Presidente da China, Xi Jinping, discursa durante a cerimônia da abertura da reunião de cúpula entre a China e os países da África| Foto: MADOKA IKEGAMI/AFP

O presidente chinês, Xi Jinping, anunciou US$ 60 bilhões em ajuda e empréstimos para a África nesta segunda-feira, ao receber 40 dos líderes do continente em Pequim, dizendo que o dinheiro vai ser direcionado sem expectativa de nada em troca.

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Pequim rejeitou as críticas de que estaria prejudicando os países mais pobres, com pesadas dívidas que teriam dificuldade de pagar. Ele retratou o governo chinês como um país magnânimo motivado a compartilhar sua experiência de rápida industrialização. 

"O investimento da China na África não vem com nenhuma condição política, nem vai interferir na política interna, nem fazer exigências que os países sintam serem difíceis de cumprir", disse Xi durante um discurso no Fórum de Cooperação China-África na segunda-feira. 

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O destino dos recursos chineses 

O dinheiro será aplicado em projetos de infraestrutura destinados a ajudar a acelerar o desenvolvimento dos países africanos, e não em "projetos de vaidade", disse Xi. 

Os detalhes foram vagos, mas os US$ 60 bilhões incluem US$ 15 bilhões em doações, empréstimos sem juros e empréstimos em condições favoráveis, US$ 20 bilhões em linhas de crédito e um fundo especial de US$ 10 bilhões para financiar o desenvolvimento. As empresas chinesas também seriam incentivadas a investir pelo menos US $ 10 bilhões na África nos próximos três anos, informou a mídia estatal. 

O pacote delineado por Xi também inclui assistência médica, proteção ambiental, treinamento e assistência agrícola, bolsas de estudo e treinamento profissional para mais de 100 mil jovens africanos. 

No último fórum, realizado em Johanesburgo (África do Sul) há três anos, Xi também prometeu US$ 60 bilhões em investimentos. Ele disse na segunda-feira que este dinheiro já havia sido concedido ou reservado. O último anúncio representou uma segunda rodada de US $ 60 bilhões. 

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O programa faz parte da iniciativa mais ampla da Nova Rota da Seda, um ambicioso projeto de US$ 120 bilhões que visa integrar 65 países na Europa, Ásia e África – que representam quase dois terços da população mundial – por meio de projetos de infraestrutura e de comércio. 

Em um momento em que o presidente Donald Trump está partindo para confrontos comerciais com os vizinhos e aliados dos Estados Unidos, o líder chinês parece estar gostando da oportunidade de aparecer como um estadista internacional popular e defensor da ordem econômica liberal. 

Durante dois dias seguidos, todas as manchetes na primeira página do Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista Chinês, começaram com as palavras "Xi Jinping ..." quando o presidente se reuniu com os líderes de países como Angola, Gabão, Maurício e o Senegal. Ele também recebeu o ditador sudanês, Omar al-Bashir, que foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e contra a humanidade. 

Nas últimas duas décadas, a China deixou de ser um investidor relativamente pequeno na África para se converter no maior parceiro econômico do continente, com um comércio bilateral crescendo cerca de 20% ao ano, segundo um relatório da consultoria McKinsey no ano passado. O investimento estrangeiro direto cresceu ainda mais rápido na última década, cerca de 40% ao ano. 

Críticos temem um colonialismo por parte da China 

Mas críticos dizem que, com muitos de seus projetos de infraestrutura, a China está atraindo os países necessitados para uma armadilha de endividamento. É o caso do Sri Lanka, que no ano passado não teve outra alternativa se não conceder à China um arrendamento de 99 para um porto da iniciativa da Nova Rota da Seda, após não conseguir atrair recursos suficientes para fazer seus pagamentos de empréstimos. 

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No mês passado, o primeiro-ministro da Malásia, Mahathir Mohamad, cancelou mais de US $ 20 bilhões em projetos de infraestrutura chineses, argumentando que estava preocupado em como pagá-los. "Não queremos uma situação em que haja uma nova versão do colonialismo, porque os países pobres são incapazes de competir com os países ricos", disse ele durante uma visita a Pequim. 

Os analistas levantaram preocupação em relação aos países africanos, muitos dos quais estão sujeitos ao sobe-e-desce dos mercados de commodities, não sendo capazes de pagar empréstimos chineses. 

Os três países mais vulneráveis a grandes dívidas com a China são Djibuti, Congo e Zâmbia, dizem acadêmicos da Iniciativa de Pesquisa China-África da Universidade Johns Hopkins. A Zâmbia, que tem um PIB de US $ 19,5 bilhões, de acordo com o Banco Mundial, recebeu US$ 6,4 bilhões em empréstimos da China, escreveram os pesquisadores em um comunicado no mês passado. 

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Mas o presidente ruandês, Paul Kagame, que atualmente preside a União Africana, disse que em vez de ver o investimento como uma "armadilha de endvidamente ", outros países deveriam estar perguntando por que não estão dando assistência à África tanto quanto a China. "Nós nos beneficiamos muito com o apoio da China para nossos programas sociais e econômicos, e isto continuou fortalecendo a parceria entre a China e Ruanda", disse Kagame ao jornal estatal Diário do Povo. 

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Ele também criticou Trump, dizendo que o fórum "pode mostrar ao mundo como os países podem trabalhar de forma colaborativa em uma época em que questões como o protecionismo comercial continuam a fermentar". 

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, também rejeitou sugestões de que a China esteja se aproveitando do continente. Os líderes "refutam a visão de que um novo colonialismo está se consolidando na África, como nossos detratores querem que acreditemos", disse ele ao fórum. 

A mídia estatal chinesa tem explicado agressivamente por que esse investimento é bom para o continente - e posiciona Xi como o defensor do povo africano. "A África ainda está no estágio inicial de industrialização e o processo provavelmente entraria em colapso sem o crescimento sustentável do investimento", informou o jornal Global Times no domingo. “Os empréstimos chineses podem ajudar os países africanos a melhorar sua infraestrutura.” 

A exceção 

Toda a África está competindo por esses recursos, com exceção de um país: eSwatini, uma monarquia absolutista anteriormente conhecida como Suazilândia. 

O minúsculo reino está ausente da cúpula africana desta semana e parece não ter planos de comparecer nas próximas. É a última nação africana que ainda reconhece Taiwan como um país independente, para grande consternação da liderança chinesa em Pequim, que considera Taiwan uma província rebelde. 

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O ministro das Relações Exteriores de eSwatini, Mgwagwa Gamedze, recentemente enfatizou o compromisso do reino com Taiwan. “Nossa relação com Taiwan é de mais de 50 anos, então não os abandonaremos . 

A China rejeitou sem entusiasmo as críticas de eSwatini. O enviado de Pequim para a África, Xu Jinghu, disse recentemente que "nesta questão não vamos exercer nenhuma pressão. Vamos esperar que o tempo esteja certo ... Eu acredito que este dia chegará mais cedo ou mais tarde." 

O reino é agora o único aliado africano de Taiwan e pertence a um grupo cada vez menor de apoiadores em todo o mundo, à medida que a China aumentou a pressão internacional para mudar de lado. Quando se trata de China e Taiwan, os países precisam escolher entre os dois, já que Pequim se recusa a estabelecer laços diplomáticos com nações que reconhecem a independência de Taiwan. 

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Pequim nega o uso de ajuda financeira para persuadir as nações a cortar os laços com Taiwan, mas a República Dominicana disse, em maio, que rompeu com Taiwan para aceitar US$ 3,1 bilhões em empréstimos da China. Burkina Faso seguiu os passos alguns dias depois. E depois que El Salvador cortou os laços com Taiwan em agosto, Taipé afirmou que o país da América Central havia pedido anteriormente uma "quantia astronômica" de ajuda.  

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Então, por que o reino da Suazilândia é a última fortaleza de Taiwan na África? Há principalmente uma razão: o rei Mswati 3°, que governa o país há mais de 32 anos e ganhou a reputação de enriquecer a si mesmo e seus aliados, enquanto a população é uma das mais pobres do mundo. 

Enquanto o investimento chinês na África tem provocado críticas por temores de que Pequim atrair os países para uma "armadilha da dívida", os críticos de Mswati observaram melancolicamente como o financiamento, pelo menos por enquanto, resultou em crescimento e emprego em outros lugares. 

Taiwan pode acusar regularmente a China de usar dinheiro para comprar lealdade, mas para preservar os poucos amigos internacionais que ainda possui, investiu de forma pesada em projetos de infraestrutura locais ou em bolsas de estudo estabelecidas na Suazilândia. Mswati retornou o favor, visitando Taiwan 17 vezes até agora.