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Pesquisa

Cientistas aprendem sobre vida em Marte no Deserto de Chihuahua

Por ser árida e inóspita, a região de Cuatro Ciénegas, no deserto mexicano, se aproxima do ambiente que os cientistas acreditam existir em Marte, de temperaturas muito altas | The New York Times
Por ser árida e inóspita, a região de Cuatro Ciénegas, no deserto mexicano, se aproxima do ambiente que os cientistas acreditam existir em Marte, de temperaturas muito altas (Foto: The New York Times)
Amostras colhidas por pesquisadores em Chihuahua |

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Amostras colhidas por pesquisadores em Chihuahua

Estudar Marte envolve quase sempre levantar a cabeça na direção do céu. Mas não no Deserto de Chihuahua, onde as planícies são tão inóspitas – e tão parecidas com o território marciano – que basta aos cientistas olhar para o chão.

Região árida e inóspita ao extremo, Cuatro Ciénegas é habitada por organismos capazes de sobreviver com poucos nutrientes, alta salinidade, temperaturas excepcionalmente altas e muita radiação ultravioleta. Cientistas dizem que tal ambiente lembra Marte bilhões de anos atrás. As dunas de gesso do vale, ofuscantemente brancas sob o sol da tarde, não são diferentes das atuais crateras de Marte, onde o veículo lunar Curiosity, da Nasa, a agência espacial americana, deve pousar em agosto.

Em maio, uma equipe de pesquisadores realizou uma caravana de veículos off-road e dirigiu durante horas através do vale, no estado mexicano de Coahuila, ao norte. Eles procuravam pelos bolsões de água que podem abrigar seu objeto de estudo: micróbios, bactérias e peixes que sobreviveram num ambiente similar ao que os cientistas afirmam ter existido em Marte.

De uma hora para outra, como uma miragem no deserto, um arquipélago de lagoas dispersas brotou do solo. Algumas tinham água azul celeste, acenando para o grupo; outras eram malcheirosas e enlameadas. Algumas eram do tamanho de piscinas olímpicas; outras não eram maiores do que poças de rua.

Estruturas parecidas com couves-flores preenchiam diversas dessas antigas lagoas. Esses fósseis chamam-se estromatólitos, vestígios dos primeiros micróbios da Terra, e podem oferecer um vislumbre de como a vida teria surgido em Marte quando o planeta era mais quente e úmido.

"Se compreendermos as origens desses ecossistemas, podemos extrapolá-los e desenvolvê-los em outros planetas", explicou German Bo­­nilla, estudante de doutorado da Universidade Nacional Autônoma do México, enquanto segurava as pernas de um colega que se inclinava sobre uma piscina para coletar amostras.

Assim como a água em Marte acabou definhando, a água em Cuatro Ciénegas, que segundo alguns cientistas possui uma diversidade biológica que rivaliza com a das Ilhas Galápagos, está ameaçada.

Especialistas e ativistas trabalhando no local afirmam que os agricultores, criadores e outros proprietários de terras da região, ajudados por uma falta de supervisão governamental, possuem acesso livre às águas de Cuatro Ciénegas – que são internacionalmente reconhecidas como zonas úmidas de grande importância.

"O problema é que eles não têm como mensurar quanta água é extraída", declarou­­ Arturo Contreras, diretor do­­ Centro de Investigação Cien­­tífica de Cuatro Ciénegas, es­­tação de pesquisa afiliada­­ à Universidade do Texas. "Acre­­ditamos que a maioria retira mais água do que deveria."

Evan Carson, biólogo da Universidade do New México, tinha um ar abatido enquanto caminhava entre arbustos esparsos, carregando uma rede de pesca. Carson estuda a recuperação de peixes aqui, mas não teve muito para inspecionar.

"Costumávamos nadar aqui", contou Valeria Souza, cientista da Universidade Na­­cional Autônoma do México, enquanto caminhava por um campo de gesso com rachaduras cobrindo o solo como cicatrizes.

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