Os vizinhos de Mike McCabe na área rural de Gillespie, Illinois, o consideram um cara de sorte. Depois de ficar desempregado durante um ano, conseguiu um emprego em janeiro fazendo caixas de papelão na fábrica Georgia-Pacific, onde recebe US$19,60 por hora.
Ele concordaria com os vizinhos, não fosse pelo fato de que, no emprego anterior em uma siderúrgica próxima a St. Louis, ele ganhava US$28 por hora.
“Tive que repensar minha vida toda para que meu salário atual fosse suficiente para pagar todas as contas. A classe média certamente está em crise, e quase ninguém na minha posição tem coragem de dizer isso”, afirmou McCabe.
Os americanos de classe média estão em uma situação muito pior do que os membros da classe média de outras economias avançadas da Europa Ocidental nas últimas décadas, de acordo um estudo publicado recentemente pelo Pew Research Center.
Além disso, como a experiência de McCabe sugere, os autores do estudo do Pew revelaram uma contração geral na classe média norte-americana, ao passo que o total de ricos e pobres aumentou.
“Em comparação com a experiência na Europa Ocidental, a população adulta dos EUA está mais dividida economicamente. Há menos gente na metade do caminho e isso diz muito a respeito sobre a intensidade da desigualdade nos EUA”, afirmou Rakesh Kochhar, diretor associado de pesquisa no Pew.
Por exemplo, entre 1991 e 2010, a proporção de adultos na classe média caiu de 62 para 59 por cento, ao passou que aumentou de 61 para 67 por cento no mesmo período na Inglaterra e de 72 para 74 por cento na França.
As famílias que ganham de dois terços ao dobro da renda média nacional foram consideradas de classe média pelo estudo do centro Pew; nos EUA isso representa uma renda média entre US$35.294 e US$105.881, descontados os impostos, em 2010.
A diminuição da classe média não é necessariamente razão para nos preocuparmos, se a razão for um aumento geral nas rendas, afirmou David Autor, professor de economia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
A porção de pessoas no topo da pirâmide de fato aumentou, mas o mesmo ocorreu com as na base, que passou de 25 para 26 por cento nesse período. Isso é muito mais preocupante, afirmou Autor, que não participou do estudo do centro Pew.
Ademais, o grupo de renda média era menor – e os grupos em ambos os extremos maiores – nos EUA do que em qualquer um dos 11 países da Europa Ocidental incluídos no estudo.
A renda da classe média também aumentou mais rapidamente na Europa do que nos Estados Unidos, de acordo com o Pew.
A média de renda da camada do meio cresceu 9 por cento nos EUA entre 1991 e 2010, comparada a 25 por cento na Dinamarca e 35 por cento no Reino Unido.
Os EUA, incluindo a classe média, possuem uma renda média maior do que toda a Europa, ainda que o continente esteja se aproximando. A renda familiar média nos EUA era de US$52.941 descontados os impostos, enquanto que na Alemanha é de US$41.047, e na França, US$41.076.
Embora a desigualdade esteja se aprofundando, a proporção de famílias de classe média alta aumentou de 13 para 15 por cento.
“Do ponto de vista financeiro, os EUA continuam muito à frente dos países europeus. A diferença é como a renda evoluiu e agora eles estão nos alcançando”, afirmou Kochhar.
Embora o período estudado acabe em 2010, com os números possivelmente prejudicados pela Grande Recessão, ele afirma que isso não foi suficiente para alterar os resultados do estudo.
“Há uma clara tendência de encolhimento da classe média nos EUA, que não está acompanhando o crescimento do grupo de renda mais alta. Há uma aura de redistribuição da renda da classe média para a alta.”
O estudo reconhece que o termo “classe média” pode representar mais do que apenas renda – como formação universitária, trabalho em escritórios, segurança econômica, propriedade de imóveis e até autoimagem –, mas para os propósitos do estudo, a faixa foi definida por renda.
Seja na Europa ou nos Estados Unidos, as mudanças tecnológicas e a globalização passou a permitir que as pessoas se adaptassem e aprendessem novas habilidades, recebendo mais como consequência, afirmou Kochhar.
Desde que fundou a LaSalle Network, uma empresa de RH com sede em Chicago, há 20 anos, Tom Gimbel viu sua projeção de faturamento aumentar para US$70 milhões este ano.
“Conheço muita gente que se deu muito melhor nos últimos cinco anos. Conheço pessoas que trabalham comigo que ganhavam de US$35 mil a US$60 mil anuais há alguns anos e que agora ganham entre US$60 mil e US$150 mil.”
Gimbel, que foi criado em um confortável subúrbio de Chicago, também melhorou de situação. “Não precisávamos de nada em casa, mas meu pai não nadava em dinheiro. Eu estou em uma situação melhor que a dos meus pais.”
Em ambos os lados do Atlântico, a pressão sobre a classe média está gerando frustração com a situação política, além da perda de confiança nas elites.
Assim como seu pai e seu tio, McCabe trabalhava na siderúrgica U.S. Steel em Granite City, Illinois. Mas após o fechamento temporário da fábrica em 2015, ele buscou um novo emprego, ao invés de esperar ser chamado de volta quando a economia melhorasse.
Como resultado, McCabe votou em Donald Trump nas eleições do ano passado, embora tenha crescido em uma casa de eleitores do Partido Democrático. “Meu pai deve estar se revirando no túmulo”, afirmou.
“Mas eu gostei da mensagem de Trump de que ajudaria a classe média a reconquistar os empregos perdidos. Fiquei impressionado quando ele ganhou e passei a noite toda assistindo pela TV”, disse McCabe.
“Não dá para esperar por muito tempo quando você está desempregado e sem opções. Sou divorciado e não tenho filhos. Fico imaginando as dificuldades que as pessoas que têm filhos estão passando.”
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