Prédios destruídos após um bombardeio a uma escola em Zhytomyr, Ucrânia.| Foto: EFE/EPA/MIGUEL A. LOPES
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O intenso bombardeio russo em algumas regiões da Ucrânia está levando vilas e cidades a abrirem covas coletivas para enterrar as dezenas de vítimas dos ataques. Este cenário devastador é especialmente presente em Mariupol, uma cidade portuária onde vários destes cemitérios improvisados foram criados nas últimas semanas.

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Uma reportagem da BBC ouviu moradores e autoridades locais descreverem um cenário de destruição. "Não podemos enterrar [as vítimas] em covas particulares, pois elas estão fora da cidade e o perímetro é controlado por tropas russas", disse o vice-prefeito de Mariupol, Serhiy Orlov, por telefone.

De acordo com o conselho da cidade, o número de civis mortos ultrapassa os 2,1 mil. Ao menos 67 corpos foram parar em valas comuns, segundo Orlov. Milhares de moradores estão escondidos em porões e, em alguns casos, disse ele, as pessoas estão enterrando familiares em pátios ou jardins.

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Os limpadores de ruas da cidade e as equipes de reparo de estradas também estão coletando corpos nas ruas, em meio à falta de eletricidade, aquecimento, água, comida e saneamento básico.

Perto da capital Kiev, uma vala comum foi aberta nos arredores de uma igreja na cidade de Bucha, segundo a deputada local Mykhailyna Skoryk-Shkarivska.

Skoryk-Shkarivska contou à BBC que um rito improvisado foi realizado no hospital de Irpin, município próximo tomado por tropas russas, antes do enterro. Nem todos foram identificados e "ninguém sabe exatamente onde estão os parentes", disse ela. "Agora estamos discutindo com voluntários como criar um sistema digital para identificar pessoas e rastrear parentes desaparecidos", contou.

"Meu tio tem 92 anos e até ele comparou com sua infância na guerra", comentou uma entrevistada na matéria, enfatizando que "é importante para nós enterrar parentes tradicionalmente, à maneira cristã, com oração". "Mesmo agora, na guerra, as pessoas às vezes pedem aos padres que façam isso", disse ela.

Apesar dos planos de abrir uma rota segura para a evacuação da população, o bombardeio russo impediu o processo.

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A convivência com as covas comunitárias são um trauma na Ucrânia, um país que guarda lembranças terríveis da Segunda Guerra Mundial, quando centenas de judeus foram dizimados pelos nazistas - o Babi Yar, massacre à bala, foi considerado o primeiro "ensaio" para o Holocausto , e do Holodomor, a Grande Fome imposta pela ditadura stalinista na década de 1930.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]