Com o segundo ano da pandemia de Covid-19 desafiando gestores em todos os níveis de poder, milhões de pessoas foram às urnas no ano que terminou nesta sexta-feira em processos eleitorais em que temas como combate ao novo coronavírus e questões climáticas, econômicas e sociais tiveram peso decisivo.
Enquanto na América do Sul a polarização política se fez sentir em disputas acirradas, em Israel e na Alemanha, democracias parlamentaristas, líderes de longa data deixaram o poder. Porém, na Nicarágua e em outras partes do mundo, a mão pesada de regimes repressivos garantiu que nada fosse mudado e que a democracia continuasse restrita ao discurso de quem apenas busca se perpetuar no poder. Confira algumas das eleições mais marcantes de 2021:
Israel
As eleições parlamentares em Israel, realizadas em março e que levaram a formação de um novo governo em junho, puseram fim a uma crise política de mais de dois anos.
O Likud, partido do então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, foi o mais votado em março, mas não conseguiu formar um governo. Os oposicionistas Yair Lapid, líder do partido centrista secular Yesh Atid, e Naftali Bennett, da aliança de direita Yamina, anunciaram um acordo uma hora antes do fim do prazo – sem essa coalizão, seria necessária uma nova eleição, a quinta desde abril de 2019.
No acordo que pôs fim à gestão de 12 anos de Netanyahu, Bennett será o primeiro-ministro de Israel até 2023, enquanto Lapid ficará à frente do Executivo durante os dois últimos anos do mandato.
Alemanha
Outra democracia parlamentarista que viu chegar ao fim uma era de mais de uma década foi a maior economia da Europa.
Em dezembro, Olaf Scholz, líder do Partido Social Democrata (SPD), tornou-se chanceler alemão após 16 anos de Angela Merkel no poder. Em setembro, a sigla de Scholz havia vencido as eleições parlamentares alemãs com 25,7% dos votos, uma margem estreita sobre a aliança União Democrata-Cristã/União Social-Cristã (CDU/CSU) de Merkel, liderada por Armin Laschet, que obteve 24,1% dos votos.
Nos meses seguintes, o ex-prefeito de Hamburgo formou uma coalizão com os partidos Verde e Democrático Liberal (FDP) para governar a Alemanha pelos próximos quatro anos.
Nicarágua
Num ano em que processos eleitorais na Rússia (para a Duma, a câmara baixa do parlamento), Venezuela (locais e regionais) e Hong Kong (para a assembleia legislativa) foram condenados internacionalmente pelas restrições a participantes e indícios de fraudes, a reeleição do ditador Daniel Ortega para um quinto mandato de cinco anos na Nicarágua, o quarto consecutivo, chamou a atenção não só pelas costumeiras prisões de opositores e ausência de observadores, mas por suas consequências.
A Nicarágua deixou a Organização dos Estados Americanos (OEA) após esta criticar o processo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, proibiu a entrada no país de Ortega e outros integrantes do governo do país centro-americano e Manágua deixou de reconhecer Taiwan diplomaticamente, o que sinaliza uma aproximação maior com a China.
Houve constrangimento no Brasil, também: o PT retirou do ar uma nota parabenizando o ditador e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionou por que Angela Merkel “pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não?”.
Argentina
Se eleições em meio de mandato, como ocorre nos Estados Unidos, indicam perspectivas ruins para um presidente que busca a reeleição, as eleições parlamentares na Argentina (que renovaram metade da Câmara e um terço do Senado), realizadas em novembro, apontaram que o peronista Alberto Fernández terá dificuldades para obter um segundo mandato em 2023.
A coalizão Juntos pela Mudança, do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), venceu a governista Frente de Todos na maior parte da Argentina. O peronismo perdeu a maioria no Senado pela primeira vez desde a redemocratização, em 1983, e na Câmara agora tem 118 assentos, apenas dois a mais que a Juntos.
Apesar do investimento em políticas sociais para mitigar a crise gerada pela pandemia de Covid-19 e da perspectiva de crescimento econômico de 9% este ano, a inflação acumulada nos primeiros 11 meses foi de 45,4% na Argentina (enquanto a projeção do governo para 2021 inteiro era de 29%) e 43,8% da população urbana vive na pobreza – em 2019, no pré-pandemia, o patamar estava em 39,8%.
Chile
Em dezembro, o ex-líder estudantil Gabriel Boric “desempatou” para a esquerda o placar das eleições presidenciais na América do Sul em 2021: com uma vitória de 12 pontos percentuais sobre o advogado conservador José Antonio Kast, ele se tornou o presidente mais jovem da história chilena (tem 35 anos) no mesmo ano em que o conservador Guillermo Lasso foi eleito no Equador e o esquerdista Pedro Castillo venceu no Peru.
Dizendo-se defensor de um modelo de bem-estar social, Boric terá que driblar a desconfiança do mercado e pacificar o país, cuja vida pública vem abalada desde as manifestações sociais de 2019 (nas quais obteve projeção), que levaram à eleição de uma assembleia constituinte. A proposta de nova constituição será votada em plebiscito no primeiro ano de mandato do presidente esquerdista.
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