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Biodiversidade

Cientistas flagram formação de novas espécies de peixe "ao vivo"

Macho de ciclídeo que vive em águas claras, onde as espécies são bem diferenciadas... | Divulgação
Macho de ciclídeo que vive em águas claras, onde as espécies são bem diferenciadas... (Foto: Divulgação)

É a prova definitiva de que a beleza está nos olhos de quem vê, ao menos se você é um peixinho africano. Uma equipe internacional de pesquisadores mostrou que a diferenciação entre duas espécies que vivem num lago provavelmente aconteceu porque uma delas precisa enxergar melhor a cor vermelha, enquanto outra tem de otimizar a visão do azul. Com isso, machos vermelhos ou azuis se tornaram os preferidos, dependendo do ambiente, o que teria iniciado o processo de especiação, ou seja, de formação de espécies.

A simpática pesquisa, coordenada por Ole Seehausen, da Universidade de Berna (Suíça), está na edição desta semana da revista científica britânica "Nature". Seehausen e seus colegas de três continentes resolveram meter a mão numa cumbuca antiga: será que duas populações de animais podem se transformar em espécies distintas sem barreiras geográficas (como um rio ou uma montanha) entre elas? Segundo os pesquisadores, a resposta para os peixinhos do lago Victoria (que fica entre o Quênia, a Tanzânia e Uganda, na África Oriental) é sim.

A chave está nas diferenças de profundidade das águas onde vivem os ciclídeos Pundamilia pundamilia e Pundamilia nyererei. Os ciclídeos do lago Victoria são famosos por suas cores deslumbrantes, o que os levou a freqüentar aquários de água doce do mundo inteiro, e pelo aparecimento de centenas de espécies no lago em poucas centenas de milhares de anos, fenômeno único no planeta. Acontece que as duas espécies mencionadas acima são diferentes na cor nupcial de seus machos: a P. pundamilia tem machos azuis-acinzentados, enquanto os rapazes P. nyererei são amarelos, com dorso vermelho-escarlate. Os machos vermelhos vivem em águas mais fundas, onde é mais fácil perceber a cor vermelha, enquanto os azuis ficam no raso, onde a coloração azulada aparece mais.

A sugestão óbvia era a seguinte: será que a diferenciação justamente por causa da profundidade da água, levando as fêmeas a preferirem os machos de cor mais marcante em cada ambiente para acasalar conforme o tempo passava? Para isso, os pesquisadores precisavam testar a capacidade dos peixes de perceber essas cores. E eles acharam um jeito esperto de fazer isso: avaliando genes dos bichos que contêm a receita para uma proteína essencial dos receptores de luz nos olhos.

O que acontece é que certas variantes dessas proteínas são otimizadas para captar a faixa do azul, enquanto outras captam melhor a do vermelho. E, ao examinar o DNA de centenas de peixes, os pesquisadores acharam justamente a correlação esperada: bichos que vivem no fundo e cuja população tinha machos avermelhados tinha visão adaptada para enxergar mais o vermelho, e a mesmo acontecia para águas rasas e a visão do azul. O mais provável é que as necessidades visuais tenham enviesado a noção do belo entre as fêmeas. Ao longo do tempo, as de águas fundas só se acasalavam com os machos vermelhos, e as de águas rasas só tinham bebês com os azuis, sacramentando a separação.

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