Vigília no Victoria Park, em Hong Kong, lembra os 24 anos do massacre da Praça da Paz Celestial| Foto: Reuters/Bobby Yip

A China vive nesta terça-feira (4) o 24º aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial com um novo líder, Xi Jinping, embora sem mudanças na hora de aplicar a censura e a repressão para silenciar este triste capítulo de sua história.

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Na madrugada de 4 de junho de 1989, entre centenas e milhares de estudantes morreram na praça (o número nunca foi confirmado com exatidão). Os manifestantes estavam há semanas na Praça da Paz Celestial, no coração de Pequim, pedindo democracia, e nesta noite foram atingidos pelos disparos e carros de combate do exército chinês.

Desde então, o regime chinês aplicou uma ferrenha censura e uma dura repressão a tudo o que é relacionado com o 4 de junho, o que inclui o encarceramento e prisão domiciliar (52 atualmente no país, segundo a imprensa independente).

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Desde o massacre, todos os governos que a China tiveram perseguiram os sobreviventes do episódio e aumentaram o controle sobre seus familiares e os ativistas que buscam esclarecer o evento. Muitos, até hoje, seguem na prisão.

Para uma das fundadoras do grupo "Mães da Praça da Paz Celestial", Ding Zilin, que luta para conhecer a verdade da noite em que perdeu seu único filho na ponte de Muxidi, onde começaram os primeiros disparos, a chegada ao poder do novo presidente "não mudou nada".

Em entrevista, Ding denúncia o forte controle a que são submetidas as famílias e organizações relacionados ao conflito. A própria ativista não pode ser visitada em sua casa, que permanece custodiada pela polícia.

"Nos sentimos muito frustrados com Xi. O problema é grave, a China não pode passar 30 anos sem investigar o ocorrido: dez anos com Jiang Zemin, dez com Hu Jintao e agora outros dez com Xi Jinping", questiona a mãe da Praça da Paz, que pede ao novo líder que deixe de lado "o sonho chinês" e inicie reformas políticas.

Ding garante, no entanto, que não abandonará a luta, principalmente contra o esquecimento, uma das tarefas mais urgentes para uma associação cuja maioria dos membros tem uma média de 80 anos e que precisa lidar com os que por medo não contam o que viveram.

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"Alguns sobreviventes se mantêm calados. Não querem represálias para os seus parentes", explica Ding.

Esta é a mesma opinião do jornalista Dan Southerland, que trabalhava no The Washington Post na época do massacre e que acompanhou as manifestações estudantis e a noite da tragédia: "Os pais tendem a proteger seus filhos não contando a verdadeira história".

No entanto, o bloqueio não é total, apesar do 4 de junho não aparecer nos livros de texto nem na imprensa oficial.

Isto pode ser confirmado por universitários em Pequim, que afirmam que "os jovens de hoje sabem", embora pouco, sobre o que ocorreu, apesar das limitações para se encontrar informações. Na internet, o interesse pelo tema era evidente hoje, embora as buscas não produzissem resultados.

A paranoia do regime chegou inclusive a bloquear a palavra "hoje" ou "grande pato amarelo", após ter circulado na segunda-feira (3) na internet uma montagem da histórica foto do desconhecido manifestante enfrentando uma fileira de tanques na praça, com patos gigantes no lugar dos veículos.

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A fotografia foi a referência para o mundo ocidental da tragédia ocorrida na China, onde não será realizado nenhum ato público em memória do episódio, com exceção de uma vigília na ilha de Hong Kong, região com maior independência.

Muitas ONGs chinesas tiveram suas atividades suspensas nas últimas duas semanas por ordem oficial e por isso denunciaram que o governo de Xi Jinping utiliza velhos métodos para evitar a lembrança do aniversário do massacre.

Alheio à polêmica, o presidente passará seu primeiro aniversário do episódio desde que assumiu o poder no México.