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Ernesto Cardenal diz que a ciência mostra por que a tirania vai acabar se esfacelando | Driana Zehbrauskas para The New York Times
Ernesto Cardenal diz que a ciência mostra por que a tirania vai acabar se esfacelando| Foto: Driana Zehbrauskas para The New York Times

Ernesto Cardenal é poeta e padre, revolucionário e místico. Seus trabalhos falam de Marilyn Monroe e Charles Darwin, dos conquistadores espanhóis e dos deuses pré-colombianos. Seus escritos estão impregnados de dados científicos.

"A ciência me aproxima de Deus porque descreve o universo e a criação e isso me deixa mais perto Dele", disse o poeta vivo mais famoso da Nicarágua recentemente, a poucas semanas de seu 90« aniversário.

O padre Cardenal está sendo homenageado com uma nova antologia de seus poemas, "Ninety at Ninety", sendo que muitos deles se inspiraram nas dificuldades do século XX, um compromisso com a justiça social baseado na fé e na luta pela soberania nacional.

De boina preta, o padre subiu ao palco do Palacio de Bellas Artes desta cidade, no mês passado, e foi recebido de pé pelo público.

Ali falou da tranquilidade de uma viagem de barco à comunidade agrícola que fundou nas ilhas de Solentiname, no Lago Nicarágua, e reforçou seu assombro pelo conhecimento de que toda a vida se desenvolve a partir de uma única célula.

As leis científicas não são apenas fonte de espanto e reverência para Cardenal; sua força tem outro propósito. E para ilustrar suas palavras, repetiu as estrofes de "Cântico Cósmico", de 1989, épico que contempla a origem do universo: "A Biologia também ensina:/ os animais pacíficos são escolhidos por seleção/ Os grupos assassinos da mesma espécie não prosperam/ (Somozas, Pinochet etc.)".

Para o padre, a ciência mostra por que a tirania vai acabar se desfacelando. "A descoberta do Big Bang – grande explosão da qual nasceu o cosmo – mostrou que estamos em um universo incompleto. É por isso que há evolução".

Nascido em uma família nicaraguense de posses, Cardenal saiu de casa aos 18 anos para estudar Literatura, primeiro no México e depois nos EUA, em Nova York. Ao voltar para seu país, em 1950, apesar de jovem bem-nascido, deu início à luta social: com sua poesia atacou a ditadura Somoza e participou do levante de 1954 só para ver seus líderes serem capturados. Em 1957, optou por entrar para um mosteiro trapista do Kentucky, onde estudou com Thomas Merton, o monge escritor norte-americano.

Ordenado em 1965, voltou novamente para a Nicarágua e fundou a comunidade de Solentiname, que acabou aniquilada pelo governo em 1977, época em que já tinha se unido aos sandinistas. E se tornou ministro da Cultura após o sucesso da revolução, dois anos depois. Sua atuação política foi condenada pelo Vaticano e o Papa João Paulo II lhe tirou o direito de administrar os sacramentos em 1985. Mais tarde, passou a criticar os sandinistas pelo que acreditava ser uma distorção da causa – e continua a condenar as ações do presidente Daniel Ortega.

"A Bíblia está cheia de revoluções. Aliás, os profetas são mensageiros da revolução. Jesus de Nazaré representa sua mensagem revolucionária. Nós continuaremos a mudar o mundo e a agitá-lo. E se essa transformação não der certo, outras virão", diz ele.

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