O Bardarbunga, um dos maiores vulcões da Islândia, vem cuspindo lava desde 29 de agosto; não se sabe quanto tempo a erupção vai durar ou que grau de violência ela poderá alcançar| Foto: Stefano Di Nicolo/Associated Press

Logo ao norte de Skaftafell, do outro lado do manto de gelo de Vatnajokull, a lava era expelida por uma fenda nas encostas de um dos maiores vulcões da Islândia, o Bardarbunga.

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Pelos padrões de vulcanólogos, era uma erupção pacífica: a lava apenas se espalhava pela paisagem, expelindo gases borbulhantes. Mas os cientistas também sabiam que o topo do Bardarbunga poderia entrar em erupção explosiva a qualquer momento.

Se isso acontecesse, a erupção poderia expelir nuvens de fumaça no céu que poderiam fechar o tráfego aéreo na Europa.

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As erupções vulcânicas estão entre os eventos mais cataclísmicos da Terra, e entender como e quando podem acontecer pode ser crucial para salvar vidas e reduzir danos materiais. "Os vulcões são muito difíceis de prever, porque não são nada lineares", disse o geofísico Pall Einarsson, da Universidade da Islândia. "Podem decidir de repente fazer algo diferente."

Einarsson estuda os terremotos que geralmente acompanham a atividade vulcânica. O monitoramento sísmico é essencial para ajudar a determinar se e quando uma erupção vai ocorrer e como ela vai proceder.

Os cientistas também estudam a deformação da superfície de um vulcão —sinal de pressão crescente em seu interior—, usando para isso unidades de GPS e radar baseado em satélite. Além disso, monitoram os gases e outros indicativos, como o derretimento de neve.

"Idealmente, é possível combinar dados de muitas disciplinas para prever a erupção de um vulcão", disse Stephanie Prejean, geofísica do Instituto Geológico dos Estados Unidos, no Observatório Vulcânico do Alasca.

De acordo com ela, desde que os vulcões são sistematicamente monitorados, ou seja, nos últimos dez anos, o observatório fez previsões corretas de erupções em cerca de dois terços dos casos. Na Islândia, os cientistas vêm tendo mais ou menos o mesmo índice de êxito, disse Einarsson.

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Erupções inesperadas podem ser mortíferas. No Japão, 57 pessoas que faziam caminhadas no monte Ontake em setembro morreram quando, de uma hora para outra, o vulcão começou a expelir cinzas, carvão queimado e rochas quentes. Os vulcanólogos acreditam que, naquele caso, o magma crescente alcançou um lençol freático, que se vaporizou e provocou a explosão. Não havia sinais de que uma erupção fosse iminente.

No caso da Islândia, em meados de agosto, os cientistas já sabiam que alguma coisa estava acontecendo no Bardarbunga, que tinha entrado em erupção pela última vez em 1910. Sismômetros começaram a registrar inúmeros abalos pequenos, que chegaram aos milhares, no lado norte do vulcão.

Era o sinal de que o magma estava começando a penetrar numa fissura abaixo da superfície.

No dia 29 de agosto, o magma chegou à superfície na encosta norte do Bardarbunga. O magma —que se chama lava quando está acima da superfície— jorrou em jatos. A erupção continua desde então. Até o final do ano, a lava já tinha se espalhado por uma área de 78 quilômetros quadrados.

Até agora, a erupção se mantém efusiva, como dizem os vulcanólogos: a lava é suficientemente fina para que os gases borbulhem para fora com pouca força explosiva.

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Uma possibilidade é que a erupção atual acabe aos pouquinhos, à medida que a fonte de magma se esgota. Mas existem outras possibilidades. Bardarbunga fica no centro de um sistema de vulcões e, segundo Einarsson, "tem um histórico de afetar seus vizinhos".

Existe a chance de a erupção desencadear uma erupção no vizinho vulcão Askja, embora não pareça muito provável.

Um motivo de preocupação maior é o que está acontecendo na cratera do Bardarbunga, o vale no alto da montanha que está repleto de magma endurecido expulso por atividade eruptiva anterior e coroado por uma camada de gelo de até um quilômetro de espessura.

Os dados mostram que esse magma endurecido, que atua como tampão, está afundando à velocidade de um metro a cada três dias, provavelmente à medida que o magma quente mais abaixo escapa pela fissura ao norte. "Por enquanto, o sistema parece estar relativamente estável", disse Einarsson. "Mas é quase certeza que essa situação não possa se manter por muito tempo."

Se o tampão rachar, o magma quente abaixo dele terá um caminho mais fácil para chegar à superfície —uma subida reta—, onde se combinará com o gelo para gerar uma explosão hidromagmática.

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Tal explosão pode criar uma enorme nuvem de cinzas que pode dificultar as viagens aéreas, como aconteceu na erupção de outro vulcão em 2010. Seus efeitos sobre o entorno também podem ser catastróficos, com água glacial derretida se acumulando na cratera até transbordar, gerando uma inundação imensa.

Isso já aconteceu incontáveis vezes na história geológica da Islândia, e foi o que criou o estranho Skeidararsandur, o imenso delta ao oeste de Skaftafell que se parece com a superfície da Lua.

O Skeidararsandur pode receber a maior parte de uma inundação outra vez, ou as águas podem fluir para o norte ou até mesmo para o oeste.

Essa última possibilidade é especialmente preocupante, porque várias barragens hidrelétricas responsáveis por gerar boa parte da eletricidade do país poderiam ser danificadas ou destruídas.

"Nunca é possível ter certeza absoluta quando se fazem previsões sobre vulcões", disse Einarsson.

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