São Paulo (Fapesp/AE) Que tal um licor de amora-preta (Rubusspp)? Ou ingerir vitamina C, proteínas e lipídios a partir do pólen da taboa (Typha domingensis), planta considerada praga nos brejos do Brasil? Os cientistas estão cada vez mais atentos aos chamados recursos alimentares subexplorados. Além de alimentar muita gente, eles podem ser a saída econômica para várias regiões do mundo, principalmente para os pequenos produtores.
"Em média, apenas cem espécies vegetais num universo de 17 mil são ingeridas", disse Valdely Kinupp, pesquisador de plantas alternativas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O tema foi debatido no 56.º Congresso Brasileiro de Botânica, realizado semana passada, em Curitiba.
"Em minha tese, pretendo fazer testes laboratoriais para saber sobre a citotoxidez das espécies. Mas é bom lembrar que até algumas espécies de feijão, se não forem corretamente preparadas, são tóxicas", disse Kinupp, que vai lançar um livro sobre botânica gastronômica. Ao defender tese do imperialismo gastronômico-alimentar, ele diz que "das espécies consumidas hoje no mundo, 52% vieram da Eurásia. Dos neotrópicos (região da América Latina), apenas 18%". Segundo o trabalho do cientista argentino Eduardo Rapoport, que também veio ao congresso, a regra não vale para as espécies ornamentais. "Dessas, 43% saíram da América Latina e apenas 10% da Europa e da Ásia."
No congresso, além da taboa e da amora-preta, foram mostrados os potenciais alimentícios da ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), hortaliça nutritiva com até 25% de proteína que em algumas regiões, como Minas Gerais, é bastante conhecida das cozinheiras.
"Precisamos reverter o caminho que foi tomado. Escolhemos a especialização alimentar em vez da diversificação", explica Kinupp.
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