A CIA, Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, tornou públicos nesta terça-feira (26) dois arquivos de documentos secretos sobre a atuação da agência em relação às políticas soviética e chinesa e sobre a atividade interna, que detalham alguns dos piores abusos perpetrados pela própria agência entre as décadas de 1950 e 1970.
Em sua página na internet, a CIA permite que sejam lidas mais de 700 páginas de documentos conhecidos como "jóias da família", incluindo a descrição de como a agência de espionagem quis usar um suposto membro da máfia, Johnny Roselli, em uma tentativa de assassinato do presidente cubano Fidel Castro em 1960.
Em entrevista publicada no "New York Times", o analista de inteligência e ganhador do Prêmio Pulitzer James Bamford diz que a abertura dos arquivos não vai trazer grandes novidades além dos detalhes de informações já conhecidas. "Tudo isso já vem sendo amplamente investigado desde os anos 70", disse.
Planos secretos
Os papéis relacionados a Fidel Castro descrevem os esforços da CIA para convencer Johnny Roselli, suposto mafioso, a ajudar a planejar o assassinato do ditador cubano.
A CIA acreditava que Roselli fosse um membro de alto escalão do crime organizado e que controlava todas as máquinas de gelo na área de cassinos de Las Vegas.
Ele foi abordado por um intermediário, Robert Maheu, que achava que Roselli tinha ligações com cubanos no jogo. A história que seria contada a Roselli era que várias empresas internacionais vinham sofrendo fortes perdas financeiras em Cuba por causa de Fidel e que estariam dispostas a pagar US$ 150 mil por sua eliminação.
"Deveria ficar claro para Roselli que o governo dos Estados Unidos não estava, e não deveria estar, ciente da operação", disse o documento.
O plano acabou não se concretizando devido à desistência de um dos envolvidos.
Outra atividade revelada pelos documentos é o confinamento em uma cela especialmente construída, sem nada além de uma cama, de um desertor da KGB, Yuri Ivanovich Nosenko, entre agosto de 1965 e outubro de 1967.
Além disso, está listado o monitoramento de supostos dissidentes e a espionagem de dois jornalistas em Washington dos quais se suspeitava que poderiam estar divulgando informação secreta recebida de "uma série de fontes do governo e do Congresso", entre março e junho de 1963.
Segredos revelados
Esta série de textos foi escrita há 30 anos, quando o então diretor da CIA, James Schlesinger, pediu a seus funcionários - em uma das cartas reveladas nesta terça-feira (26) -que lhe detalhassem "qualquer atividade que esteja ocorrendo, ou tenha ocorrido, que possa ser interpretada como fora da carta legislativa desta agência".
O diretor da CIA, o general Michael Hayden, adiantou na semana passada que sua agência revelaria os documentos que falam sobre suas atividades ilegais, ordenadas na época por Schlesinger.
As chamadas "jóias da família" oferecem uma visão de "tempos muito diferentes e uma agência muito diferente", explicou Hayden, ao reconhecer que quando o Governo oculta informações, as suposições costumam "encher o vazio (de informações)".
Segundo os Arquivos de Segurança Nacional, um centro de estudos da Universidade George Washington, trata-se da primeira "publicação voluntária de materiais polêmicos" da CIA desde que em 1998 seu então diretor, George Tenet, não cumpriu sua promessa de divulgar dados sobre as operações durante a Guerra Fria.
Até este momento, poucos documentos dos arquivos secretos da CIA, altamente censurados, foram revelados.
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