As consequências da crise econômica, humanitária e política da Venezuela têm sido dramáticas: uma economia em queda livre. Escassez de alimentos. Crises na saúde. Milhões de pessoas deslocadas. A crise chegou a um ponto de virada na quarta-feira (23), quando o líder da oposição Juan Guaidó se declarou presidente interino. Os Estados Unidos e outros países reconheceram seu novo papel, embora o presidente Nicolás Maduro tenha se recusado a renunciar. Esses gráficos ajudam a explicar como o país chegou a esse ponto.
Colapso da economia do petróleo
A Venezuela abriga as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo. Mas nos últimos anos, a má administração generalizada de sua riqueza petrolífera causou um declínio acentuado em sua produção e exportação de petróleo, prejudicando profundamente a economia do país, à medida que a Venezuela desceu ao caos político.
Apenas alguns anos depois da posse de Hugo Chávez, em 1999, ele demitiu milhares de funcionários da estatal Petróleos da Venezuela, após uma greve polêmica. Isso basicamente excluiu da companhia seus especialistas em produção de petróleo e os substituiu por pessoas que lhe eram leais.
Então, em meados da década de 2000, quando os preços do petróleo estavam altos, Chávez injetou a receita do petróleo do país em programas de bem-estar social, inclusive colocando os preços domésticos da gasolina tão baixos que o consumo disparou. O plano era insustentável. Quando os preços globais do petróleo caíram de mais de US$ 100 o barril em 2014 para menos de US$ 30 no início de 2016, os problemas econômicos do país se aprofundaram.
"Foi quando vimos a má gestão econômica dos últimos anos, combinada com uma queda realmente dramática nos preços do petróleo, realmente começar a prejudicar a economia da Venezuela", disse Sarah Ladislaw, diretora do programa de energia e segurança nacional do Centro para Estratégias e Estudos internacionais.
Nos últimos seis anos, o produto interno bruto da Venezuela caiu pela metade, de acordo com novas projeções divulgadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em janeiro.
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Como a situação econômica da Venezuela piorou, os investidores recuaram, preocupados que o governo não seria capaz de pagar suas dívidas. "Esse declínio que assistimos nos últimos três anos foi em virtude do fato de as pessoas não reinvestirem na nova produção de petróleo na Venezuela há muito tempo", disse Ladislaw.
Hiperinflação
A inflação na Venezuela tem andado de mãos dadas com a impossibilidade das pessoas comuns de comprar bens básicos. Com o aumento dos preços, comida e medicamentos ficaram fora do alcance de muitos venezuelanos, que chegaram à conclusão de que não tinham outra opção a não ser ir embora.
No ano passado, Maduro implementou um novo plano para apagar cinco zeros da moeda do país – sua tentativa de enfrentar o crescente problema da inflação.
"Antes do anúncio de Maduro na sexta-feira, por exemplo, um quilo de pêssegos custava cerca de 1,1 milhão de bolívares", escreveram Anthony Faiola e Rachelle Krygier, em agosto, no Washington Post. "Na terça-feira, os preços quase dobraram, chegando a 2,1 milhões de bolívares, ou 21 novos bolívares".
No final do ano passado, o Fundo Monetário Internacional estimou que a taxa de inflação do país chegaria a 1,37 milhão por cento até o final de 2018. Para 2019, a previsão do FMI sugere que a inflação poderia chegar a 10 milhões por cento.
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Nem todos os economistas concordam com os números do FMI. Steve Hanke, professor da Universidade Johns Hopkins que mede hiperinflação, que ocorre quando a taxa de inflação mensal chega a 50%, disse em julho de 2008 que "você não pode prever o curso e a duração das hiperinflações", e disse que as estimativas do FMI são "irresponsáveis".
Na Forbes, Hanke escreveu que a hiperinflação anual da Venezuela atingiu 80.000 por cento em 2018, chamando-a de "devastadora", mas não tão extrema quanto as previsões do FMI.
Contratempos na saúde
A Venezuela já fez progressos significativos na redução de sua taxa de mortalidade infantil e prometeu fazer ainda mais. Mas uma pesquisa publicada nesta quinta-feira na revista Lancet Global Health estimou que a taxa de mortalidade infantil na Venezuela aumentou de 15 mortes por mil nascidos vivos em 2008 para 21,1 em 2016. A autora do estudo, Jenny García, disse ao jornal que a Venezuela "perdeu 18 anos de progresso ".
Ela e seus colegas culpam o declínio nos cortes no financiamento de assistência médica. E eles esperam que, à medida que surjam novos dados para 2017 e 2018, a taxa só continue a subir, já que a Venezuela tem tido dificuldades na luta contra o ressurgimento de doenças como poliomielite e difteria, que antes eram controladas.
O modelo que eles usaram era "conservador", disse Garcia, acrescentando que ela "está certa de que será pior do que o que estamos mostrando".
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População em fuga
Todos esses fatores contribuíram para as decisões dos venezuelanos de deixar o país, causando uma das maiores crises de migração na história da região. O peso caiu sobre os países vizinhos. A Colômbia enviou tropas para suas fronteiras após centenas de milhares de venezuelanos cruzarem o país no início de 2018. Os migrantes incluíam muitos profissionais: professores e médicos que não podiam mais se alimentar ou alimentar suas famílias na Venezuela.
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