paralisar seu programa nuclear. Na sexta-feira, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU) entrega ao Conselho de Segurança um relatório dizendo se o Irã cumpriu ou não as últimas exigências da comunidade internacional.
Como primeiro passo, as potências ocidentais querem uma resolução do Conselho que transforme as exigências feitas em uma declaração anterior em ordens de cumprimento obrigatório, com amparo do artigo 7o. da Carta das Nações Unidas.
Mas o embaixador chinês na ONU, Wang Guangya, disse a jornalistas que "sempre foi posição da China que esta questão nuclear iraniana deve ser resolvida diplomaticamente".
"Portanto, acho que qualquer resolução baseada no artigo 7. não servirá ao propósito em vista."
- Acreditamos que o próximo passo seja uma resolução do artigo 7. tornando obrigatório (o cumprimento) das resoluções existentes da AIEA - disse o embaixador dos EUA, John Bolton.
Evocar o artigo 7. torna qualquer resolução da ONU de cumprimento obrigatório. Esse artigo também autoriza sanções e até a guerra, mas uma nova resolução seria necessária para especificar cada etapa.
Um diplomata do Conselho disse, sob anonimato, que Estados Unidos, Grã-Bretanha e França tentam garantir a Rússia e China que a resolução em questão "não vai além do que diz".
Mas o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, que já atuou na ONU, disse que o artigo 7o. remete às resoluções do Conselho contra o Iraque, interpretadas em 2003 pelos EUA como base jurídica para a invasão do país.
Porém, as resoluções da ONU contra o regime de Saddam Hussein se prolongaram durante mais de uma década, a partir da guerra do Golfo (1991), com alguns intervalos.
Embora Bolton diga que os cinco membros permanentes do Conselho - EUA, França, Grã-Bretanha, China e Rússia, todos com poder de veto - vão começar a se reunir nesta semana, Wang questionou se o assunto diz respeito ao Conselho.
Segundo ele, países não-identificados pediram que "a direção da AIEA se reúna antes do Conselho" para avaliar o relatório da agência nuclear.
Em Berlim, um diplomata europeu afirmou que Rússia e China querem enfatizar o primado da direção da AIEA neste caso.
O diplomata disse que o objetivo de Pequim e Moscou é adiar qualquer ação da ONU até depois da reunião de junho da AIEA, como forma de conter os ânimos dos EUA.
Wang disse também que seria prematuro contemplar uma resolução antes da reunião de 2 de maio em Paris entre funcionários dos cinco membros permanentes do Conselho, mais a Alemanha.
Os EUA e seus aliados acusam o Irã de desenvolver armas nucleares. Teerã afirma que seu programa atômico se destina apenas à geração de energia com fins pacíficos.