Enquanto peritos analisam o conteúdo da caixa-preta do avião russo que caiu no sábado (31) na Península do Sinai, no Egito, matando 224 pessoas, crescem rumores sobre uma possível explosão na aeronave -- muitos a ligam a uma ação terrorista.
Segundo informações de um oficial norte-americano à NBC, nesta terça-feira (3), um flash de calor foi observado por satélites infravermelhos no mesmo local e no momento em que se registrou a queda da aeronave.
De acordo com este oficial, da inteligência dos EUA, este clarão pode ter sido causado por uma explosão em alguma parte do avião -- tanque de combustível por exemplo --, como também por uma bomba. Ele descarta, no entanto, que um míssil possa ter causado o desastre, já que ele também seria captado pelo satélite.
Também nesta terça, uma agência russa de notícias disse que sons estranhos foram ouvidos na cabine momentos antes da queda. Segundo o The Guardian, a Interfax teve acesso a transcrições da caixa-preta enquanto peritos egípcios a analisavam.
Uma fonte disse a esta agência que “sons que não são característicos de uma rotina normal de voo foram gravados no momento em que o avião desapareceu do radar”. Isso indica que pode ter acontecido algo de forma repentina e inesperada e que tenha culminado na tragédia.
O não recebimento de um pedido de socorro e o fato de os destroços estarem espalhados por uma grande área também causam estranheza e sugerem, para muitos especialistas, uma queda abrupta.
Um grupo militante egípcio sediado no Sinai e aliado ao Estado Islâmico reivindicou responsabilidade no sábado pela queda do avião, afirmando que derrubou a aeronave em resposta à intervenção militar russa na Síria em apoio ao presidente Bashar Al-Assad contra rebeldes, incluindo os do Estado Islâmico.
Informações desencontradas
O Ministério de Aviação Civil do Egito, também nesta terça-feira (3), negou que haja fatos para fundamentar que a aeronave russa se partiu no ar.
O porta-voz Mohamed Rahmi confirmou que não houve pedido de socorro antes da queda, que deixou espalhados por mais de 3 quilômetros os destroços do Metrojet Airbus 321, que levava turistas russos do resort de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho na região do Sinai, de volta para São Petersburgo.
“Não foram gravadas comunicações do piloto pedindo qualquer coisa no centro de navegação”, disse à Reuters.
Rahmi disse que a equipe de investigação --liderada pelo Egito e auxiliada por especialistas da Rússia, da fabricante Airbus e da Irlanda, onde o avião está registrado-- retornou ao local do acidente na manhã desta terça-feira.
Assim que as investigações no local forem finalizadas, provavelmente mais tarde nesta terça-feira, os especialistas irão focar na análise de conteúdo dos gravadores da caixa preta, disse Rahmi.
Fontes no comitê de investigação disseram que os gravadores estão em boas condições e devem conter evidências.
Rahmi disse que ainda não há provas de que o avião se partiu durante o voo. “Este pode ser um longo processo e não podemos falar sobre os resultados enquanto continuamos”, disse.
EI não teria armamento
Enquanto investigadores ainda tentam descobrir as causas do acidente, a companhia aérea russa Metrojet adiantou-se na segunda-feira em culpar fatores externos pelo acidente. As autoridades envolvidas na investigação, no entanto, foram mais cautelosas.
Questionado sobre a possibilidade de ataque terrorista, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, afirmou que nenhuma hipótese pode ser excluída no momento. De Washington, o chefe de Inteligência dos EUA, James Clapper, disse que não havia “sinais no momento” de um ato terrorista.
O premier do Egito, Sherif Ismail, no entanto, afirmou que os jihadistas não possuiriam armamento capaz de atingir um avião a essa altura. O governo dos EUA também considerou improvável que o EI possa derrubar um avião com mísseis. A hipótese de uma bomba a bordo, porém, seria mais plausível.
A agência federal russa de transporte aéreo, Rosaviatsia, no entanto, contestou as primeiras conclusões da Metrojet, que considerou “prematuras e não baseadas em fatos reais”. O avião ia do balneário de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho, a São Petersburgo quando perdeu contato 23 minutos após a decolagem.
“Não há nenhuma razão para tirar conclusões sobre as causas da destruição em voo da aeronave”, declarou o diretor da Rosaviatsia, Alexandre Neradko. “Ainda é necessário muito trabalho na análise dos destroços e das caixas-pretas.”