Por que o cheiro de um homem suado pode parecer agradável pra uns e repulsivo para outros? A resposta pode ir além do gosto individual. Pesquisadores do Centro de Medicina da Universidade Duke demonstraram que variações genéticas associadas a receptores de odor localizados no nariz determinam como um cheiro é percebido.
Coordenado pelo especialista em genética molecular Hiroaki Matsunami, o estudo foi publicado na versão online da revista Nature. Os cientistas se concentraram na análise de duas substâncias - androstenone e androstadienone - produzidas naturalmente pelo corpo com a queda do hormônio sexual masculino, e encontradas no suor e na urina.
- Nós descobrimos que variações genéticas de um receptor de odor específico determinam, num grau significativo, por que as mesmas substâncias parecem agradáveis ou desagradáveis para pessoas diferentes - disse Matsunami. - Esses resultados demonstram a primeira ligação entre o funcionamento de um gene de receptores de odor humanos e a maneira como um odor é percebido.
Os humanos têm cerca de 400 receptores de odor no nariz que detectam diversos odores ou substâncias. Em geral, diferentes cheiros são associados a um receptor correspondente e, em seguida, a informação é processada pelo cérebro. No estudo de Matsunami, o objetivo era analisar as reações ao androstenone e ao androstadienone - derivados do hormônio sexual masculino com efeitos afrodisíacos, segundo outras pesquisas. Pesquisadores testaram em laboratório todos os receptores de odor conhecidos até hoje, e um deles reagiu às duas substâncias.
Em conjunto com a Universidade Rockfeller, os cientistas pediram então que 391 voluntários inalassem as duas substâncias e descrevessem seu cheiro. As respostas variaram de "nenhum cheiro" a "baunilha", "doce", "enjoativo" e "urina". Em seguida, os pesquisadores analisaram o DNA extraído de amostras de sangue de cada voluntário.
- Depois de fazer análises genéticas em cada uma das amostras e de combinar os resultados com a descrição dos cheiros, nós fomos capazes de associar as variações genéticas com as percepções específicas - disse Matsunami. - Enquanto muitas teorias sobre as diferenças de percepção se concentram em questões culturais, experiências ou memórias, nossos resultados mostram que uma importante parcela dessa variedade está associada aos genes de um indivíduo.Pesquisa importante para o debate sobre feromônios em humanos
O pesquisador acrescentou que os resultados também são importantes para o debate sobre a existência de feromônios em humanos. Feromônios são sinais químicos exalados por animais que podem expressar alerta, disposição para o acasalamento ou indicações de localização. Eles são considerados capazes de provocar mudanças de comportamento naqueles que percebem o cheiro.
- Os odores de asteróides sexuais que nós testamos em humanos agem como feromônios em porcos, e se discute se essas substâncias agem de forma similar em humanos - disse o coordenador da pesquisa, que planeja realizar estudos complementares para entender como as substâncias podem afetar o comportamento sexual humano. - Há evidências de que esse cheiro pode afetar o humor e o estado fisiológico de homens e mulheres.
Matsunami ressaltou que há outros receptores que podem ter um papel importante na percepção dos dois odores analisados. Segundo ele, como há cerca de 400 receptores específicos, capazes de detectar mais de 10 mil odores diferentes, diferentes combinações de genes e variações podem estar envolvidas na percepção de cada odor.