O bar na região leste de Mossul é um pouco escondido, sem placa na frente e com as cortinas fechadas, mas, em uma noite quente do mês passado, um fluxo constante de clientes cruzou suas portas. Alguns homens, que bebiam muito e estavam animados com o local onde se encontravam, explicaram que eram de Bagdá. "Somos turistas", exclamou um deles. Menos de um ano atrás, Mossul emergiu depois de quase nove meses de batalhas para retomar a cidade do Estado Islâmico (EI).
Agora, em várias partes da cidade, a vida está voltando e a sensação de segurança é palpável. Novos negócios foram abertos, e as pessoas ficam nas ruas até tarde da noite pela primeira vez em anos. Há um sentimento entre todos aqui de que finalmente Mossul está livre de gangues criminosas e facções de islâmicos radicais.
A esperança vai durar?
A vida depois da invasão do EI está cheia de esperança, mas isso vai durar? O bar Noites de Beirute abriu em abril. Em uma noite recente, as músicas da cantora libanesa Fayrouz tomavam a sala cheia de fumaça, criando a ilusão de que poderíamos estar em qualquer outro lugar.
Tomar bebidas alcoólicas era estritamente proibido sob o EI, mas, mesmo antes, Mossul já tinha se tornado uma cidade conservadora; os últimos bares e clubes noturnos fecharam logo depois que os Estados Unidos invadiram o Iraque em 2003.
A apenas alguns minutos de distância de carro, a Universidade de Mossul também está trazendo vida e energia de volta à cidade devastada pela guerra. As mentes jovens necessárias para reconstruir um país tão fracionado e destruído estão voltando em grandes números para assistir às aulas na prestigiada instituição fortemente danificada durante dos combates.
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Há pouco tempo, alguns dos primeiros alunos a se formar desde que o EI foi derrotado celebraram freneticamente em um salão ao leste de Mossul. Com as famílias presentes, cada formando desfilou pela festa sob uma chuva de purpurina, ao som de música pop iraquiana.
No dia dos namorados deste ano, a decoração e as manifestações de afeto pareciam excessivas, como se os anos de repressão que as pessoas enfrentaram estivessem explodindo na forma de gigantescos balões com as palavras "eu te amo".
As lembranças da guerra permanecem
Apesar dos sinais do ressurgimento da cidade, as lembranças da guerra e do custo para derrotar o EI ainda são evidentes, especialmente na Cidade Velha, no lado ocidental, o mais danificado de Mossul.
Veículos de civis destruídos e abandonados por toda essa área estão sendo recolhidos lentamente e permanecem como um símbolo quieto e enferrujado da luta terrível. Ao andar em meio aos carros e caminhões empilhados debaixo de um viaduto, é quase possível ouvir o som da guerra que os destruiu.
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Ao lado da recém-construída Ponte Velha, que passa sobre o Rio Tigre, um grupo de jovens coletores de sucata parou um pouco para se refrescar. Alguns dos garotos não sabiam nadar e colocavam pedaços de isopor em suas roupas de baixo para não afundar.
A imagem deles brincando nas águas rasas, sob a ponte de ferro lindamente reformada, contrastava fortemente com as pilhas de escombros sem vida no lado ocidental do rio. Compondo a justaposição estava a certeza de que muitas pessoas foram mortas naquele trecho do rio enquanto tentavam escapar da Cidade Velha no ataque final do verão passado.
As contradições permanecem
Mossul, no entanto, é assim, cheia de contradições. De várias maneiras, pode parecer normal até que você vire uma esquina. Em uma barraca de tiro no meio de um parque de diversões do lado leste do Tigre, Hussain Muthar não errou o alvo nenhuma vez. Ele acertou mais de dez balões coloridos. Cada vez que puxava o gatilho, um sorriso irônico aparecia em seu rosto, sugerindo que não estava surpreso com sua precisão. No verão passado, Muthar foi atirador das forças especiais iraquianas em Mossul ocidental e lutou contra os combatentes do EI.
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Hoje, aquele distrito, o cenário mais sangrento da guerra, ainda está devastado, e centenas de soldados da força especial do Iraque permaneceram na cidade para ajudar a reforçar as equipes de policiais. "Agora estou lotado em Mossul", contou Muthar. "Durante minhas licenças, eu nem vou para casa, em Nassíria; fico aqui e me divirto. Nunca teria feito isso antes."
Em torno dele no parque de diversões, famílias com crianças faziam filas para as poucas atrações que estão funcionando, entre elas uma roda-gigante e carrinhos de bate-bate. "Pensamos muito sobre isso, como tanta coisa mudou e agora tudo está como se nada tivesse acontecido", disse ele.
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