Nova Iorque – A grande cena faz cinco anos nesta segunda-feira, mas está bem viva na memória de todos. Os dois imensos aviões mergulhando com 157 pessoas nas duas torres de concreto, a fumaça negra pairando sobre a ilha, fuligem entupindo as ruas, gente se atirando lá do alto, olhares desesperados, por fim, o desabamento espetacular das duas torres. Em pouco mais de duas horas daquela manhã ensolarada de setembro, 19 militantes da Al Qaeda, com seus quatro aviões seqüestrados, deram fim à vida de 2.973 vítimas e viraram do avesso a vida norte-americana.

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Desde então, garantem os estudiosos – e concordamos todos –, o mundo não é mais o mesmo. Nesses 1.826 dias, o ritmo da violência política aumentou – foram mais de 18 mil ações dos grupos radicais, com cerca de 30 mil mortos – 9,8 atentados e 16,7 mortos por dia (a média mundial era de 3,1 atentados e 2,1 mortos/dia em 2000). O terror trocou as embaixadas pelos metrôs, aviões por restaurantes e plantou o medo em cada esquina, como uma companhia diária de todos. A obsessão por segurança tornou-se prioridade de governos, pessoas e empresas.

Nesse mundo marcado pelo medo – que, para sorte dos brasileiros, é bem mais presente lá fora –, mais de 4 mil sites na internet ensinam qualquer um a fazer bombas. Aviões interrompendo sua rota e voltando às bases são outro desconforto incorporado à rotina: nos últimos dez dias, só como exemplo, pelo menos três deles regressaram à pista em Londres, Amsterdã e Miami. Viagens de turismo perderam o encanto, as filas nos aeroportos inspiram tensão e cansaço. A cada ano, as grandes potências – Estados Unidos, Japão, Grã-Bretanha, França, Alemanha – consomem em segurança uma montanha de dinheiro já superior a US$ 600 bilhões.

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Tensão

A essa obsessão por segurança corresponde, na outra ponta, a um grande estrago na democracia. A vigilância, principalmente nos Estados Unidos e em algumas capitais da Europa, espalha-se pelas vidas privadas, multiplica os suspeitos, abre sigilos bancários, grampeia telefones.

A segunda marca do mundo pós-2001 é a nova natureza do terror. Ele não está forte, garantem alguns; está mais fluido, mais próximo. Precisa mais de engenheiros químicos do que de pistoleiros de boa pontaria, mais de doleiros com bons contatos do que de chefões valentes. Seu objetivo agora não é eliminar grandes líderes, mas assustar as multidões. O que ele quer é mostrar que, num mundo que não lhe agrada, ninguém mais pode viver em paz.

Terceiro, o mundo convive agora com um império onipotente, os Estados Unidos, e assiste, em reação, a um antiamericanismo crescente. O presidente George W. Bush sentiu-se com força para impor uma guerra preventiva – contra qualquer nação que, a seu ver, possa representar perigo para os EUA. Ignorou as Nações Unidas e invadiu o Iraque tendo ao seu lado apenas o governo de Tony Blair, da Grã-Bretanha. Foi a senha de que os radicais do mundo islâmico, e não apenas a Al Qaeda, precisavam para fortalecer sua cruzada contra o Ocidente, em especial os americanos.

"Passados cinco anos, a Al Qaeda não parece capaz de levar adiante as suas ameaças", diz o estudioso Fawaz Gerges, do Centro de Estudos do Oriente Médio, no Sarah Lawrence College, em Washington. Segundo ele, isso ocorre porque o 11 de Setembro "destruiu a possibilidade de um trabalho em conjunto dos jihadistas internacionais e locais – e a ala global do movimento foi a perdedora". Gerges defendeu essa tese em um debate realizado na semana passada pela revista Foreign Affairs. No mesmo encontro, outro analista, James Fallows, da revista Atlantic Monthly, ponderou que "os americanos não precisam comportar-se como se esta fosse a maior ameaça ao país, porque ela não é". Uma terceira voz no debate, Jessica Stern, da Escola de Governo John Kennedy, de Harvard, advertiu que a luta americana é militar e a da Al Qaeda é de idéias. O grupo de Bin Laden, diz ela, não quer, simplesmente, matar americanos, mas "arrastar a América para um conflito em larga escala com o mundo muçulmano", deteriorando o poder e o prestígio americanos "e separando os EUA de seus aliados". Há muitos sinais para sugerir que é a Al Qaeda que está ganhando essa guerra.

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