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Os cientistas que ressuscitaram o vírus da gripe espanhola disseram nesta quarta-feira que estão começando a entender por que ele causou uma epidemia tão mortal, com cerca de 50 milhões de vítimas fatais, e advertiram que a pandemia pode se repetir.

Eles começaram a comparar as mutações genéticas da gripe de 1918 com as que estão sendo observadas no vírus H5N1, da gripe aviária - que já matou milhões de aves, além de alguns seres humanos, na Ásia -, na esperança de conseguir prever e talvez prevenir uma pandemia semelhante.

- Achamos que tínhamos de recriar o vírus e realizar essas experiências para compreender as propriedades biológicas que tornaram a variante de 1918 tão mortal - disse Terrence Tumpey, dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) em Atlanta, que ajudou a escrever as reportagens publicadas em conjunto esta semana pelas revistas 'Nature' e 'Science'.

O experimento, no qual o vírus foi recriado através de um processo chamado gen ética reversa, com amostras do vírus de 1918, permitiu aos pesquisadores testá-lo em laboratório e em vários animais.

O estudo vai ajudar a responder dúvidas importantes, disse Jeffery Taubenberger, do Instituto de Patologia das Forças Armadas em Rockville, Maryland.

- Como o vírus passou para os seres humanos e como a pandemia começou? A segunda questão é compreender por que esse vírus em particular foi tão virulento - disse Taubenberger a repórteres numa entrevista por telefone.

- O que podemos aprender em cima do que ocorreu em 1918 para nos prepararmos para uma futura pandemia de influenza? - perguntou ele.

Taubenberger afirmou que é possível criar vacinas que tenham como alvo as mutações observadas na pesquisa.A equipe utilizou fragmentos do vírus retirados de amostras preservadas das vítimas da epidemia, e também do cadáver de uma vítima retirado de um túmulo congelado no Alasca em 1998.

Com esses fragmentos, fizeram uma réplica do vírus de 1918 e trouxeram-no de volta "vida" - os vírus não estão exatamente vivos, como os outros micróbios - combinando-o com fragmentos de vírus modernos da gripe e cultivando-o em bactérias.

- Acreditamos hoje, com a melhor interpretação dos dados disponíveis, que o vírus de 1918 era um vírus semelhante ao aviário que se adaptou nos seres humanos - disse Taubenberger.

Isso o torna diferente dos vírus que provocaram as outras duas pandemias de gripe do século XX em 1958 e em 1967. Naqueles casos, vários vírus de gripe trocaram genes entre si e se tornaram especialmente virulentos.

- Os dados indicam que as pandemias podem se formar de mais de uma maneira - afirmou ele.

Houve várias alterações em cada gene do vírus de 1918, disse Taubenberger, e o vírus da gripe aviária está começando a apresentar algumas dessas alterações, mas o processo parece estar no princípio, afirmou.

As conclusões reforçam a preocupação das autoridades de saúde com o vírus H5N1, que ainda não infecta os seres humanos com facilidade, mas que já matou mais de 60 pessoas em quatro países da Ásia. São necessárias apenas algumas mutações para que o vírus que matou milhões de pássaros se torne tão infeccioso e mortal quanto entre os seres humanos.

Mas agora os cientistas estão começando a entender quais são essas mutações, e podem começar a tentar produzir drogas e vacinas para combatê-las.

- Identificamos várias proteínas do vírus que foram essenciais para o desenvolvimento da doença pulmonar grave - disse Tumpey.

A principal, afirmou, foi uma proteína chamada hemaglutinina - o "H" dos nomes dos vírus da gripe. Quando a hemaglutinina do vírus de 1918 foi substituída pela hemaglutinina da gripe moderna, o vírus resultante não foi mortal.

Uma outra proteína, a neuraminidase, sofreu mutação no vírus da gripe espanhola de modo a conseguir se replicar sob condições incomuns, talvez numa área mais profunda do pulmão que outros vírus da gripe. A neuraminidase responde pelo "N" dos nomes das gripes.

A gripe espanhola foi uma H1N1, bem diferente da H5N1, ressaltaram os pesquisadores. Eles também afirmaram que suas experiências não trazem nenhum perigo, pois estão sendo realizadas em laboratórios especiais.

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