Autoridades chinesas estão utilizando apps que monitoram se o usuário esteve em regiões com alto risco de contaminação por Covid-19 ou em contato com alguém com a doença para restringir deslocamentos de críticos ao governo, apontou reportagem da agência EFE publicada esta semana.
O material traz o depoimento do advogado chinês Xie Yang, que relatou que no início de novembro, quando faria uma viagem da cidade de Changsha para Xangai, um código no aplicativo no seu celular mudou da cor verde para vermelha, o que o impediu de sequer acessar o aeroporto.
Xie viajaria para se encontrar com a mãe de Zhang Zhan, jornalista presa no início da pandemia após ter feito reportagens questionando a forma como a ditadura chinesa lidou com a proliferação de casos de Covid-19 e que estaria “perto da morte” após meses de greve de fome, segundo sua família.
O advogado relatou que no dia seguinte a cor do código do app voltou a ficar verde, mas a viagem já não teria como ser feita. Xie contou à EFE que pediu uma explicação na Comissão Municipal de Saúde, onde alegou que não havia estado em nenhuma área declarada de médio ou alto risco de Covid-19, nem em contato com qualquer pessoa com sintomas.
A própria comissão confirmou à EFE que Changsha, da qual Xie diz não ter saído nas duas semanas anteriores, não foi declarada naquele período como área de risco relevante de contágio. Porém, não deu resposta ao advogado.
A também advogada Wang Yu relatou situação parecida: um aplicativo de saúde de Pequim a obrigou a informar os locais visitados nos 14 dias anteriores, procedimento padrão em viagens, mas as únicas opções disponíveis eram locais com surtos da doença – portanto, se ela os selecionasse, seria impedida de entrar na capital.
Seu marido, Bao Longjun, ao tentar retornar a Pequim, teve como única opção no aplicativo Changzhou, cidade com alto risco de contaminação por Covid-19, onde ele nunca esteve.
“Não poderei voltar (a Pequim) se preencher o formulário assim. Depois de registrar uma reclamação (por telefone), eles removeram Changzhou (como o único destino elegível). Mas agora tenho um código amarelo (que restringe deslocamentos e impõe quarentena)”, disse à EFE.
A Anistia Internacional informou à EFE que as autoridades chinesas há muito usam o sistema de registro nominal para rastrear defensores de direitos humanos ou para restringir seus deslocamentos, mas que esta foi a primeira vez que a organização tomou conhecimento de casos em que o governo chinês usou aplicativos de saúde para esse objetivo.
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